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A Série Além do Blog está de volta, apresentando uma nova versão da postagem Bolero de Ravel - onde eu relatei minha primeira corrida e longo período que fiquei parado:

Recorte do Jornal do Brasil com 9 mil corredores largando na Maratona do Rio'85, no Leme, às quatro da tarde.

Amigos;

Amigos!





Não foram muitos os vídeos que fiz, até porque não tenho equipamento próprio. Volta e meia, no entanto, eu tomo coragem e arrisco uma filmagem com o iPhone, para postar neste blog... Chegou a hora de rever cinco exemplos, a seguir, em Além do Blog XII:

1- Subida ao Mendanha 2013

Organizado no ínício do ano, por Sérgio Pessoa, Mendanha 2013 foi um marco ao reunir 50 corredores para encarar subida e descida da serra (um total de 18 km). Depois disso, houve um verdadeiro "boom" nos treinões cariocas:


 2-  Subida do Mendanha 2014

Um ano e quatro meses depois, Sérgio voltou a colorir as trilhas do Mendanha com mais de 120 camisas coloridas em outro grande treinão:



3- Filmando os Últimos Colocados

Tive a ideia de filmar os últimos colocados durante a Corrida de São Sebastião 2013. Entrevistei vários corredores e acompanhei a chegada emocionante de um casal - os últimos colocados da prova:


4- Vídeo-Crônica - Sou Corredor

Corri pouco este ano e só filmei no Treinão do Mendanha... O que fiz, há pouco, foi uma vídeo-crônica utilizando as imagens de Vannucci Jr, de Corrida Rústica Uberaba. Manipulei seu vídeo acrescentando uma narrativa:


5- Filmando o Fim do Mundo

Quem acompanha este blog sabe que vez ou outra eu escapo do assunto Corrida. Fiz esse vídeo em dezembro de 2012, as vésperas do fim do mundo segundo as previsões propaladas pela mídia, naquele momento. Foi tudo uma gostosa brincadeira que vale a pena ser revista:


Estes são alguns exemplos de vídeos postados aqui... Vou ver se tomo alguns tragos de coragem para fazer novos filmes este ano.

Abraço!
Bira.



Amigos!

Uma das marcas deste blog são suas imagens criativas. Elas são como as vitrines que conduzem quem olha para dentro da loja, ou do texto. BiraNaNet necessita delas para resgatar os leitores exilados no Facebook...

Antigamente eu era um desenhista amador e compensava a minha pouca habilidade com ótimas ideias. Agora crio imagens digitais com recortes de outras e não preciso mais desenhar. Imito as crianças que recortam figuras de revistas e colam no mural da escola... Dá para fazer coisas bem legais, como alguns exemplos abaixo:

1- Saudade no Peito:

Quando o corredor e amigo Adriano Molinaro faleceu, seus companheiros ficaram com um buraco no peito... (imagem reeditada em 08-08-14) - Bira, 16-06-13.

2- DNA de Corredor:

Foto de instalação montada com camisas de corrida e medalhas de corrida - Bira, 10-06-13.

3- Corrida na Cabeça:

Outra composição com camisas e medalhas de corrida: Corrida na Cabeça - Bira, 08-06-13.

4- Meu Rio:

Dias desses brinquei com as fotos de perfil de corredores no facebook para fazer postagens - acima a foto da amiga Marcia Terezinha Baroni com o meu "grafite". Bira - 30-12-13. 

5- Tempo é Dinheiro:

Um dos poucos desenhos que restaram, feitos nos anos 80, durante um curso no SENAC; Faltava habilidade para desenhar, mas sobravam as boas ideias... Bira - anos 80.







6- Homem Água:

Animação com recorte de imagens da internet, feita para a postagem "Então Vais, Homem Água" - Bira, 20-07-14.

Isso Requer Tempo

Produzir uma imagem com recortes não é fácil pois necessita de tempo e sorte. Encontrar a foto que procura na internet é como folhear revistas. Se não encontro o que imagino, faço adaptações na ideia original. É, também, um exercício fantástico para a criatividade e lição de vida - fazer o melhor com o que está disponível.

Muita vezes as imagens não ficaram perfeitas, se não pela falta de recurso técnico, pela de tempo. Mais importantes que a beleza de algumas imagens foram as ideias que transmitiram. Aos poucos, no entanto, eu tento melhorar para melhorar as imagens.

Como São Feitas as Animações?

Algumas dicas para criar animações como Homem-Água e Saudade no Peito:

1- Utilize o Programa GIMP, que é genérico do Photoshop e gratuito. Existem vários tutoriais no Youtube.

2- Depois de produzir várias imagens sequenciais (como os quadros de um filme) você deve transformá-los em um gif animado. Vários sites o fazem de graça. Eu utilizo o MySpaceGeans.

Imagem composta para divulgar o blog no Facebook - Bira.




Fast-Food

Imagens são fast-food para as pessoas que não tem tempo. A refeição principal está num texto que faz a mente do leitor construir suas próprias imagens. Há muito que vivemos na era do fast-food, não adianta brigar com isso.

Abraços!
Bira.





(...) Meu olhar rolou pelo asfalto e eu comecei a caminhar. Quando ergui os olhos do chão, vi uma mocinha passar correndo. Ela exibia um rabinho-de-cavalo louro e saltitante. Seus cabelos zombavam de mim (...)

Montagem com fotos pessoais da maratona de Porto Alegre - Bira, 2014.

Além do Blog X - A Maratona Onde Quebrei

Amigos!

"Atenção senhores passageiros para o voo com destino ao Rio de Janeiro: Embarque imediato no portão 7..."

Os últimos passageiros terminaram de embarcar no avião da Gol que não tardaria a decolar. Com agasalho de atleta e bagagem de mão, eu me acomodei na quinta fileira da nave. Fechei os olhos e tentei relaxar, mas no espaço espremido dos voos econômicos não é possível esticar as pernas que começaram a doer. Ainda bem que eu estava na poltrona do corredor e pude me levantar. O avião decolava e eu fui chamado à atenção pela aeromoça, mas tentei me justificar dizendo que as pernas doíam porque eu havia feito a Maratona de Porto Alegre, naquela manhã. Não convenci e tive que voltar para o aperto. Antes do avião entrar em voo de cruzeiro, no entanto, tive tonturas. Pedi um copo d'água e um sachê de sal à tripulação assustada. Melhorei após a ingestão, mas as dores nas pernas não deram trégua um só minuto, durante duas horas.

Quatro dias depois recebi as fotos da corrida e fiz uma postagem intitulada "Feliz Ano Velho", neste blog, com a seguinte introdução:

"Blogueiros narcisos só falam das vitórias. Para mascarar meu narcisismo, no entanto, eu também conto os fracassos e então até pareço humilde - Lobo em pele de cordeiro! - diriam os inimigos. Sacana, debochado, pretensioso!... diriam os demais. Eu não digo nada, apenas escrevo para descansar das corridas..."

Agora, eu utilizo essa seção para reeditar aquela história em...

Além do Blog X - A Maratona Onde Quebrei

Foi atraído pelo slogan "A Maratona mais Rápida do Brasil" que eu cheguei a Porto Alegre. Era maio de 2011 e eu estava fininho, bem treinado e confiante. Pelo menos era isso que eu pensava aos 51 anos. Meu objetivo era completar a prova abaixo de 3:20 h - um ótimo tempo para minha faixa etária.

Cheguei ao pátio do Barra Shopping antes da luz da manhã. O movimento dos atletas, no local de largada, dava sensação de uma corrida noturna. Mas não tardou para que o céu azulasse, e as camisas dos atletas revelassem todas as cores do arco-íris. Um sol amarelo que não consegue deter o frescor matinal e o canto dos pássaros que não supera o barulho de música eletrônica, foram os atores coadjuvantes daquela manhã. Às sete horas largaram as mulheres, dez minutos depois, os cadeirantes. Eu larguei às sete e quinze com mais 2.000 corredores e o sol... O sol que enfim decidiu assumir seu posto para comandar a cena.

Nos primeiros 10 km, eu naveguei pelo asfalto que margeia o Rio Guaíba, passando por detrás do estádio Beira Rio e, mais adiante, sob a sombra da chaminé do Gasômetro. Adentrei as ruas do Centro e conferi que estava correndo dentro do que foi programado: 47 tranquilos minutos. Rodopiei pela cidade, estabilizando as passadas, juntamente com um grupo de corredores gaúchos. Trocamos algumas palavras e cruzamos a marca da meia maratona com 1:40 h. Até ali, tudo bem. Cheguei aos 30 km com 2:23 h, melhorando ainda mais meu tempo.

Logo, percebi que os gaúchos começaram a abrir, mas achei aquilo natural. Só não pareceu natural ver outros corredores me ultrapassando. Meu ritmo havia caído e eu não tinha gás para retomá-lo. Com tristeza refiz minha meta de conclusão da prova para 3:30 h. No KM 34 foram os pés que começaram a doer. Pisei em brasas e não tive outra escolha senão caminhar. O sal que escapou do meu corpo cristalizou sobre os ombros. Fez surgir manchas brancas no tecido negro da bermuda. Minhas emoções também cristalizaram, formando uma placa flutuante e invisível que se espedaçou no chão. Meu olhar rolou pelo asfalto e eu comecei a caminhar. Quando ergui os olhos do chão, vi uma mocinha passar correndo. Ela exibia um rabinho-de-cavalo louro e saltitante. Seus cabelos zombavam de mim...

Quis reagir, mas foi em vão. Sem forças, vi todo tipo de gente me ultrapassando: magros, gordos, altos, baixos, novos, velhos... Fui insistente e voltei a trotar, com a velocidade de quem anda, e concluí a maratona mais rápida do Brasil em 4 horas - 40 minutos acima da meta.

Mesmo com as pernas doloridas e travadas, não pude descansar. Fui às pressas para o hotel e de lá para o aeroporto. Tardiamente, percebi que havia cometido um erro: marcar o voo de volta poucas horas depois de correr a maratona. De volta ao Rio, permaneci desapontado na segunda e terça-feira. Na quarta, voltei a trotar levemente, recebi as fotos da corrida por e-mail e postei neste blog meu desabafo: "Onde foi que eu errei?"

Abraços!
Bira.





(...) Os bebês estão sujeitos à mortalidade infantil, no primeiros ano de vida. Os corredores estão sujeitos a desistir nos seus primeiros três meses. O corpo dói e precisa se acostumar (...)

Gif animado composto com recortes de imagens da internet - Bira.


Além do Blog IX - Sair do Sedentarismo


Amigos!

Há três anos, uma amiga me perguntou no Facebook: "Como começar a correr?" Achei que eu fosse realmente capaz de orientá-la e respondi, diga-se de passagem, com uma postagem muito ruim. Dei conselhos estéreis, citei a mim mesmo... Fazer o quê? Era o que eu tinha para dar... Agora que estou reeditando postagens antigas em "Além do Blog", Faço de contas que a pergunta chegou há pouco e vou tentar me redimir, a seguir:

Como Sair do Sedentarismo?

Minha amiga Virgínia enviou a seguinte pergunta:

Bira... Parei de fumar tem 1 ano, engordei, odeio academia, e acho que vou amar correr, mas não sei como começar, por isso quero muito uma luz sua, como devo iniciar esse processo, pois to muito perdida. Vou ficar aguardando, beijos.

Olá, Virgínia!... Gostaria muito de lhe passar uma fórmula, mas a verdade é que eu não tenho essa fórmula! Quanto mais tempo estou na corrida, menos tenho para ensinar. Desculpe a sinceridade, mas a vida é assim, recheada de incógnitas. Algumas dicas, no entanto, eu aprendi e posso repassar:

Iniciar a correr é como começar a viver. Você é um bebê, não sabe nada, apenas chorar. Essa sua pergunta é como o choro do bebê... Então perceba: você já começou a viver na corrida com esse choro. Bem-vinda!

Agora, Bebê Virgínia, prepare-se! Você vai continuar chorando muito, para sobreviver. Os bebês estão sujeitos à mortalidade infantil, no primeiros ano de vida. Os corredores estão sujeitos a desistir nos seus primeiros três meses. O corpo dói e precisa se acostumar. A mente precisa desapegar dos velhos padrões. A recompensa é muito pouca, quase nula... Você está disposta a encarar esses três meses?

Superado o período de risco, o bebê faz gracinhas. Ainda não começou a andar, mas vive sorrindo nas fotos postadas no Facebook. Por sua vez, você já tem alguns amigos corredores e vai se aventurar na primeira corrida de 5 km, no Aterro. Está meio assustada. Pretende apenas caminhar e trotar. Vai tirar fotos mostrando sua primeira medalha. Vai fazer gracinhas com os amigos e sorrir feito o bebê... Aproveita!

Quando o Facebook lhe surpreender com vários pedidos de amizade feita por corredores, você já não será mais um bebê, e sim uma criança no maternal. Seus tênis, frequencímetro e óculos esportivos corresponderão aos brinquedos. Nesse ponto, seu currículo exibirá uma série de corridas de 10 km e seu propósito será fazer a primeira meia-maratona. Seu abdome, cada vez mais sarado, vai render elogios e elevar sua auto-estima. Boa leitora dos sites e revistas especializadas, você entenderá de Corrida e até de Alimentação. Seus programas mudaram, consequentemente os amigos. Para compensar, uma velha amiga ingressou no mundo da corrida sob sua influência. Certo dia, você receberá um convite para participar de um treinão na subida da serra, com um grupo de corredores. Você irá, e esse gesto corresponderá ao de uma menina chegando para o primeiro dia no ensino fundamental.

A menina vai continuar crescendo e evoluindo tanto quanto você. Todos lhe identificarão como corredora. Você será referência na família, na vizinhança e no trabalho. Um belo dia alguém vai lhe enviar pelo Facebook a seguinte pergunta:

Virgínia... Parei de fumar tem 1 ano, engordei, odeio academia, e acho que vou amar correr, mas não sei como começar, por isso quero muito uma luz sua, como devo iniciar esse processo, pois to muito perdida. Vou ficar aguardando, beijos.

Você irá responder com a autoridade de quem sabe o que está falando, mas seus conselhos serão estéreis, como foram os meus. Ainda bem que você não vai parar de crescer, feito a menina no colégio. Ainda bem que você descobrirá, um dia, que não há respostas precisas para perguntas como essa. Descobrirá que "o processo" não tem começo nem fim, só o durante.

Quer começar a correr? Utilize o impulso desse desejo e se levante agora! Mesmo que você consiga apenas caminhar, nesse momento, faça! Contente-se, você entrou no "processo"! Você já é corredor no durante! Os resultados virão, mas o seu momento é agora!

Abraços!
Bira.





Se músicas, novelas e até enredos de escolas de samba ganham novas versões, por que não fazer o mesmo com as postagens deste blog?... Perguntei isso e respondi para mim mesmo, depois criei "Além do Blog". Neste 8º capítulo refaço o humor de "Correndo com o Saci" e esmiúço temas sérios que poderiam passar despercebidos na versão anterior... Gostei do resultado!... E você?... Comente!

Montagem animada feita com recortes de foto pessoal e imagens da internet - Bira, 28-06-14.

Além do Blog VIII - O Saci Correu Comigo!

Amigos!

Setembro de 2010. A baixa umidade já tinha atingido seu ponto mais crítico. As matas secaram e ficaram sujeitas ao incêndio espontâneo. O país ardeu em chamas nas manchetes dos jornais. A fuligem maculou o céu e os pulmões. O brasileiro impotente, assistiu a tudo na tela da TV ou na janela de um ônibus que percorre a Rodovia Presidente Dutra.

Enquanto isso eu treinava, quase diariamente, sem descuidar de uma boa hidratação. Meu foco era correr a Maratona de Buenos Aires no mês seguinte. Para aliviar os joelhos, eu fazia dois dias de treino na grama semeada no início daquela rodovia - o Trevo das Margaridas, em Irajá. Duas vezes por semana, eu cumpria 13 quilômetros em ritmo puxado, dando 20 voltas no grande canteiro da rotatória.

Quando o Saci Surgiu

Quando eu cheguei para correr na grama seca, era manhã de transito lento na Avenida Brasil, ali ao lado. Logo vi que não havia sinal de incêndio no gramado e pensei: "Ainda bem... Pelo visto, ninguém atirou bitucas de cigarros aqui!". Depois disparei o cronômetro e comecei a correr com toda atenção, embora conhecesse bem aquele piso irregular. Um sol cada vez mais forte seguia seu curso para o centro de um céu sem nuvens. Perto dali, as obras do Shopping Via Brasil seguiam a toque de caixa. Fiz o mesmo, levantando folhas secas de grama a cada passada. Tudo estava normal até a volta de número 13, quando uma lufada de vento criou um redemoinho ao meu lado. Folhas mortas ressuscitaram e se ergueram do chão numa dança infernal. Em instantes me vi envolvido no confuso balé de poeira, protegendo os olhos com as mãos. Meu coração, já meio acelerado pelo movimento, disparou de vez com o susto. Senti um arrepio e pensei:

-- É Saci Pererê!... Um redemoinho que surge do nada é artimanha do Saci!

Durou pouco para a nuvem de poeira dissipar da mesma forma que surgira. Abri de vez os olhos e percebi que estava eufórico, mas outro pensamento provocou novo arrepio:

-- Será que o Saci está correndo comigo??

Já ia me benzer para exorcizar o espírito travesso, mas refleti:

-- Deixa o neguinho!... Ele deve estar fugindo dos incêndios e das queimadas que assolam o Brasil, nesse momento. Durante a fuga ele me viu correndo e feliz nesse gramado seco, porém incólume, e se chegou... Então vamos, neguinho!... Vamos dar uma volta para você sentir como é bom ser corredor!...

Pensei isso e gargalhei feito uma Fafá de Belém sem peitos. Gargalhei sadicamente ao pensar no esforço que o perneta fazia para me acompanhar. Além do mais, de cachimbo na boca!... Vê se pode?... Não, neguinho!... Melhor parar!... Paramos. Chamei o Saci para dar uns conselhos:

-- Vem cá meu amigo Saci, deixa eu te explicar... Sinto muito mas você não pode ser corredor!... Primeiro, você teria que abandonar esse cachimbo, trocar a carapuça por um boné e instalar uma dessas próteses modernas onde não tem perna... Em suma: Acabaria o Saci!... Sim, eu sei... Sei que as matas que você habita estão em chamas... Sei que chiitas religiosos demonizam você e o nosso folclore... Sei que o Comércio pouco se lixa, quando importa o Halloween... Aguenta as pontas!... As chuvas virão restituindo as matas e a sua alto-estima! Volte a ser Saci!... Você é nossa referência de brasilidade!

Neguinho Saci me ouviu e se foi. O ar ficou sereno eu completei meu treino. Fechei os 13 quilômetros em 59 minutos, embaixo do sol forte. Tive um sentimento de missão cumprida, não pelo treino, mas por ter encontrado o Saci e não querer convertê-lo ou exorcizá-lo. Por via das dúvidas, no entanto, pensei:

-- Quer saber?... Vou continuar correndo de manhã!... Vai que correndo à noite eu depare com a Mula Sem Cabeça, que tem labareda de fogo no lugar das ventas?... Credo em Cruz!...


Uma bela animação, sobre Saci Pererê, que encontrei no YouTube.

Link da versão anterior "Correndo com o Saci": 
http://www.birananet.com/2010/09/correndo-com-o-saci.html

Abraço!
Bira.






(...) Quando o asfalto ferveu, os carros trouxeram lufadas de vento para amenizar. Lufadas de vento morno, temperado com fuligem e poeira. Lufadas violentas que arrancam os bonés (...)

A série "Além do Blog" continua trazendo novas maneiras de contar histórias já descritas aqui. Em "Correndo no Vale da Morte", eu faço nova descrição de um treino duríssimo pela Rio-Petrópolis...

Além do Blog VII - Correndo no Vale da Morte!

Amigos!

-- A Rodovia Washington Luiz são quatro retas paralelas rumo ao infinito... E se é verdade que as retas se encontram no infinito, lá não haverá divisórias ou canteiro central. A partir do infinito, a estrada seguirá em pista única e altamente perigosa, feito a Régis Bittencourt...

Foi esse o devaneio que eu tive, correndo no acostamento da Rodovia Washington Luiz. Era manhã de sábado, quando saímos em cinco: eu, Sandro, Ozéias, Murilo e Alex. Nós correríamos os 30 quilômetros que separam Cordovil de Xerém, num treino previsivelmente duro.

O verão já estava no fim, mas o sol impertinente de março não aceitava esse fato. Por isso ele expelia desde cedo seu ódio, numa revolta ofuscante. O astro impaciente já enfornava a estrada às nove e meia da manhã. Nós começamos a assar feito frangos no espeto - frangos corredores no Vale da Morte.

Mas cabe aqui uma explicação: àquela altura, a rodovia não cruza nenhum vale. O trecho que percorríamos pertence à Baixada Fluminense. A longa estrada que começa próximo à Baía de Guanabara, vai se afastando gradativamente, rumo às serras de Petrópolis. Meus colegas chamam aquilo de Vale da Morte em alusão ao Death Valley - uma região do deserto da Califórnia onde a temperatura pode superar 56ºC.

Nosso "vale" também era abrigo do calor e não parecia ser boa ideia correr ali. Quando o asfalto ferveu, os carros trouxeram lufadas de vento para amenizar. Lufadas de vento morno, temperado com fuligem e poeira. Lufadas violentas que arrancam os bonés. Lufadas que mais freavam a corrida do que refrescavam o corpo. Lufadas que zuniam no ouvido, abafando o rugir dos motores raivosos. Lufadas que mais pareciam um bloqueador de futebol americano. Que por um longo trecho davam a impressão de que corríamos sobre uma esteira rolante, sem sair do lugar. Em nosso Vale da Morte não éramos vistos pelos carros e nos precavíamos seguindo na contra-mão. Talvez fôssemos apenas manchas na visão periférica dos motoristas apressados. Para nós, também, os carros passavam como rastros. Rastros que faziam vrummm...

O desgaste foi grande e eu fiquei para trás. Só revi os demais corredores na parada que é feita em um posto de gasolina do Bairro Pilar, depois da Refinaria Duque de Caxias, na metade do percurso. Feita a hidratação, recebi uma boa notícia: Devido ao calor, o pessoal resolveu não prosseguir. Os 15 quilômetros que fizemos pareciam 30...

O tempo passou, lá se vão três anos, mas o Vale da Morte continua nos esperando. Perdi um pouco da condição de treinar com aqueles caras feras, mas quem sabe essa postagem instigue a todos a voltar para fazer o trajeto completo?

Abraços!
Bira.





"Além do Blog" é um desafio para descobrir novas maneiras para contar as histórias deste site. Nessa brincadeira eu posso mudar o ângulo ou a interpretação de uma cena. Refaço imagens, recrio, cresço e pavimento o blog... 

A história a seguir, no entanto, eu não ouso mudar sequer uma frase. Ela foi contada na postagem Gilmara Encontra Gilmara  que me emociona sempre que leio e o mesmo se dá com muitas pessoas. Vou repeti-la na íntegra no final deste texto, mas antes quero acrescentar alguns fatos... 


Na montagem, as alegrias de Gilmara corredora e passista.


(...) Reúno todas as forças que me restam. Amplio o quanto posso as passadas. Acelero os movimentos aspergindo gotas de suor pra todo lado (...)

Continua a série "Além do Blog" , trazendo novas maneiras de contar as histórias daqui. Em "Dois Minutos", os momentos empolgantes da chegada na Meia Maratona Asics, na Praia de São Conrado...

Além do Blog III - Dois Minutos

Amigos!

Pronto!... A última curva foi feita e faltam apenas 600 metros para a linha de chegada! 600 metros traduzidos em intermináveis dois minutos! Reúno todas as forças que me restam. Amplio o quanto posso as passadas. Acelero os movimentos aspergindo gotas de suor pra todo lado. Sugo para dentro de mim todo o ar que o mar soprou sobre a Praia de São Conrado.  Aproximo-me das margens, ao entrar no corredor de chegada, e tenho a sensação de que a minha velocidade aumenta ainda mais. Alguém me aplaude, mas não dá para reconhecer. Por instantes as pessoas se transformam em manchas - rastros coloridos que se misturam como toda a visão periférica. Todos os sons também se fundem nas proximidades do pórtico de chegada, formando um burburinho que é quase silêncio. Sem enxergar ou ouvir direito, sigo desabalado querendo engolir cada segundo. Minha visão se faz em cone - mergulho num túnel de cores difusas e vibrantes de emoção... Queimo a emoção para produzir energia e esqueço que estou exausto. Passo voando sobre o tapete que encerra o percurso!...

Interrompo o cronometro de pulso e confiro o meu tempo de prova. Cambaleio, resisto à vertigem e abraço o meu amigo Hélio que também chega vindo detrás. Ele foi o grande responsável pelo meu bom rendimento nos dois quilômetros finais dessa meia maratona, sobretudo pelo meu sprint final. Surgiu ao meu lado no momento mais difícil, quando eu já estava desistindo de tentar manter um ritmo forte na prova. Equiparou-se comigo no km 19, disse alguma coisa para me animar e começou a abrir. Eu tentei acompanhá-lo e tive sucesso. Ajudado pela descida, eu realinhei de novo, mas ele reagiu retomando a frente. O passa-passa  reacendeu minha força-mental e eu esqueci do trauma de ter sentido cólicas no km 18, onde quase quebrei. Quando vislumbrei ao longe a linha de chegada, ultrapassei meu amigo pela última vez. Mergulhei nos dois minutos finas da corrida e fiquei possesso, sem olhar para trás.

Meu tempo final não foi lá grande coisa: 1:38:45h... Afinal de contas eu estive praticamente quebrado na prova... Mas aqueles dois minutos finais são inesquecíveis!

No final da Meia Maratona Asics 2012, Hélio Galhardo e eu posamos com o maratonista Solonei Silva - atleta da Asics.

Abraço!
Bira.




(...) Encontrei tudo muito diferente no mundo da corrida. A atividade antes vista com estranheza virou moda. Os corredores já não eram chamados de "doentes mentais" e sim de "gente saudável" (...)

A série"Além do Blog" traz novas maneiras de contar as histórias já descritas aqui. Em "Meu País: Maratona", a emoção de superar os 42 quilômetro da grande prova... 

Além do Blog II - Meu País: Maratona

Amigos!

Esqueça tudo que você entende de corrida de rua hoje: Esqueça das suas camisetas e bermudas tecnológicas que não retêm suor. Esqueça dos seus tênis importados que se adaptam ao formato do pé. Esqueça do seu frequencímetro Garmin que localiza o satélite para medir o percurso. Esqueça até mesmo dos seus fones de ouvido. Esqueça, sobretudo, dessa grande quantidade de amigos corredores que treinam contigo...

Pronto, agora você está em 1985 e corre sozinho na beirada do asfalto. Seus tênis são feitos de lona azul e têm sola dura de borracha. Sua camiseta é branca de algodão. Ela vai ficar encharcada de suor, vergonha e raiva, quando alguém lhe chamar de maluco na rua...

Isso mesmo, em 1985 e só os "loucos" corriam, enquanto as "pessoas normais" davam longas tragadas em seus cigarros, imitando os atores de Hollywood e desportistas dos um comercias de TV (confira o vídeo). Existia apenas uma revista (a Viva) especializada em corrida e a internet, com seus sites e blogs sobre o tema, só explodiria entre 10 e 15 anos depois. Aqui no Rio, o jornalista pioneiro neste assunto foi José Inácio Werneck, no Jornal do Brasil. Foi na sua coluna que me inspirei para participar da minha primeira maratona: A Maratona do Rio'85. Sem ter nenhuma noção do que encontraria pela frente, comprei um belo par de tênis branco e me inscrevi para a grande prova, repleta de corredores da elite internacional.

Quando o sol começou a descer atrás dos prédios que margeiam a Praia do Leme era tarde-sábado de junho-85. Os acordes do Bolero de Ravel se elevaram sobre seis mil corredores espremidos e ansiosos no corredor de largada. Foi um tiro de canhão que provocou o estouro daquela manada. Meu choro, ali no meio, também não se conteve e tentou denunciar inutilmente a todos minha emoção. As largada e chegada daquela corrida foram momentos marcantes na minha vida. Para completar a prova, no entanto, intercalei entre correr e caminhar por longas de 5 horas e 28 minutos. Eu não tinha experiência nem feito um único treino para chegar ali. Entrei na maratona pela janela e acabei sendo fisgado: No ano seguinte voltei a fazer a Maratona do Rio além de São Paulo. Depois parei por nada menos que 22 anos!...


Comerciais, impensáveis nos dias de hoje, associavam cigarros ao esporte... Naquele contexto, "maluco" era quem passasse correndo na rua: "Ao Sucesso!..."


Voltei a correr em 2008 e em 2010 fiz a Maratona do Rio. Encontrei tudo muito diferente no mundo da corrida. A atividade antes vista com estranheza virou moda. Os corredores já não eram chamados de "doentes mentais" e sim de "gente saudável". Ignorei que já não tinha mais vinte e tantos anos, e vesti roupas coloridas, e ganhei identidade de atleta. O que não mudou foi o encanto e a felicidade que a prova desperta. Regularmente treinado, aos 50 anos, concluí a Maratona do Rio em 3 horas e 36 minutos. O choro na chegada não foi suficiente para dissipar minha emoção. Ao chegar em casa, entrei no Orkut - que ainda era usado na época - e escrevi o seguinte texto:

 A MARATONA É COMO A VIDA

A maratona é como a vida: Nos primeiros quilômetros, ainda no Recreio dos Bandeirantes, enquanto à nossa direita víamos violentas ondas se erguerem do mar, transformando aquele azul eterno na branca espuma que logo morre na areia, do outro lado da estrada onde corríamos, havia um o mato verde, calmo e fecundo, sob o manto do orvalho, num dos trechos esportivos mais belos do mundo. 

Recebíamos contra o peito fortes lufadas de vento e, mesmo neste momento supremo, eu consegui me preocupar... Tentei vislumbrar além da estrada o meu destino - O Aterro do Flamengo - e pensei: "É longe demais!... Não dá pra ver ou calcular, atrás de qual montanha distante e esbranquiçada está a linha de chegada..."

Tal qual ocorre na vida, não daria para assegurar o resultado. Era preciso, simplesmente, viver cada passada. E assim perceber que aquele vento frio, matinal de inverno à beira-mar não era o bastante para nos congelar, apenas refrigerava. Nosso sangue estava quente e expelia o calor e energia, e expulsava o suor. Se por um lado perdíamos sais minerais, por outro, nos desfazíamos de toxinas. Poderíamos recuperar os sais no próximo posto de hidratação, sorvendo um isotônico, mas as toxinas, que ficassem pelo caminho - pisoteadas no asfalto como copinhos de água mineral.

Sim! Nós maratonistas somos privilegiados pois colhemos ao longo de 42km de estrada os frutos do que plantamos no asfalto e que regamos com o próprio suor, dia a dia, treino a treino. Ao fim da maratona, passadas 2h50min, ou 3h25min, ou 4h20min... não importa o tempo de cada um, cruzamos a linha de chegada para descobrir que a felicidade sempre esteve ao nosso lado, pelo caminho. Ela esteve no olhar de um amigo - feito ali mesmo naquele trajeto - ou no sentir o vento, ou no pisar no asfalto, ou no ouvir o barulho do mar, ou...


A maratona é como a vida: Longa e desgastante para quem não percebe a brevidade da onda, que se desfaz na espuma, que se chama felicidade, que morre e renasce a todo instante #


Meu País: Maratona


Continuei a correr maratonas (42 km) em Porto Alegre, Buenos Aires, Rio de Janeiro e Buenos Aires de novo. Depois andei lesionado e me limitei às corridas mais curtas, mas nada é como uma maratona!... Pensando melhor, a Maratona não é uma prova e sim um lugar. Um lugar que se desloca pelo mundo e abriga pessoas felizes, mesmo que estejam em sofrimento físico. A Maratona é minha terra! Quando eu digo "sou maratonista", refiro-me à minha nacionalidade. Meu país Maratona abriga pessoas das mais diversas raças, culturas e níveis sociais. Meu país Maratona me torna igual, lado a lado os com demais corredores, trocando forças pelo difícil trajeto. Lembro-me de quando completei a Maratona de Buenos Aires 2010 e não contive um forte choro, após cruzar a linha de chegada. Um argentino que veio logo atrás me amparou com um abraço de irmão, dizendo não menos emocionado que eu:

- Campeón... Eres un campeón!...

Desabei em soluços sobre seu ombro solidário e depois nunca mais o vi. Meu irmão argentino e eu somos maratonistas, habitantes de um mesmo país que tem 42.195 metros de emoção. ##

Abraço!
Bira.







(...) Raios solares avivaram o laranja que vestia os corredores... Três mil corações bateram no ritmo de música eletrônica... Foi dada a largada e eu estava correndo de novo! (...)


A série"Além do Blog" trará novas maneiras de contar as histórias já descritas aqui. Em "Nunca é Tarde", memórias de infância ocorridas concentração da Corrida Leblon - Leme têm destaque... 

Além do Blog I - Nunca é Tarde...

Amigos!

Para dizer a verdade, em pouquíssimas vezes eu tinha visto um sol recém-nascido no Leblon até aquela linda manhã de janeiro de 2008. Já com 48 anos de idade, eu estava voltando a participar de uma corrida de rua, nada menos do que 22 anos após minha última prova: a Maratona do Rio'86. E se a beleza matinal surpreendia, foi porque um carioca do subúrbio não vê a luz brotar detrás das ondas todo dia.

Cheguei cedo ao local de largada da Corrida Leblon-Leme, no finzinho da Avenida Delfim Moreira. Poucos corredores dispersos já estavam ali, próximo à subida da Avenida Niemeyer. Ainda sem ter amigos corredores, fui seduzido pela paisagem enquanto sozinho esperava o tempo passar. O hálito frio do mar escorreu sobre mim e eriçou os pelos de meus braços. Meus olhos se deitaram no horizonte e meu pensamento fluiu no tempo. Ele foi resgatar outros cenários da minha infância, querendo fazer comparações. Meu malicioso pensamento quis ressuscitar alegrias suburbanas, para me convencer de que a felicidade independe do cenário, por mais encantador que este seja...

Quando criança, meu passatempo, em Irajá, não poderia ser o surf, mas soltar pipa. Jogava bola de gude e chutava bola de meia. Subia nas árvores para comer cajá, goiaba e manga. Era uma infância muito boa, mas apartada dos bairros mais nobres da minha cidade. Quando alguém decidia ir à praia, pegava o ônibus 940 e descia em Ramos, no ponto final. Depois de atravessar a Avenida Brasil, deparava com a praia suburbana lotada - em época de águas bem menos poluídas. Nos anos seguintes, Ramos virou uma banheira de óleo e esgoto que o governo remediou construindo, ali, um piscinão. Há quatro décadas, não existia metrô para diminuir as distâncias ou internet para simular proximidade. O subúrbio, no entanto, parecia ter tudo para a felicidade de um menino que desce a ladeira em um carrinho de rolimã - muita liberdade e poucos riscos. Cabia na contagem dos dedos o número de "maconheiros" do bairro. Quando um guarda noturno passava soprando o apito, só assustava uns poucos ladrões de galinha, membros da única espécie de marginal do bairro. O tempo passou, eu e o bairro crescemos para o bem ou para o mal...

Caixas acústicas e a voz de Madonna me resgataram daquela viagem no tempo. Fiquei surpreso ao descobrir que faltava meia hora para a largada da corrida. Seriam oito quilômetros até o Leme e eu não me lembro, mas devo ter feito um breve aquecimento. Quase todos os três mil corredores inscritos já estavam ali, aferindo a todo instante a proximidade da largada. Raios solares avivaram o laranja que vestia os corredores... Três mil corações bateram no ritmo de música eletrônica... Foi dada a largada e eu estava correndo de novo!

A vantagem de começar a correr tardiamente é se ver em ascensão no momento em que o rendimento deveria estar caindo. No limiar dos 50 anos eu treinava ainda para saber até onde poderia chegar, o que é estimulante. Estabeleci como meta correr 10 km em 40 minutos e me dediquei em 2008 a quebrar essa marca. Com o ímpeto de um adolescente, corri várias provas naquela distância: Corrida de São Sebastião, Circuito das Estações, Nigth Run (na USP) e tantas outras. Fiz amigos na corrida e aprendi muito com eles. Meus tempos foram melhorando, mas o melhor que eu obtive nos 10 km foi 41:33 min. No ano seguinte abandonei a meta para fazer corridas mais longas, como a Meia-Maratona da Cidade 2009 (21 km, no tempo de 1:36:h que me encheu de orgulho, na época). Estabeleci um nova meta: correr maratonas a partir de 2010!...

...Mas isso é assunto para próximas postagens.

Continua em: "Além do Blog II - Meu País: Maratona"



Abraço!

Bira.