Corredores da Vida: Aparatos da Inteligência

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(...) No apartamento da gata o clima era outro: a música romântica misturava-se suavemente ao cheiro incrustado de incenso indiano. A luz indireta só dava destaque aos quadros da sala, onde tudo mais se tornava silhueta (...)
Loura andrógina, montagem com recortes de imagens da internet - Bira, 30-07-11.

Corredores da Vida: Aparatos da Inteligência

Amigos!

Quando José entrou no quarto da estrondosa loura seu coração batia mais forte, bombeando o sangue que avermelhava seu rosto e enrijecia seu sexo. Até que enfim, seis meses de abstinência sexual estavam prestes a serem quebrados, desta vez em alto estilo: a mulher de cabelos longos tinha olhos azuis, seios fartos e belas coxas. Conhecera a beldade naquela mesma noite. Foi na balada onde rolou o clima – ou como dizem atualmente – “uma química” entre eles. Ele não sabe direito o que disse para ela e eu acho nem ela sabe o que ouviu com aquela música alta. Mas eles também estavam altos sob o efeito dos drinques. Primeiro trocaram olhares e imitaram gestos um do outro – no ritual da conquista, depois trocaram salivas enquanto dançavam na pista de luzes coloridas.



Surpreendentemente, foi a loura que o convidou para o seu apartamento. Saíram antes da festa acabar, como fazem os noivos nas luas-de-mel.

No apartamento da gata o clima era outro: a música romântica misturava-se suavemente ao cheiro incrustado de incenso indiano. A luz indireta só dava destaque aos quadros da sala, onde tudo mais se tornava silhueta. Seus corpos se encaixaram no sofá macio e entre si, nos beijos e amassos. Logo, a loura o puxou para o quarto.

No quarto da loura, a luz agora forte revelou de cara que o azul dos seus olhos era artificial e quando a mulher desceu do salto, pareceu ter ido para o andar de baixo. “Tudo bem” – pensou: “Ela ainda tinha um rosto lindo entre a moldura dos longos cabelos”, embora se pudesse ver que estava muito maquiada. Quanto aos cílios postiços, são recursos de mulher. Resolveu beijá-la com paixão e o aplique de fios dourados desprendeu-se em suas mãos. A mulher, agora mais baixa e de cabelos curtos, não se intimidou sorrindo do fato, como se conhecesse o Zé há muito tempo. Esboçou uma cara de sedutora e tirou o sutiã. Para espanto do Zé, os supostos peitos fartos se apresentaram como tímidos penduricalhos.

Antes do sexo, a ex-loura-de-cabelos-longos-e-olhos-azuis-e-seios-fartos sussurrou no ouvido do Zé: “Espera um pouquinho que eu vou lá no banheiro e volto, sem calcinha, só pra você!...” Quando ela deu as costas, o agora assustado José não titubeou, vestiu a camisa, guardou o celular e se desembestou do apartamento. Que outra surpresa ele não teria quando a criatura retornasse sem calcinha?...

                                                  *                    *                    *

Cada vez mais, os aparatos constróem a beleza na Loura do Zé e a inteligência no Homem de hoje. HDs de computadores são extensão do cérebro e a internet extensão dos HDs. O homem enciclopédia está perdendo emprego para o homem acessibilidade. O último comercial da Vivo mostra espertamente esta realidade, onde o estagiário Dudu, que não larga o smartphone, é "promovido" a Carlos Eduardo, já que é primeiro a saber de tudo e tira da internet a ideia certa na hora exata.




Quando tudo acontece cada vez mais rápido e os números de telefones dos nossos amigos saem da mente para a memória do celular, continuamos expelindo cada vez mais informação neste sentido. Aparatados como louras gostosonas, corremos o risco de virar simples mensageiros das idéias dos outros - como o Dudu do comercial - e ainda ser promovido por isso.



Quando o Zé e a loura saíram da penumbra da sala para a claridade do quarto, sem aparatos de beleza a realidade surgiu. Talvez fosse melhor se ele transasse no sofá da sala escura, onde todas as gatas são pardas. Ele teria a ilusão que "pegou" uma lindíssima mulher, até que o dia amanhecesse e ilusão acabasse... Tudo bem; a essa altura ele já estaria de ressaca mesmo!...


Abraços!
Bira
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4 comentários:

Bira e a verdadeira pirataria humana que engana os Juses da vida, mas saiu no lucro imagina. José pagando o motel ressaca duraria, huns dois dias.

Na duvida o Ze rapou fora, qualquer um faria isso né Bira...Mas um excelente narrativa parabéns meu amigo Poeta como sempre vc nos surpreendendo.
Um abraço,

Jorge Cerqueira
www.jmaratona.com

Ivone Teixeira disse...

Parabéns pelo texto. Ri muito. Infelizmente vivemos numa "matrix"

Obrigado, Ivone e Jorge!... Resgatei esta postagem que estava meio perdida no blog e poucos haviam lido. Portagens que não falam de corrida, como essa, acabam não sendo muito lidas, já que meus grupos do Face são de corrida e não cabe divulgá-las ali. Abs! Bira.