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Às vésperas de completar 70 anos, a corredora Lindalva Figueiredo me contou sua emocionante história...


Na foto, ela é acarinhada pela filha, Claudinha, em mais um domingo de corrida no Rio - arquivo pessoal
Amigos!

Todas As Idades de Lindalva...

-- Vai fazer seis anos que eu comecei a viver! - enfatizou Lindalva, ao telefone, quando era entrevistada por mim.

Fiquei imaginando sua expressão. A interlocutora tomou fôlego e passou a descrever sua rotina atual:

-- De segunda à sexta eu acordo às cinco da manhã. Depois pego o ônibus e vou para o Leblon ou Copacabana. Treino no Projeto Rio Praia Maravilhosa que tem assessoria esportiva nas areias. Nos finais de semana que não tenho competição, corro da Tijuca até o Horto, o Alto da Boavista ou o Cristo!... Não sinto preguiça - o que tenho que fazer, faço!... Não tenho cansaço!...

Lindalva vai completar 70 anos de vida e eu não poderia deixar de escrever sobre isso. O vigor de sua fala, no entanto, não denuncia os anos passados. Ela fala de sonho e suor como se fossem sinônimos... São os suores de hoje que relata com euforia.

Mas, Os Suores Passados?...

Mas eu também queria saber dos seus suores passados. Daqueles suores gotejados no solo fértil de Timbaúba, município localizado no interior de Pernambuco. Sem dó, fiz Lindalva viajar no tempo. Sair de um paraíso carioca que se descortinou, de fato, aos 64 anos, quando ela começou a correr. Levá-la de volta às durezas de sua terra natal, nas décadas de 50 e 60.

Foi na Zona da Mata pernambucana que Lindalva foi criada, com nada menos que nove irmãos. Logo cedo lhe deram uma enxada - mais precisamente aos cinco anos de idade:

-- Naquele chão dava de tudo!... - relata e complementa: -- Mas em terra de fazendeiro a vida era muito infeliz e sem futuro.

Seu pai não queria que filha mulher estudasse, por outro lado os filhos homens só tinham tempo para trabalhar. Seu pai também não permitia que os rebentos deixassem aquele chão, em busca de algo melhor. Mas um dia aquele chão calou a voz impositora de seu pai... Era início do emblemático 1970 e, antes mesmo que o ano acabasse, Lindalva decidiu deixar a roça.

Cabras, galinhas, rapadura e farofa...

Quando o ônibus da Itapemirim partiu da rodoviária de Timbaúba, rumo ao Rio de Janeiro, eram 11 horas da manhã de sábado, 19 de dezembro de 1970. Dentro dele estava Lindalva, sua mãe, seus irmãos e irmãs casados, juntamente com seus pares. Todos somavam dez. Para que sentassem nas poltronas daquele ônibus venderam cabras, galinhas e juntaram dinheiro. Para trás deixavam uma vida dura e cansativa. Pela frente teriam uma viagem dura e cansativa: a dureza e o cansaço ainda lhes acompanhariam... Vinte e cinco anos de dureza viajavam com Lindalva (e quantos anos duros viajavam com todos os passageiros daquele coletivo?).

As luzes do dia e da noite se revezavam nas janelas da condução. Ali penetrava um vento quente, às vezes fresco, que servia de alento ou respiro. Rapadura e farofa estocada, servia de alimento. Até que todos chegassem no Rio na segunda-feira, 21 de dezembro de 1970.

Pendurado na banca da Rodoviária Novo Rio, o Jornal do Brasil dava destaque ao sequestro de um embaixador suíço, na Glória, com participação do guerrilheiro Carlos Lamarca. Nada daquilo, no entanto, parecia afetar a vida daquele grupo de migrantes. Eles sequer sabiam ler e seu destino final estava bem longe dos bairros da Zona Sul. Rumaram para Inhoaíba, na Zona Oeste - a 60 quilômetros dali. Morariam entulhados numa casa de apenas dois cômodos, onde até então, só morava uma tia de Lindalva. Dormiriam embolados nos lençóis que se espalhariam pelo chão... Até que tudo se ajeitasse.

Logo Lindalva foi trabalhar de doméstica em Campo Grande, mas ficou só três meses no serviço, pois o seu patrão espancava a mulher. Arrumou outro emprego em Madureira, onde permaneceu por cinco anos e conheceu seu marido. Aos 28 anos ficou grávida, mas seu casamento não deu certo. Separou-se e foi trabalhar em uma residência na Praça Mauá - Centro do Rio. Continuou tocando a vida sozinha. Mas quando sua filha completou quatro anos, foi à procura do marido para registrá-la. Voltou a conviver com ele e foram morar em Senador Camará.

Como se Fosse Um carimbo...

Dias, meses e anos viraram décadas... O Jornal do Brasil continuava pendurado na banca da Rodoviária, mas não parava de trocar suas manchetes. A vida de Lindalva, no entanto, possuía sempre o mesmo texto, como se fosse um carimbo:

-- Continuei trabalhando como doméstica ou faxineira... Não saía para lugar nenhum!... Meus dois momentos de felicidade foram a festa de 15 anos e a formatura de minha filha.

Quando, em 2010, o Jornal do Brasil deixou de ser publicado, os tempos já eram outros: Guerrilheiros haviam virado governantes, bancas de jornais viraram bombonières... Logo na época em que Lindalva estava, enfim, se alfabetizando, foi que os jornais resolveram acabar?!... Não, não é bem assim... É que as notícias se libertaram do papel, feito Lindalva que há 45 anos desenraizou-se de uma fazenda longínqua!... É que hoje, Lindalva não fere mais o chão com golpes de enxada, mas beija-o com seus tênis! Cada passo que dá, numa corrida, é um beijo de gratidão! Um acalento na terra que não calou o grito mudo de seus sonhos, como um dia calou seu velho pai.

Lindalva aposentou-se em 2005, aos 60 anos, mas continuou fazendo faxinas. Teve problemas de pressão arterial e procurou um médico, aos 64. O médico recomendou que fizesse caminhadas. E foi aí que a sua vida começou, enfim, a mudar...

Sua filha Claudinha, que já era corredora, começou a levar Lindalva para caminhar no Aterro. Enquanto a mãe caminhava, Claudinha corria. Lindalva adorou, mas queria mesmo é correr. Fazia isso escondido da filha, aproveitando dos momentos que a mesma dobrava uma curva. Para sua alegria, o médico liberou a corrida que sua filha parou de controlar.

Matriculou-se no colégio Santo Inácio, onde foi galgando cada série do ensino fundamental. Deixou de pegar ônibus pela cor e começou a se comunicar melhor com as pessoas e o mundo.

Todas as idades de Lindalva hoje correm com ela. Todos os seus tempos tolhidos vão com ela estudar. Imaginei, comigo mesmo, que no Colégio Santo Inácio ela fosse uma das alunas mais queridas. Quis conferir, conversando com uma professora. Quis perguntar à sua mestra:

-- Você conhece a história de Lindalva, tanto quanto conhece as histórias dos outros heróis dos seus livros?

Quis saber:

-- Qual é a sensação de uma professora ao instruir uma aluna que tem muito mais para lhe ensinar?

Mas eu não consegui falar com a mestra. Consegui apenas uma mensagem no celular, dizendo:

-- Olá! Estou em Sala... Será um grande prazer testemunhar sobre uma pessoa tão iluminada como D. Lindalva... Abraços, Fabiane.

Pensando bem, foi melhor assim... Melhor não ficar esmiuçando mais detalhes ou essa postagem não tem fim!...


Lindalva atrai olhares ao completar a Golden Four Asics 21 km, na Praia de São Conrado, no Rio.

A Represa Lindalva!

Conheci Lindalva Figueiredo em 2014. Foi num treinão muito puxado e concorrido, de subida às Torres da Serra do Mendanha - recanto desconhecido para a maioria dos corredores cariocas. Duvidei, em pensamento, que aquela senhora pudesse vencer o duro percurso inclinado. Eu estava totalmente enganado... Só agora sei que a juventude de Lindalva ficou, durante décadas, represada no corpo e na alma. Agora vislumbro sua emoção quando me disse:

-- Faria por tudo de novo para ter a vida que tenho hoje!

Considero essa frase fantástica, quando vinda de alguém que beira 70 anos de idade. Considero que Lindalva resgata, hoje, todas as suas idades, a tempo de ser feliz. Pelo asfalto, seus sonhos se misturam aos sonhos dos jovens atletas que lhe rodeiam. Pelas trilhas, ela goteja o mesmo suor de companheiros que poderiam ser seus netos. Sua voz se mistura às vozes dos corredores de idade mediana, enquanto seus pés se afundam nas areias que bordam o mar.



Lindalva e seus amigos, pouco depois de completar a Subida do Cristo


Por telefone, pedi que Lindalva encerrasse essa postagem transmitindo a todos uma mensagem, e ela falou:

-- A vida é boa e maravilhosa quando a gente dá valor a ela... Quando a gente faz o que gosta é melhor ainda!


Atualização da postagem  (em 12-02-18):

Depois desta postagem, D. Lindalva foi se tornando cada vez mais conhecida dentro e fora da corrida. Completou a Maratona do Rio, nos anos seguintes, onde tem o privilégio de fazer o aquecimento junto com os atletas de elite. Várias matérias foram publicadas sobre ela, em jornais e TV, nenhuma com tantos detalhes quanto essa.


( Esta postagem foi reproduzida integralmente pelo blog PULSO, do Jornal O Globo, confira clicando no link: http://blogs.oglobo.globo.com/pulso/post/todas-idades-de-lindalva.html?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar )

Abraços!
Bira.

(...) Assim que um evento termina, já tenho outro em mente (...) pretendo fazer o percurso entre a Fortaleza de Santa Cruz e o Forte São Luiz, em Niterói. Terei que mandar e-mails para os comandantes dos quarteis para ter autorização... (...)

Atraindo patrocínio, sorteando brindes e fazendo caridade, Flavio Loureiro revolucionou e se revelou o Rei dos Treinões Cariocas em 2013... Ele tem novas metas para o futuro.

O Rei dos Treinões Cariocas

Amigos!

Treinando no Bosque

(antes do treino...)

E a ninfeia do Bosque da Barra aproveitou a escuridão da madrugada para flutuar calmamente no lago... Antes que o sol nascesse, ela encontrou o lugar ideal para se exibir: ao lado da ponte, onde passam as máquinas de fotografar...

A PRINCESA DO BOSQUE

Quando as cores do bosque despertaram, 
Era o sol que nascia. 
Micos e borboletas se penduraram no ar. 
O Rio revelou sua graça inquestionável 
Naquele chão preservado
E a ninfeia do lago bebeu o brilho recente do dia.
Ela expeliu pelas pétalas um deslumbramento rosado. 
Às oito da manhã, a flor se fez Princesa Rosada do Bosque da Barra! (... e eu cliquei!)



...E a princesa do bosque encantou outras princesas - as corredoras que chegavam para mais um treinão organizado por Flávio Loureiro, naquele local.



O Treinão do Bosque da Barra (29-12-2013) e reuniu cerca de 200 corredores - uma marca excepcional, mas que já é comum nos eventos organizados por Flavio.

Corredores posam para mais uma foto oficial neste último treino de 2013.








"Me dê Motivo..."

(antes do reinado...)

Em 2010 Flavio corria "quando dava vontade e sem motivo algum" até ser convidado para uma etapa do Circuito das Estações.

- Corri 5 km em 21:39 min e daí em diante fiquei viciado em corrida... - relembra.

Aproveitou essa expressão para dar nome ao grupo de corredores que criou no Facebook - Viciados em Corrida de Rua, visando apenas tirar suas dúvidas com corredores mais experientes.

- Eu não tinha a intenção de organizar treinões através do grupo... Aos poucos, fui adicionando os amigos que fiz nas provas - relata.

Entre esses amigos estava Adriano Molinaro, corredor cujo falecimento - no início de 2013 - causou grande comoção entre os atletas. E foi durante o velório que Flávio reuniu os amigos para planejar um treinão solidário em memória de Adriano. Comprometeu-se em fazer as camisas com a foto estampada do amigo, mas acabou organizando todo o evento. Foi dessa forma inusitada que surgiu o Rei dos Treinões Cariocas, em 24 de fevereiro de 2013, quando colocou mais de 100 corredores uniformizados pela Avenida Atlântica na homenagem póstuma.

- Foi a partir daí que tive a ideia de fazer os treinões solidários e surgiram os apoios de empresas como o GPA Club Rio (hidratação) e Tênis Sprint (artigos esportivos para sorteio). O sucesso veio de cada membro - o boca-a-boca é a melhor divulgação. Hoje já somamos 5.000 membros no Facebook e eu adiciono mais de 70 novos membros por dia. Espero logo chegar a 10 mil membros, para dar mais visibidade ao grupo e atrair mais apoio para os treinões... - projeta.

Corredores posam antes do treinão na Lagoa Rodrigo de Freitas: foi difícil enquadrar.


O Sonho do Rei

(antes de tudo que vem por aí...)

No ano recém terminado foram quatro treinões: Niterói - Fortaleza de Santa Cruz, para 60 corredores; Lagoa Rodrigo de Freitas, para 180; Quinta da Boa Vista, para 220 e Bosque da Barra, semi-descrito acima. Grande quantidade de alimento e artigos de higiene foram recolhidos e doados para entidades assistenciais. Muitos artigos esportivos e brindes foram sorteados aos participantes.

- Minha meta é fazer um treinão a cada três ou quatro meses. - revela - Hoje não tenho quase trabalho para organizar, só basta arrumar o local, ver se atende as necessidades do treino e entrar em contato com os apoiadores. Começo a organizar tudo com um mês de antecedência. Como já sei com quem contar, combino uma data próxima ao evento e vou buscar as doações...
Alguns corredores chegam bem cedo ao treinão do Bosque da Barra, apenas para prestar apoio ao evento.





Perguntei ao Flávio quando inicia e quando termina o trabalho de produzir um treinão de sucesso e ele respondeu:

- Assim que um evento termina, já tenho outro em mente, por exemplo, em março pretendo fazer o percurso entre a Fortaleza de Santa Cruz e o Forte São Luiz, em Niterói. Terei que mandar e-mails para os comandantes dos quarteis para ter autorização... - e continua - Mas o meu sonho é realizar uma corrida dos Viciados em Corrida de Rua  com direito a medalhas e camisas, como muitos me cobram. A única coisa que não quero é transformar o Grupo em assessoria, pois não quero ficar preso, mas continuar fazendo minhas corridas e treinos...

Quando fechei essa postagem o Grupo já tinha 5.346 membros e não tive dúvida se a Corrida dos Viciados em Corrida está mesmo perto de acontecer... Você tem dúvida?

Abraços!
Bira.
Amigos!

Esta semana minha amiga Márcia Baroni mudou sua imagem no perfil do Facebook. De brincadeira, eu fiz uma alteração na imagem e lhe devolvi o arquivo. Não foi nada demais, mas ficou divertido, tanto que ela colocou no perfil... César, meu filho mais velho, falou que eu estava criando uma nova moda na rede: a de alterar as imagens do perfil de amigos e depois repostar... Achei que ele estava exagerando, mas tive a ideia de fazer esta postagem.

Fucei em vários perfis de amigos do Facebook, são muitos! Em princípio, encontrei poucas fotos propícias a uma rápida edição... Tenho quase certeza que as "vítimas" irão gostar... Eis o resultado:

MEU RIO

Imagem editada do perfil de Márcia Baroni - corredora, Rio de Janeiro (RJ):
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FLOR SABINE 

Imagem editada do perfil da Sabine Heitling - atleta, Santa Cruz do Sul (RS):
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BARBIANI  

Imagem editada do perfil da Fabiani Dutra - corredora, São Paulo (SP):
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COLAPSO 

Imagens editadas de três perfis: a) Ronicesse Felix de Lima - atleta, (São Paulo - SP);  b) olhar de Camila Farias - ciclista e  c) Sergio Cordeiro - corredor (Magé - RJ):
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É com esse "treino leve" que o ano termina em BiraNaNet. Um sorriso sereno, um abraço fraterno e a vontade de voltar melhor ainda em 2014.

Um Feliz Ano Novo a todos os amigos deste blog, representados nas fotos acima!

Abraços!
Bira.
(...) "Quando entrei na Avenida Paulista, em 2000, com as motos ao meu lado e vi o povo gritando, correndo junto nas calçadas, tudo parecia um sonho! Foi meu momento de maior emoção!" - Adriana de Souza. (...)

DESAFIOS DE SETEMBRO: PARTE II - sonho de corredor

Ufa!... Eis a 2ª parte do meu desafio, trazendo um pouco da história de Elton e sua grande treinadora...
Elton sonha correr sua 1ª São Silvestre este ano. Eu sonhei com ele no pódio e fiz esta montagem...
Amigos!

Crianças goiabalenses lançam olhares de desejo sobre os troféus da corrida... Que impacto pode ter esse dia em seus futuros?


Foram três horas de ônibus no trajeto de Belo Horizonte a São José do Goiabal. O barulho abafado do motor e da fricção dos pneus no asfalto, era canção de ninar. Dormi, enquanto era fim de tarde e o sol se recolhia, acordei à noite e deparei com a escuridão da mata. Liguei a luzinha de leitura, do teto do ônibus e peguei papel e caneta para descrever a cena:

"O céu da noite mineira era um papel de parede onde as nuvens pareciam ser milhares de ovelhas. Em meio a este rebanho, uma metade de lua procurava brechas para aspergir seu brilho. Mas a fraca luz do pedaço de lua não conseguiu revelar toda a brancura das nuvens-ovelhas. Seu brilho humilde projetava nelas uma tonalidade opaca, cor-de-fantasma-flutuante... 
"Enquanto as nuvens-ovelhas-fantasma dormiam, o pedaço de lua se exibia para os olhos de Minas Gerais.
"Na janela do ônibus que risca uma estrada de subidas e curvas, o olhar humano se adapta, enxergando no quase escuro. Uma casinha distante parece perdida na mata escura, onde alguns pontos de luz são semelhantes às poucas estrelas visíveis no céu..."

Mas foram as fortes luzes do ônibus se acederam pondo fim ao meu devaneio poético... Às oito e meia da noite, eu chegava na pequena Goiabal, onde Antônio Carlos, seus familiares e o italiano Giuseppe Giampaoli me esperavam. Apesar da corrida programada para o dia seguinte, conversamos até meia-noite na praça principal.


A Corrida

Antônio ordena a largada na corrida das crianças de São José do Goiabal


Gostaria de ter os olhos e mentes daquelas crianças para falar da grandeza oculta na pequena Corrida de Goiabal. Queria saber que impacto o evento exerce sobre elas, já que não tenho o talento de um semeador como Antônio Carlos de Carvalho. Este sim, parecia entender o que aquilo representava de fato. Capitaneou os 40 menores em uma volta de 100 metros no quarteirão. Alguns correram descalços, provavelmente não tinham tênis de marca, apenas marcas nos pés. Enfiei-me no meio, tentando captar os movimentos e a emoção da criançada, mas foi tudo muito rápido - o que é bom dura pouco. No final, vi Giuseppe emocionado conversando com as crianças e filmei a cena.





A seguir, foi feita a largada dos adultos. Acompanhei a prova sobre a carroceria de uma camionete que partiu na frente, feito batedores. Havia poucos corredores vindos de João Molenvade e nenhum atleta adulto de Goiabal - o que me fez perceber o tamanho do desafio de Antônio em implantar o esporte na cidade. O grupo de corredores despertava atenção pelas ruas e ladeiras da pacata cidade. Por duas vezes, a caminhonete ficou ligeiramente emperrada, devido a um carro mal estacionado ou uma carroça que cruzava, atrapalhando os corredores da frente. "Se é no Rio, o pessoal iria espinafrar a organização..." - pensei comigo. Mas ali, ninguém era tão exigente, queriam apenas correr ou competir sem stress. A corrida terminou e eu não anotei o nome dos vencedores porque todos venceram: Antônio, Giuseppe, seus amigos da ACORP-Molenvade, as crianças de Goiabal e toda cidade que ainda ignora o evento. O prêmio não tinha apenas formato de medalha ou troféu, mas a arquitetura da Casa de Miguel Sanches* - sede da ACORP-Goiabal, em construção, onde os corredores fizeram um lanche e receberam seus prêmios.


A Corrida dos adultos seguiu seu trajeto pelas ruas da pequena Goiabal e depois avançou sobre trechos de terra batida...



Mas o tempo também é corredor e quando olhei para o relógio já passava de meio-dia. Só dava tempo de tomar um banho e almoçar, antes do retorno ao Rio. Só então lembrei que lá na minha cidade, 20 mil corredores teriam acabado de participar da Meia Maratona Internacional, mas não sentia nenhum remorso por ter dispensado o mega evento para prestigiar Antônio e a Corrida de São José do Goiabal.#

*nota: Miguel Sanchez foi um maratonista argentino, vítima da ditadura, homenageado por Antônio, veja o vídeo:


- Link para conferir as três postagens desta série Antônio, Boca e Coração!: 
http://www.birananet.com/search/label/Antonio%20-%20Boca%20e%20Cora%C3%A7%C3%A3o







Abraços!
Bira. 
Amigos!

E Antônio Carlos retornou ao cemitério para correr todas as madrugadas. Quando lhe restavam apenas 15 dias de aluguel pago, desesperado e ainda sem trabalho, foi caminhar pelo Centro de Roma. Parou próximo à Embaixada do Brasil e entrou num bar, reduto de brasileiros que residiam na capital italiana. Ali conheceu Brandão, mineiro de Governador Valadares, para quem expôs sua sorte. O pedreiro Brandão anotou seu telefone e disse:

- Estou para pegar um serviço entre hoje e amanhã. Assim que confirmar eu te ligo, pois vou precisar de ajudante.

Antônio encheu-se de esperança e, naquela noite, nem precisou resgatar o sono correndo pelo campo das almas. Seu coração verdejava depois de muito tempo e quando acordou, na manhã, foi realçar esse verde caminhando sobre a grama e entre as árvores de Villa Pamphilj. No imenso Parque, viu uma grande concentração de atletas preparando-se para uma competição. Seus olhos brilharam e suas pernas foram atraídas para o local. Sua boca ousada pronunciou, em péssimo italiano um pedido de participação na corrida, que foi aceito. Sem nenhum preparo específico além dos recentes treinos na madrugada, o brasileiro correu e chegou na terceira colocação.

Diz a frase que "Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar"... Sendo assim, o mesmo raio que em 1982 transformou Antônio em corredor da Santista, voltou a cair onze anos depois, em Roma: Impressionado pelo seu bom desempenho, Claudio Santini - vice-presidente da Roma Sprint - o convidou para integrar aquela equipe de corrida.

As coisas clarearam de vez dois dias depois, quando o pedreiro Brandão lhe ligou e, além de trabalho, conseguiu uma outra casa, onde Antônio dividiria o aluguel com moradores que não usavam drogas ou se embriagavam. Permaneceu trabalhando com Brandão até que Stephano Amadei, presidente da Roma Sprint e empresário da construção, o empregou.

- Foi aí que juntei o útil ao agradável - relatou Antônio - Voltei a ser atleta de ponta e transformei todas as premiações que ganhava em material esportivo, que enviava para a ACORP - aquela equipe que eu havia fundado em João Monlevade, pouco antes de ir para a Itália - explicou.


Corridas foram organizadas pela ACORP-Roma, na Itália, em prol das crianças de São José do Goiabal.



BOCA E CORAÇÃO

"Quem tem boca vai a Roma" e quem tem coração volta a Minas!... Assim que pôde, em 1995, o atleta voltou ao Brasil. Primeiramente para uma passar um mês e logo retornar - ainda não dava para ser diferente. Trouxe dentro de si o marido, o pai, o filho e o irmão - todos mortos de saudade, mas repletos de esperança. Trouxe também o amigo e patrono dos jovens corredores de João Monlevade. Com ele, veio o espírito de um mineiro aventureiro, que sai do interior em busca de oportunidade, mas que sonha um dia envelhecer na tranquilidade incrustada nos vales de sua terra. O mineiro que sonha jazer seu corpo, depois de velho e exaurido, no repouso infinito de um monte santo onde Padre Ermelindo faz minar, em seu túmulo, a água que cura, em São José do Goiabal.

A 192 km de Belo Horizonte, São José do Goiabal possui menos de 6 mil habitantes. Antes de chegar ali, pela BR 262, passa-se em João Molenvade com população doze vezes maior.


Dois anos depois, em 1997, retornou ao Brasil para levar esposa e filho pra Itália.

- Infelizmente, eu perdi quatro anos da infância de meu filho - lamenta, embora saiba que não teria outro jeito.

Assistido à distância, o grupo de corredores de João Monlevade continuou crescendo, até agregar 80 jovens e crianças, em 2003. Apesar de seu sucesso na Itália, ficou difícil mantê-lo sozinho. Bem relacionado, o brasileiro agregou italianos para fundar a ACORP-Roma - que recolhia material esportivo para enviar ao Brasil.

Visitando o Brasil, em 2004, Antônio Carlos fundou a terceira ACORP, em São José do Goiabal, cidade em que nasceu. Com menos de 6.000 habitantes, Goiabal não tinha nenhuma cultura esportiva, mas muitas crianças carentes. Comprou um terreno para a sede e tem planos bem maiores que as aspirações daquela humilde cidade: oferecer atividades complementares à sala de aula... Esporte, ambulatório pediátrico, refeitório e etc.

Em 2005, transformou a ACORP-Roma em ONG para possibilitar a adoção à distância, onde seus amigos italianos enviam 30  mensais para cada criança adotada, em Goiabal.

Em 2007, trouxe o amigo Giuseppe Giampadi e mais dois italianos ao Brasil para conhecer as crianças adotadas, o terreno e o projeto ACORP-Goiabal.

Em 2009, a irmã de Giuseppe se casou, em Roma, e não quis presentes. Aos invés disso pediu aos convidados da cerimônia que fizessem doações para iniciar a construção da sede da ACORP-Goiabal. Foram recolhidos 2.400  e a construção da sede começou no ano seguinte.

Em 2011, trouxe 10 italianos para conhecer o Brasil, ver de perto a construção da sede e participar com as crianças da Corrida de São José do Goiabal. 

Esse ano, não me lembro exatamente como, Antônio me convidou via Facebook para conhecer o seu trabalho, e participar da terceira edição da corrida. Abri mão da Meia Maratona do Rio, mas valeu à pena!... Aos 50 anos, Antônio Carlos de Carvalho não é apenas um dos atletas mais fortes na sua categoria, correndo 10 km em 36:08 min. Ele é um visionário e seus sonhos hão de se erguer bem acima dos montes que margeiam São José do Goiabal!

Continua na Parte III (final) - Reportando a corrida deste ano, em Goiabal...

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Abraços!
Bira.
"(...) E Antônio Carlos lembrou que era atleta e às duas da madrugada, entre as esculturas de anjos e os sombrios e ciprestes, pôs-se a correr no campo dos mortos(...)"


Correndo no Cemitério


Montagem com foto pessoal de Antônio Carlos de Carvalho correndo no Cemitério de Verano, em Roma.

Amigos!

O frio intenso, da madrugada, circulava pelas ruas desertas de Roma e tinha um único companheiro: o brasileiro Antônio Carlos de Carvalho. Era março de 1993 – mês de inverno rigoroso e temperaturas tão baixas quanto a postura de cabeça daquele caminhante noturno, pelos arredores do Cemitério de Verano. Se a cidade dormia tranquila, Antônio não tinha a mesma sorte. Suas preocupações espantaram seu sono mais uma vez e caminhar pela noite foi um jeito de tentar resgatá-lo. Deprimido e se sentindo só, apesar de residir numa casa com mais oito brasileiros que, como ele, buscavam emprego em Roma. O ambiente na casa não era bom, melhor a companhia do frio. Alguns de seus amigos se drogavam ou ficavam embriagados e ele só tinha o dinheiro suficiente para pagar mais um mês do aluguel que dividia. Se não arrumasse biscates logo, voltaria frustrado para o Brasil onde ficaram esposa e filho.

Ao seu lado, o muro alto e imensamente longo do cemitério parecia intransponível. Perdido nos pensamentos Antônio caminhava e olhava para a parede de tijolos expostos, até que surgiu uma parte de muro quebrada, formando um acesso improvisado. Transpôs a passagem e deparou com ruas lisas e desertas, circulando e entranhando as quadras de túmulos. O brasileiro de São José do Goiabal, interior mineiro, não teve medo de assombração - ele já possuía seus próprios fantasmas... Lembrou que era atleta e às duas da madrugada, entre as esculturas de anjos e os sombrios e ciprestes, pôs-se a correr no campo dos mortos.

ONZE ANOS ANTES

Estamos maio de 1982. É manhã de um domingo de sol no bairro do Tatuapé, Zona Leste de São Paulo. Os funcionários do Grupo Santista chegam afoitos para o campeonato de atletismo da empresa, no complexo esportivo situado atrás da fábrica de tecidos. Entre eles está o jovem Antônio Carlos, que fora ali, apenas para jogar futebol. Ao chegar, no entanto, viu vários corredores se preparando para iniciar uma competição de pista. Curioso, aproximou-se e perguntou se poderia participar. Poderia; e sem nenhum preparo ganhou as duas corridas, de 1.500 e 3.000 metros, além de um convite para compor a equipe de corredores da Santista, feito por um impressionado treinador. No ano seguinte, o atleta já obtinha bons resultados nas competições e, certo dia, estava treinando no Parque Piqueri, quando avistou a equipe de corredores do Corinthians. Ousou se aproximar e pedir para fazer parte. Como resposta, o rigoroso treinador José Roberto lhe encarou e disse:

- Com nós você vira atleta ou morre! - para riso geral.

Tal resposta soou como um incentivo para Antônio Carlos. Era sua oportunidade de treinar com grandes atletas. Estaria entre os feras!... Mas foi logo apelidado de Cheira-Meia, já que era o último da fila nos treinamentos e competições. O Cheira-Meia continuou ali, ganhando experiência entre seus pares da elite. Certo dia, o técnico aplicou um treino que envolvia toda a equipe. Ao todo seriam percorridos 18 km na pista, da seguinte forma: Os primeiros 9 km seriam corridos no ritmo de 4 min. por km (4X1) e os 9km finais, no ritmo de 3min. por km (3X1). A cada 3 km, os atletas teriam um minuto de intervalo para recuperação.

A largada foi dada com toda a equipe e Cheira-Meia assumiu o lugar que lhe cabia, no final da fila. Ao término da primeira etapa, Cheira-Meia continuava na rabeira, mas sentia que estava bem e não quis se precipitar, seguindo na retaguarda. Quando o treino atingiu os 3.000 metros finais, o desgaste dos atletas já era evidente. Cheira-Meia simplesmente resolveu passar um a um, deixando para trás até quem tentou resistir. Seu técnico sorriu percebendo que o atleta,  nas últimas voltas, havia rodado muito abaixo dos 3X1 estabelecidos. A partir de então, o Ex-Cheira-Meia ganhou respeito geral, sendo convidado para todas as provas e torneios onde estaria a equipe.

Ao entrar para a elite, Antônio Carlos participou de corridas na Capital e Interior paulista, além do Sul do Brasil. Ganhou prêmios e patrocínios em consequência de um programa de incentivo ao esporte do Governo Sarney.  Somou esses rendimentos ao salário percebido na Santista e pôde se casar, em 1985. Cinco anos depois, com a troca de governo o programa de incentivo foi cortado e ele figurou entre os mais de 200 atletas órfãos. Não seria possível sobreviver em São Paulo, em 1992, mantendo mulher e filho, com os pífios dois salários mínimos que recebia na Santista. Enquanto a ministra Zélia Cardoso de Mello assustava o Brasil com o confisco da caderneta de poupança, Antônio abarrotou suas malas e partiu com a família de volta para João Molenvade, cidade vizinha à São José do Goiabal - onde nasceu.

Em João Molenvade, tentou vender pastéis e sucos de fruta, enquanto prestava concursos públicos para vários órgãos, sem obter sucesso. Formou um grupo de corredores com objetivo de atrair jovens e crianças carentes, denominando-o  ACORP - Associação de Corredores de Pista e Rua. As alegrias da corrida pelo interior, no entanto, não pagavam dívidas. Foi quando, no início de 1993, Antônio decidiu vender sua moto e comprar passagens para Roma, onde tentaria arrumar trabalho e dinheiro.

Antônio chegou à Itália com o dinheiro suficiente para três meses de aluguel. Economizava ao fazer refeições gratuitas na Caritas de Roma. Permaneceu dois meses em frente às lojas de materiais de construção, se oferecendo como ajudante de pedreiro, sem nada conseguir. Quando não estava ali, perambulava pelas ruas para aprender o idioma, já que na casa em que morava só havia brasileiros. Se o dinheiro não lhe tocava às mãos, via o tempo escorrer entre seus dedos. Quando o sol de Roma se deitava uma lua deprimida surgia diante de seus olhos trazendo o medo, a insônia e a depressão. De repente, o muro quebrado do cemitério lhe convidou a entrar e deparar, com a inusitada pista. Só lhe restava correr pelo campo santo e tentar exumar as emoções de seus melhores dias. Mesmo que fosse duas horas de uma madrugada fria. Mesmo que seu público visível fossem as imóveis estátuas e o invisível não pudesse se manifestar. Mesmo com tudo isso, Antônio Carlos de Carvalho estava de volta ao atletismo!

... Continua na Parte II

- Link para conferir as três postagens desta série Antônio, Boca e Coração!: 
http://www.birananet.com/search/label/Antonio%20-%20Boca%20e%20Cora%C3%A7%C3%A3o


Abraços!
Bira.


(...) O passado revivido com os amigos é belíssimo porque é rico em detalhes. Quando não somos capazes de reconstruir o panorama geral de um lugar em que estivemos com eles, nossa mente nos compensa revelando detalhes que sequer pensávamos ter percebido (...)

Marcia Terezinha e Lúcio Lampert, na foto, até parecem irmãos: Amigos dentro e fora da corrida.






Amigos: Criatividade, Alegria e Prazer


Amigos!

Ei, Amigo!... Vai fazer seis anos que eu te chamo dessa forma... Arrumo esse blog como quem arruma a própria casa em dia de visita e te convido para entrar:

- Pode ficar tranquilo, o cachorro não morde... - falo sorrindo - Senta aí, na poltrona, fica à vontade!... Aceita beber alguma coisa, um vinhozinho, cerveja... Água gelada?... Que bom que você está aqui!... Que bom ser seu amigo!

Amigo é Prazer

O tempo passa voando quando eu lhe conto minhas histórias. Geralmente não há nada demais além de um simples treino ou de uma corrida... São os detalhes do texto que farão diferença, revelando as belezas que você já viveu e as alegrias que já sentiu. É essa identidade que despertará o prazer, ao revelar o motivo oculto da sua felicidade.

Vou dar um exemplo: Na postagem "Adeus Ano Velho", de maio de 2010, minha amiga Bruna Zolini fez o seguinte comentário:

- Bira, adoro seu blog (...) Queria muito conseguir traduzir em palavras os meus sentimentos na corrida de forma tão bela, como você faz... 

Quando a corredora disse: "traduzir em palavras meus sentimentos", quis dizer: "...minha alegria". Quando disse: "...de forma tão bela", quis dizer: "com os detalhes não revelados, os motivos ocultos".

A mesma Bruna que em 2010 pensava não saber "traduzir em palavras" seus sentimentos, após completar a Corrida da Ponte, este ano, escreveu o belo relato a seguir:

" (...) Nos últimos metros, não estava mais correndo: estava flutuando, dançando nas pistas, como uma (ex) bailarina. Não ouvi música das caixas de som e ninguém falando ao microfone, pois uma valsa linda estava tocando dentro de mim. Eu era uma debutante em dia de gala (...)"


A ex-bailarina Bruna "flutuando" a poucos metros da chegada na Corrida da Ponte: Retorno de Lesão.


Amigos são Criativos

Bastou que minha amiga mergulhasse nos seus próprios sentimentos para revelar, naquele texto, uma beleza bem maior que o cenário de chegada da corrida... Eis a criatividade! Dependerá dela dar sequência ao exercício poético, daqui por diante. Descrever desta forma é como revelar um filme fotográfico, ou seja: Imaginemos a Bruna cruzando a linha de chegada... Suor e lágrimas se confundem, soluços e ofegância também. Não saberíamos dizer até que ponto ela está emocionada ou simplesmente cansada. Quando ela expõe os detalhes de seus sentimentos, no entanto, outra realidade constrói um cenário muito mais encantador... Eis a criatividade nos detalhes ocultos!... Nossos amigos são criativos porque constroem novos cenários. 


Mês do Amigo

Porque chegamos ao Mês do Amigo, propus à maratonista Marcia Baroni (foto 1) que descrevesse um amigo corredor. Ela enviou o seguinte texto:

- Eu encontrei um grande corredor e amigo há quatro anos atrás: Lúcio Lampert. Minha admiração por ele vem, principalmente, pela sua generosidade. Lúcio voa nas pistas, nas provas com maravilhosos tempos... No entanto, acorda sorridente às 5 h da manhã, várias vezes, para treinar comigo num "pace" bem mais lento que o dele!! Me deu força nos primeiros longões, correndo ao meu lado, incentivando-me a todo momento... Bem, eu não corro tão rápido assim e ele me fez ter confiança para correr na rua, sem medo... Várias vezes, em percursos com subidas, ele foi à frente e voltou para resgatar a mim e outros amigos mais lentos, sempre nos incentivando para ir em frente. Sua paixão pela corrida de rua e simplicidade encanta muita gente. Eu aprendi o quanto a disciplina é importante na corrida de rua com Lúcio. Meu amigo, fora da corrida é especial, alegre e divertido. Tem grande senso de humor e, principalmente, um coração bondoso que está sempre disponível a ajudar o próximo. 



Amigos são Divertidos

A simples presença ou mera lembrança de um amigo nos diverte. Brilham os olhos e o coração dá saltos de alegria e prazer. Quando um amigo se ausenta, nosso corpo se aquieta e a mente flui, além do tempo, resgatando os momentos simples, mas incrivelmente belos. O passado revivido com os amigos é belíssimo porque é rico em detalhes. Quando não somos capazes de reconstruir o panorama geral de um lugar em que estivemos com eles, nossa mente nos compensa revelando detalhes que sequer pensávamos ter percebido. O detalhe de um gesto, de uma expressão, uma frases ou olhar. Os detalhes em forma de cheiros, melodias, cores e abraços. Sentimos saudade das suas piadas e de seus argumentos que, antes, estávamos cansados de ouvir, porque agora "ouvimos" os detalhes!

No dia 20 de julho aproveite: É Dia do Amigo!

Abraços!
Bira. 

Amigos!

Concluí esta postagem a 09 dias, 12 horas, 35 minutos e 32 segundos da Maratona do Rio. Foi o contador regressivo do blog que precisou a informação. Observe que nele, os centésimos inquietos fazem os segundos gotejarem até sua exaustão prevista para a hora da largada. Será na manhã de 7 de julho. Na explosão dos corredores, a ansiedade acumulada nestes últimos dias se dissipará de vez. Quando o cronômetro regressivo zerar, será a vez de 7.000 atletas gotejarem e exaurirem pelos 42 km de orla carioca.


Câmera ao vivo na Barra da Tijuca, trecho da Maratona do Rio

Na quarta-feira, 26/06, fiz meu último longão de 30 km e cruzei o Aterro, onde as primeiras barracas eram montadas próximo à linha de chegada. Tentei imaginar em que estado e com que tempo eu chegarei ali no dia da corrida. Mas não tenho como prever: meu treinamento foi prejudicado pelas dores ao longo de quatro meses. Apliquei muito gelo e esforço para não ficar mais um ano de fora da grande corrida.


No Aterro, barracas começam a serem montadas a 11 dias do evento.

Eles também não Querem perder...

Fabio, Jorge, Gabriel, Luciano e Bruna têm diferentes idades e perfis de maratonista. Em comum, apenas o desejo de não perder a prova. Abaixo, eles falam um pouco da preparação e expectativa para a prova:


Fábio Favaris, Rio de Janeiro - RJ:

- Retornei ao Brasil após cumprir um período de base, no Haiti. Para matar a saudade da família, perdi um pouco o foco dos treinamentos. Fiz três longos de 28 e 32 km e me sinto ótimo! Vou com tudo para minha primeira prova na distância mais desejada pelos corredores. Agora é 30% pernas e 70% cabeça!





Luciano Vitório, Itatiba - SP:

- Eu me preparei com planilha elaborada por um educador físico. Comecei meus treinos em janeiro e estou confiante. Vai ser minha primeira maratona. Não quero me preocupar com o tempo, mas sim em completá-la.







Jorge Ultramaratonista, Rio - RJ:

- Ultimamente tenho corrido ultra maratonas e deixei de lado os treinos de velocidade - nas ultras, o que manda é a resistência... Vou correr só para completar.  
(vale ressaltar que o Jorge competiu nos 85 km de Macaé, em junho, e foi campeão das 24 Horas de Santa Maria - RS, em maio).



Gabriel Mantovani, Tarumã - SP:

- Estou treinando muito apesar de ter 20 anos de idade e só ter feito meia maratona. Agora, vai ser muito desgastante pela minha idade, mas vai dar tudo certo! Que essa semana passe voando!








Bruna Zolini, Rio - RJ:

Estou retornando de lesão. Fiquei quase seis meses machucada, fiz muita fisioterapia, mas não adiantou tanto. O que melhora comigo é muita natação e alongamento. Ainda estou me recuperando. Fiz a Corrida da Ponte e fiquei muito feliz por completá-la. Então voltei a treinar gradativamente, até fazer dois longões de 34 e 33 km. Estou confiante. Meu objetivo é completar a corrida, pois não quero ficar de fora. Essa corrida representa muito para mim!






Fabio, Jorge, Gabriel, Luciano e Bruna têm diferentes idades e perfis de maratonista. Em comum, aquela ansiedade gostosa de quem espera o momento da largada, expressa no olhar de quem ama a corrida.

Abraços!
Bira.
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Corrida faz coisas boas virar rotina, como os movimentos repetidos de quem corre.

Amigos!

Não façam perguntas óbvias!... Perguntas do tipo: "O que a corrida lhe deu?" A resposta será sempre a mesma: "Me deu mais disposição, mais saúde, melhor auto-estima, novos amigos" e vai por aí...

Corrida faz coisas boas virar rotina, como os movimentos repetidos de quem corre. Ontem, um amigo que não corre falou em tons pejorativos que "a corrida é um vício!"... Eu concordei e fui treinar - não vou ficar me explicando na hora do treino!

O fato é que vou fazer seis anos de retorno à corrida e para comemorar, escolhi retratar três amigos, representando a todos os demais. Para fazer as imagens em movimento, fiquei parado o dia inteiro diante do computador. Copiei fotos, recortei, colei, escalonei, girei, inverti e etc. Utilizei os programas GIMP e Paint, em mais uma bricadeira: Foi minha forma de dizer obrigado!


Jorge Ultramaratonista: O corredor mais apaixonado que eu conheço!




Jorge Ultramaratonista foi um dos corredores que mais me impressionou nesses 6 anos... Não fosse pelas suas  maratonas de 24 h, mas por todas as vezes que ele foi correndo para casa (do Aterro à Sulacap) ao final de mais uma corrida. Enquanto todos já não viam a hora de descansar, nosso amigo dava adeus para encarar mais 30 km!


A Metamorfose de Ozéias!









Foi Ozéias Carlos Lira que me convidou para treinar com a turma. Quando eu fiquei sabendo que ele já foi obeso, levei um susto e publiquei sua história (veja  na postagem: "Diga-me com Quem Corres?"). Nas imagens acima o Ozéias obeso se transforma em corredor - e futuro Educador Físico.


Adriano Molinaro: O amigo se foi e no peito ficou a saudade.




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Se o treino foi bom, a gente lembra do Adriano. Se a corrida foi boa, também. "Certamente ele estaria aqui, divertindo-se conosco..." - alguém comenta, sem perceber que ele, ali, ainda está.

Em nosso peito de corredor pulsante Adriano corre muito mais do que corria na paisagem.

Abraços!
Bira.
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"Procuro e sempre acho o meu tempo... que vale ouro... se me restar a madrugada, é nela que eu vou!..."

Amigos!

Se você adora correr e possui tempo para praticar seu esporte, faça o que diz Fafá na música de Chico: "... erga as mãos para os céus e agradeça!..." Agora, eu vou mostrar a rotina de alguns corredores que justificarão a sua prece:

No vídeo, a beleza e a fartura - não apenas do sorriso - de Fafá de Belém... Apenas para ilustrar a referência feita acima

Claudio Vieira, 27, educador físico do Rio de Janeiro - RJ.

Como alguém que sai de casa às 6h, para trabalhar e estudar, retornando às 22:30h, consegue praticar dois diferentes esportes? Quem responde a pergunta é Claudio Vieira, apaixonado por corrida de rua e rugby, não sem antes exibir o seu currículo:





- Sou técnico do time feminino Rio Rugby Football Club e já corri 80 km direto, mas agora me falta tempo... Meu segredo é aproveitar todos os segundos disponíveis! De segunda a quinta, pedalo 10 km, indo e vindo ao trabalho. Às sextas, faço isso correndo. No intervalo de almoço faço musculação (de 12 às 12:45h) e aeróbico (natação, corrida ou bike) de 12:45 às 13:30h. Aproveito todos os segundos, após o treino: tomo meu banho, almoço e volto a trabalhar!

Nas sextas-feiras Claudio encaixa três treinos de corrida de 10 km - de manhã, no almoço e após o trabalho e completa:

- Após voltar da faculdade eu ainda sento um pouco para estudar (de 23:30 até 00:30h) e depois vou direto para o berço, pois as 5:45h o galo me acorda e volto para minha rotina!...

- Essa é minha sequência de treinos para a Maratona do Rio em 7 de julho (...) estou num esforço máximo para fazer bonito!... Acordar cedo não é mole. Horas de treino solitário, também não! Então o que mais me motiva a continuar é ver o tempo passar saudavelmente. Durante a corrida a cabeça relaxa, esqueço os problemas e não há estresse!... É assim que penso e é assim que funciona comigo!


Aroldo Favaro, 38, micro-empresário de Jacarezinho - PR.

Para ganhar o pão, Aroldo programa computadores, mas para queimar os carboidratos desse pão, ele precisa saber programar o seu próprio dia a dia. Concilia musculação com corrida, ciclismo com visita aos familiares. Leva a esposa ao trabalho, trabalha e depois vai buscá-la. Tudo quase que cronometrado, então vejamos:


05:40 h - musculação ou corrida + 50 min. de bicicleta; 07:20 h - leva a esposa ao trabalho; 11:00 h - natação ou corrida e depois o almoço; 17:00 h - busca esposa no trabalho, depois faz natação ou corrida; 19:00 h - leva a esposa na faculdade, depois faz natação ou corrida...

- No dia seguinte faço tudo de novo, a não ser que precise viajar a trabalho. Corri várias provas de 10 km, a Meia-maratona de Londrina, três duatlons e três montain bikes. Faço parte de um grupo que todo ano roda 600 km de Jacarezinho à Aparecida. Meu sonho é completar um Iron Man.

Seus treinos longos de pedal ocorrem aos sábados, finalizados com natação. Aos domingo, visita aos parentes de bike, mais 60 a 100 km!... Finaliza seu relato com a frase que inspirou o título desta postagem:

- Normalmente vivo das lacunas ou brecha no tempo!

Maivan Fernández, 39, gerente de TI, fotógrafo, organizador de eventos e policial... Maceió - AL.

Como entrevistar alguém que exerce tantas funções e faz questão de concluir seu repertório dizendo que é pai? Maivan Fernández nunca tinha tempo para responder minhas perguntas e eu quase desisti. Às 00:30h de uma quinta-feira, no entanto, ele estava online e eu iniciei o seguinte papo no chat do Facebook:

- Parceiro, me escreve um breve texto descrevendo o seu dia a dia e como faz para arrumar tempo para correr...

- Me diz o prazo que eu tenho, pois estou sem tempo agora - respondeu - sou Gerente de TI, Fotógrafo, Organizador de Eventos, Pai e etc...

- Você já está descrevendo o que eu preciso... É só continuar escrevendo mais um pouco sobre seus afazeres, sem se preocupar com o texto - apelei - Escreve um pouco agora e eu farei novas perguntas depois... Aos poucos a gente vai compondo o texto.

-Vou tentar escrever algo agora, me dá 20 minutos...

Passados os 20 minutos, Maivan colou o seguinte texto no chat e enviou a foto que ilustra esta postagem. Resolvi não fazer mais perguntas nem editar seu seguinte relato - isso seria injusto:


"Falar de paixão é fácil, difícil é treinar quando a paixão é correr! Digo isso sem medo de ser feliz, pois tenho diversas atividades extras ao esporte, antes mesmo dos afazeres do dia-a-dia quando sou pai. 

"Atualmente entre um dia e outro tenho que me imprensar para poder literalmente dar meu pulos e poder treinar. De uns tempos para cá, uma grata solução, não total, mas feliz, foi a de começar a frequentar uma academia de ginástica, pois sei que posso contar com ela a qualquer hora do dia, ou mesmo ao meio dia.

"Bem, trabalho com tecnologia da informação, sou policial, tento fotografar literalmente o espírito do esporte, por isso virei de fotografo amador e um solicitado retratista de emoções - como dizem os amigos corredores. Sou organizador de provas de corrida de aventura. O que era uma brincadeira, hoje virou uma brincadeira e meia, com direito a seriedade, dedicação, comprometimento e orgulho do que faço.

"Bem além disso tudo sou ultra-maratonista, ou seja, correr faz parte do meu cotidiano. Procuro e sempre acho o meu tempo perdido, tempo esse que vale ouro, em meios às idas e vindas do dia, se o que me restar for à madrugada, é nela que eu vou! Se antes do almoço de domingo tenho um tempo; oxente, logo estou na praia correndo! 

"Comigo não existe tempo ruim quando o assunto é correr! Corro por amor, corro por diversão, corro até para induzir os outros a correrem... Ai, como queria que todos que dizem que não têm tempo para o esporte fossem como eu sou!... Como é ser eu?... É ser assim: mesmo sem tempo, descobrir na folga do tempo, tempo para mim... Ô, como seria bom que todos se amassem antes de amar a qualquer outra coisa na vida! O amor é tudo e o amor-próprio é o maior dos amores! Ame-se e corra! Pois correr é viver.... e viver sem amor é vegetar sem saber.
 
"Corro para viver e vivo para correr... - e finaliza o chat - Sim, vou acabando por aqui, pois como não tive tempo de escrever algo hoje. Vou dormir já é quase 1h e às 4h tem treino, a maratona já esta me esperando... Viva a vida, viva aos pés e Soca Bota!"

*           *           *

Bem, Agora sim eu posso fechar esta postagem... Já são 3:40 da madrugada, mas valeu ganhar algumas horas sem dormir para aprender com nossos queridos amigos! São os amigos que a corrida nos deu de presente. Amigos que conseguem se encaixar nas brechas de tempo mas que preenchem nossos corações! 


Abraço!
Bira
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