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Foto de arquivo pessoal editada - Bira, 16-11-16.


O Corredor de Longão


Lá vai o corredor de longão!... Assustando as pessoas quando descobrem que ele corre por mais de três horas seguidas, engolindo lentamente cada quilômetro, feito a jiboia que engole um boi. Costurando as ruas e os bairros, revisitando a nobreza de alguns e a degradação de muitos.

Ninguém conhece os lugares melhor do que o corredor de longão!... Ninguém possui amor tão intenso pelo chão onde pisa. Ninguém consegue fazer amor com a cidade como ele faz, tocando nas partes mais sensíveis da sua amada. Ofegando e gotejando, sobre ela, vapores e suores de prazer. É no sobe-e-desce das ladeiras e no entra-e-sai dos becos que ele é conduzido ao clímax explosivo de um retão. A seguir, desfalece satisfeito sobre a relva, acariciado pela brisa e envolto pelo céu.

Lá vem o corredor de longão!... Arrastando uma lufada de ar que ventilou toda cidade... Ah, se todos fossem como ele, dia após dia, aos milhares, aos milhões! Milhões de pernas inquietas, movimentando o ar. Os capilares de cada corpo serão como as ruas, onde os corredores de longão circulam feito seus próprios plasmas. Imagina milhares de cidades repletas de corredores no entorno de um mundo, plasmando energia!... Indo e vindo num longão sem começo, nem fim, nem direção, nem limites, nem fronteiras!

Lá vai o corredor de longão!...

Lá vem o corredor de longão!...

Nos capilares de um mundo ideal... Muito além das cidades... Dentro e fora dele mesmo, no tudo, no todo... Lá vai!

Abraço!
Bira.
Não há nada melhor do que brincar de correr!... Esqueça que você tem que melhorar seu tempo, abra mão do desempenho e desempenhe o melhor de si. Corra sorrindo na cidade mais bela do mundo, no percurso mais belo do mundo, seja tão belo quanto o lugar que percorre!...

Brincando de Correr na Meia do Rio! (vídeo) 

Amigos!

Corredores interagem com a plateia na Avenida Niemeyer: Alegria!

Esta postagem é dedicada ao meu amigo virtual José Antônio Martins que, há pouco, pediu (via Facebook) que eu fizesse um post falando de hidratação. Eu expliquei que sou leigo e não poderia falar de hidratação, só de forma poética. Depois fiquei pensando como isso seria possível... Mas creio que consegui!

Homem-Água -- Animação montada com imagens da internet - Bira, 24/07/14.

Amigos!

Então Vais, Homem-Água!


Estás correndo e nem imaginas a quantidade de água que evapora de ti.
Sentes o boné encharcado, gotejando incessantemente pela aba.
Teu suor secou em segundos ao tocar no asfalto, mas tu nem vistes porque já cruzastes a esquina.
A água escorreu de ti e grudou tua camisa no peito.
Dentro de teu peito mais água fervilha.
Dentro de teu peito tem um caldeirão de locomotiva.
Só te falta apitar pelos trilhos imaginários desta rua...

-- Então vais, que o pórtico de chegada te espera!

Estás correndo e nem vês que água que evapora de ti sobe para as nuvens
E que as nuvens esculpem a tua imagem no céu.
Bastaria que paraste para ver teu desenho formado nas águas que flutuam,
Da mesma forma que românticos veem São Jorge na lua.
Mas estás correndo e não podes parar...

-- Então vais, que o pórtico de chegada te espera!

Estás correndo e necessitas beber mais água no posto de hidratação.
Se fosse possível, passarias direto para não perder preciosos segundos.
Sorves para dentro de ti o líquido gelado que alivia o calor de teu peito,
Tens uma volátil ideia de parar para usufruir do alívio,
Por instantes, queres deixar que a água te irrigasse por dentro - corpo e alma,
Mas estás determinado a te superares e continuas...

-- Então vais, que o pórtico de chegada te espera!

Estás correndo e sequer percebes que és feito de água.
Corres, feito a água-vermelha dentro de tuas próprias veias.
Corres, feito a água-verde dos rios e a água-azul do oceano,
Corres, feito a água invisível do ar que se revela no céu, onde tu estás esculpido.
És água que corre e se espalha dentro e fora de ti!
És muito mais que um corredor assim reconhecido e identificado,
És Homem-Água, és Vida...

-- Então vais, muito além do pórtico de chegada!

Abraços!
Bira.







(...) Quando eu pensei: "Deve ser um desocupado ou mais um boa-vida! Se tivesse o que fazer não estaria correndo..." Fui pro bar, desanuviar de mais um dia estressante no trabalho e o corredor sumiu na esquina (...)

Montagem com foto pessoal e imagem da internet - Bira, 10-07-14.

Rua Turva, Corredor Radiante!


Amigos!

Quando o tempo fechou, a tempestade caiu e tudo escureceu... Um corredor radiante surgiu!

Quando negros eram os meus olhos e o teto do guarda-chuva, o corredor radiante refletiu sua cor no chão molhado do asfalto. Pouco se podia pensar debaixo daquela chuva. Era urgente buscar um abrigo. As ruas ficaram vazias de gente e de carro.

Quando o sol se escondeu, a rua ficou turva e tudo entristeceu... Um corredor radiante surgiu!

Quando eu pensei: "Deve ser um desocupado ou mais um boa-vida! Se tivesse o que fazer não estaria correndo..." Fui para o bar, desanuviar de mais um dia estressante no trabalho e o corredor sumiu na esquina. Um amigo alto falava alto e do alto de sua boca também chovia. Coisas de bar... Palavrões provocavam risos nas piadas, nas críticas ao governo, provocavam a ira.

Quando a mesma conversa abrangeu futebol e igreja, foi melhor tomar mais um copo de cerveja!

Quando eu pedi outra gelada não percebi que a chuva parou. O céu abriu, mas já era noite e pouca coisa ainda brilhou. Pessoas e carros voltaram a circular entre as sombras. Vira-latas voltaram a disputar as sacolas de lixo no beco escuro.

Quando o bar esvaziou, a surpresa surgiu na figura do corredor radiante que ali entrou!

Quando o corredor pediu água sem gás, ele queria repor o líquido que escapava de sua testa. Quis sorver toda a garrafa em um longo gole, mas interrompeu a ação para respirar. Era visível a energia que fluía de seu corpo. Era visível a alegria que seu olhar distribuía. Antes que o balconista lhe perguntasse, ele respondeu: "Coloquei mais 25 km no saco!". Fiquei admirado, quis saber como, puxei assunto.

Quando o corredor radiante me convidou eu fui, no dia seguinte, e me pus a treinar!

Quando o sol renasceu por detrás das montanhas distante, fui apresentado a um monte de gente radiante. Fui fisgado no mesmo segundo e mergulhei naquele mundo. Primeiro sofri, depois perdurei. E quando me desapeguei de conferir os resultados, já se passaram meses e meses e lá estava eu, correndo no solo molhado...

Quando o tempo fechou, a tempestade caiu e tudo escureceu... Um corredor radiante surgiu, e era EU!

>> Eu Precisava Correr na Chuva! - Correr na tempestade pode ser perigoso... e excitante!

>> O Corredor, A Cidade e O Lixo - Maus hábitos e desordem não podem impedir a corrida!

Abraços!
Bira.




(...) Os bebês estão sujeitos à mortalidade infantil, no primeiros ano de vida. Os corredores estão sujeitos a desistir nos seus primeiros três meses. O corpo dói e precisa se acostumar (...)

Gif animado composto com recortes de imagens da internet - Bira.


Além do Blog IX - Sair do Sedentarismo


Amigos!

Há três anos, uma amiga me perguntou no Facebook: "Como começar a correr?" Achei que eu fosse realmente capaz de orientá-la e respondi, diga-se de passagem, com uma postagem muito ruim. Dei conselhos estéreis, citei a mim mesmo... Fazer o quê? Era o que eu tinha para dar... Agora que estou reeditando postagens antigas em "Além do Blog", Faço de contas que a pergunta chegou há pouco e vou tentar me redimir, a seguir:

Como Sair do Sedentarismo?

Minha amiga Virgínia enviou a seguinte pergunta:

Bira... Parei de fumar tem 1 ano, engordei, odeio academia, e acho que vou amar correr, mas não sei como começar, por isso quero muito uma luz sua, como devo iniciar esse processo, pois to muito perdida. Vou ficar aguardando, beijos.

Olá, Virgínia!... Gostaria muito de lhe passar uma fórmula, mas a verdade é que eu não tenho essa fórmula! Quanto mais tempo estou na corrida, menos tenho para ensinar. Desculpe a sinceridade, mas a vida é assim, recheada de incógnitas. Algumas dicas, no entanto, eu aprendi e posso repassar:

Iniciar a correr é como começar a viver. Você é um bebê, não sabe nada, apenas chorar. Essa sua pergunta é como o choro do bebê... Então perceba: você já começou a viver na corrida com esse choro. Bem-vinda!

Agora, Bebê Virgínia, prepare-se! Você vai continuar chorando muito, para sobreviver. Os bebês estão sujeitos à mortalidade infantil, no primeiros ano de vida. Os corredores estão sujeitos a desistir nos seus primeiros três meses. O corpo dói e precisa se acostumar. A mente precisa desapegar dos velhos padrões. A recompensa é muito pouca, quase nula... Você está disposta a encarar esses três meses?

Superado o período de risco, o bebê faz gracinhas. Ainda não começou a andar, mas vive sorrindo nas fotos postadas no Facebook. Por sua vez, você já tem alguns amigos corredores e vai se aventurar na primeira corrida de 5 km, no Aterro. Está meio assustada. Pretende apenas caminhar e trotar. Vai tirar fotos mostrando sua primeira medalha. Vai fazer gracinhas com os amigos e sorrir feito o bebê... Aproveita!

Quando o Facebook lhe surpreender com vários pedidos de amizade feita por corredores, você já não será mais um bebê, e sim uma criança no maternal. Seus tênis, frequencímetro e óculos esportivos corresponderão aos brinquedos. Nesse ponto, seu currículo exibirá uma série de corridas de 10 km e seu propósito será fazer a primeira meia-maratona. Seu abdome, cada vez mais sarado, vai render elogios e elevar sua auto-estima. Boa leitora dos sites e revistas especializadas, você entenderá de Corrida e até de Alimentação. Seus programas mudaram, consequentemente os amigos. Para compensar, uma velha amiga ingressou no mundo da corrida sob sua influência. Certo dia, você receberá um convite para participar de um treinão na subida da serra, com um grupo de corredores. Você irá, e esse gesto corresponderá ao de uma menina chegando para o primeiro dia no ensino fundamental.

A menina vai continuar crescendo e evoluindo tanto quanto você. Todos lhe identificarão como corredora. Você será referência na família, na vizinhança e no trabalho. Um belo dia alguém vai lhe enviar pelo Facebook a seguinte pergunta:

Virgínia... Parei de fumar tem 1 ano, engordei, odeio academia, e acho que vou amar correr, mas não sei como começar, por isso quero muito uma luz sua, como devo iniciar esse processo, pois to muito perdida. Vou ficar aguardando, beijos.

Você irá responder com a autoridade de quem sabe o que está falando, mas seus conselhos serão estéreis, como foram os meus. Ainda bem que você não vai parar de crescer, feito a menina no colégio. Ainda bem que você descobrirá, um dia, que não há respostas precisas para perguntas como essa. Descobrirá que "o processo" não tem começo nem fim, só o durante.

Quer começar a correr? Utilize o impulso desse desejo e se levante agora! Mesmo que você consiga apenas caminhar, nesse momento, faça! Contente-se, você entrou no "processo"! Você já é corredor no durante! Os resultados virão, mas o seu momento é agora!

Abraços!
Bira.





(...) Certo dia ele se encontrou com a veloz Corrida. Lançou-lhe o mesmo olhar tímido, que não conseguia seduzir ninguém, e ficou surpreso com a acolhida (...)

Imagem simuladora da conversa ocorrida no chat do Facebook, em 06/05/2014.

A Corrida Gosta de Você!


Amigos!

Ontem eu estava no Facebook, fazendo malabarismos para divulgar minha última postagem, quando o meu amigo Paulo dos Santos abriu um chat no rodapé e me perguntou assim:


-- Bira, o que se faz para manter esse físico tão legal de atleta?

-- Atualmente to meio devagar, mas vai ficar legal de novo... -- respondi sabendo que ele se baseava em fotos do meu perfil, tiradas há pelo menos uns 15 meses. Depois disso eu me lesionei, fiquei meio parado na corrida e por isso também parei de malhar. Fiquei menos feliz e mais gordinho... Mas voltemos às perguntas do Paulo:

-- O que você faz?... Corre muito?... Faz dieta?

-- Correndo não precisa de dieta. -- teclei.

-- Tem algum problema tomar cerveja e beber refrigerante?

-- Até hoje continuo tomando refrigerante. Cerveja só de vez em quando.

-- É bom saber... Estou falando isso porque você é veterano no assunto... Estou com 4.1 de idade. -- justificou meu amigo.

-- Começa caminhando e depois passa a correr aos poucos. -- aconselhei.

-- Preciso muito disso... Me educar nesse sentido. -- confessou o Paulo.

-- Corrida só é ruim nos primeiros três meses. -- incentivei sem mentir.

-- Ah... sim!... Certo... Você quer dizer: tem que se acostumar.

-- Não é você que tem de se acostumar com a Corrida, é a Corrida que tem de se acostumar com você. -- finalizei com chave de ouro, mas fiquei, eu mesmo, tentando entender direito o que acabara de escrever.

Depois saí para trabalhar com esta frase na cabeça, feito aquelas músicas que grudam na ideia. Então comecei a escrever para tentar desvendar meu próprio mistério:

A Corrida precisa se acostumar comigo?... Parecia besteira, mas ao mesmo tempo parecia ter fundamento...

Para não me atrasar no trabalho e nem perder o insight, peguei caneta e caderno e saí, rumo ao metrô. Fui caminhando e escrevendo, tomando cuidado de não tropeçar nas saliências da calçada. Atravessei a rua com um olho nos carros e o outro no caderno. Achei que seria melhor começar o texto modificando o verbo da enigmática frase, e ficou assim:

____________________________________

"Não é você que aprende a gostar da Corrida, é a Corrida que aprende a gostar de você."

A Corrida não quer saber se você tem dinheiro, beleza ou prestígio, mas fica caidinha diante de alguém persistente.
Conheço um cara que "não tinha um puto no bolso", era feio e ficava abandonado num canto. Ele portava apenas persistência e vontade...

Certo dia ele se encontrou com a veloz Corrida. Lançou-lhe o mesmo olhar tímido, que não conseguia seduzir ninguém, e ficou surpreso com a acolhida.
Encantou-se imediatamente com a Corrida e tentou seguir ao seu lado - como quem sobe num cavalo que passa selado...

Primeiramente correu leve, num trote, mas depois teve que acelerar para não ficar para trás. 
Despreparado, sentiu que seu coração quis sair pela boca, mas nem isso tinha condição: Sua boca era um túnel de vento sugando e expulsando o ar, cada vez mais rápido...

Seus poros eram fontes que jorravam suor. 
Ele até quis dizer algo para a Corrida, que se deslocava veloz, sorridente e tranquila ao seu lado, mas isso não foi possível...

Ela, no entanto, parecia ler seus pensamentos e percebeu nos seus olhos ardidos de sal, um encanto. Seu encanto era maior que o desespero de quem se esforça para não ficar para trás...

A Corrida notou que ele fazia um esforço supremo. Que mesmo sem preparo, ele não queria desistir: 
O moço tinha Persistência e Vontade!...

Diante disso a Corrida também se encantou por ele. 
Cuidou dele e mudou sua vida...

Deu-lhe tudo aquilo que faltava: Dinheiro, Beleza e Prestígio.
Mostrou-lhe que esses créditos eram apenas consequências do Encanto e do Amor...

O encanto e o amor pela Corrida tirou o homem do canto - colocou-o no centro da vida!
Mas antes,  foi preciso que a Corrida se encantasse pela persistência do moço, também...

É que a Corrida sabe que Persistência é uma caixa fechada, repleta de surpresas e qualidades.
É que a Corrida gosta de abri-la...

É que a Corrida gosta de você!... Persista!
______________________________________


Agora sim, eu posso responder direito às perguntas do amigo Paulo dos Santos. Vou mandar essa postagem para ele.

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Abraços!
Bira.


(...) Aumentei meu ritmo depois de cruzar a esquina. Na farmácia, uma moça que cheirava sabonetes interrompeu o gesto quando percebeu meu vulto do lado de fora. Apareci e sumi em frações de segundo, deixando uma imagem difusa a ser preenchida com a imaginação(...) 



Eu Faço o meu Tempo!


Amigos!

Quando acordei de manhã, eu ainda tinha 54 anos e uma dor de garganta muito chatinha, que prometia se agravar durante o dia. Apliquei spray de própolis nas amídalas e decidi sair para correr. Quando calcei o tênis, a atitude fez minha idade cair de imediato para 48, a mesma do período que eu decidi voltar a correr.

Fora de casa deparei com um céu sem manchas e uma avenida engarrafada onde as pessoas não tinham escolha, a não ser me ver passar. Não dava para correr rente ao meio-fio e eu me equilibrei pela calçada irregular. Atrás dos óculos escuros escondi o orgulho de quem corre. Embriagada de suor, minha camiseta se agarrou ao corpo. Imitando o suor, minha idade também se esvaiu: decresci em minutos para uns 38 anos(!), ganhei mais disposição e segui em frente...

Manhãs comuns têm gente chegando apressada na estação do metrô, tem apito de guarda no cruzamento, avisando que o sinal mudou de cor, e têm sombras compridas bailando no chão. Volta e meia pode até passar um corredor como eu - eles não são muito frequentes no subúrbio, mas passam... Aumentei meu ritmo depois de cruzar a esquina. Na farmácia, uma moça que cheirava sabonetes interrompeu o gesto quando percebeu meu vulto do lado de fora. Apareci e sumi em frações de segundo, deixando uma imagem difusa a ser preenchida com a imaginação. E a moça imaginou que eu tivesse uns 25 anos, mas não estava de todo errada: Era assim que eu me sentia àquela altura.

Se a cada trecho eu ficava mais jovem não era o corpo que mudava. Eu possuía os mesmos parcos cabelos grisalhos e o mesmo rosto cada vez mais demarcado. A mudança era interna, instantânea e inexplicável. A mudança também era única porque dependia do contexto momentâneo: engarrafamento, apito do guarda, moça da farmácia, etc... Peças aleatórias que podem surgir enquanto se corre numa manhã comum. Não, não é contradição mostrar elementos externos para explicar "mudanças internas" ou "inexplicáveis". O fato é que não há limites para quem se movimenta.

Continuei meu trote pelo bairro até que subi uma passarela para cruzar a Avenida Brasil. Já do outro lado, vi alunos concentrados em frente ao portão de uma escola, esperando a sirene tocar. Dois deles se aproximaram para brincar de correr ao meu lado. Aceitei a proposta e, por cerca de 50 metros, brinquei de correr com a dupla que aparentava ter uns 14 anos, cada. Assumi essa mesma idade até a próxima esquina e me despedi dos garotos com tapinhas de mãos. Segui migrando no bairro e no meu próprio tempo até o treino acabar - se é que esses treinos acabam...

Fui trabalhar sem dar conta de que a garganta havia parado de doer. Perceber que eu faço meu tempo era bem mais importante que isso!

Abraços!
Bira.


(...) Tudo parecia perfeito: você e seu Amigo Problema se divertiam feito dois irmãos adolescentes numa tarde de domingo, mas as aparências enganam, não era bem isso (...)


Vento frio e sorrisos no alto da serra, em frente às Torres do Mendanha - foto de Erivaldo Zim.


Problemas não Sobem a Serra


Amigos!

Na sua casa tem uma sala de TV que, entre outras coisas, tem um grande e confortável sofá. Foi nele que o seu Amigo Problema acabou de se sentar. Atrevido, ele se espalhou na maciez, parecendo até o dono do pedaço. Com um clique no controle remoto, acendeu a colorida tela de plasma. Abriu uma cerveja gelada e lhe convidou para sentar ao lado. Sem nada perguntar, Amigo Problema lhe deu um copo suado, espumante e irrecusável da bebida. Escolheu assistir aquele filme que você tanto queria ver, mas que nunca encontrava tempo. Antes de "dar o play", Amigo Problema pediu que viesse uma pizza e ela surgiu coberta de muçarela fumegante, cortada à francesinha.

De fato, o filme era bom e divertido, mesclando comédia e suspense. Seus olhos arregalados refletiam o brilho da tela e só se fechavam na hora do riso. Tudo parecia perfeito: você e seu Amigo Problema se divertiam feito dois irmãos adolescentes numa tarde de domingo, mas as aparências enganam, não era bem isso...

Quem observasse os detalhes da cena ficaria surpreso e chocado: Enquanto você se afrouxava em sorrisos com os olhos na tela, seu Amigo Problema também sorria, mas não era do filme: Ele estava rindo de você!... Envolvido pelas sensações de conforto e prazer, você nem percebia. A maciez do sofá, o cheiro da pizza, o sabor da cerveja, o colorido da tela e os som das caixas acústicas de sua sala de TV... Não bastasse tudo isso, ainda tinha um Amigo, comendo junto, bebendo e sorrindo!... Nem você, nem ninguém poderia imaginar que Problema se comprazia do seu sofrimento que retornaria depois do filme acabar.

Desculpe-me por desiludi-lo, mas seu Amigo Problema é um falso amigo que adora sofá. Ele está sempre ali e, nos dias de hoje, é praticamente impossível evitá-lo.

Falando assim, lembrei daquela velha piada do marido que foi traído no sofá: Para resolver o problema, não se separou da esposa, simplesmente vendeu o móvel... O exemplo veio a calhar, portanto não faça igual. Melhor usar estratégia e fazer aquilo que o Amigo Problema detesta, e ele desaparecerá.

Esta historinha de "sofá e Amigo Problema" surgiu na mente enquanto eu subia correndo a Serra do Mendanha. Éramos dezesseis corredores, na manhã deste sábado, trilhando uma estrada deserta de terra batida. Nove quilômetros de um caminho que serpenteia na mata, subindo em direção às imensas antenas plantadas a 900 metros do nível do mar: Ali não havia problemas, apenas amigos!

Fotos colhidas no treino Subida às Torres do Mendanha.


O Amigo Problema, no entanto, adora sofá. Está obeso e não consegue sequer fazer uma caminhada, que dirá subir a serra!... Perceba: Seu Amigo Problema tem dor nas costas e dificuldade para amarrar os sapatos. Sedento e sedentário, não gosta de berber sozinho. Tal qual um vampiro, esse falso amigo se alimenta da emoção alheia. Seca as almas de suas vítimas como parasitos secam as árvores, para depois apodrecerem abraçados e inebriados na ilusão de uma Matrix. Uma dica importante: Não tente se livrar do seu Amigo Problema, isto não é possível. Mas calma, não se desespere! Simplesmente caminhe, se não der para correr, caminhe!... Problema vai detestar e largar do seu pé: Sendo assim, é o seu Amigo Problema que vai fugir de você!

Na subida da serra cada um de nós, corredores, tinha seu próprio Amigo Problema (como não ter?) no entanto não parávamos de sorrir: Problemas não sobem a serra e ficaram prostrados bem longe de nós!

Abraços!
Bira.



(...) Enquanto eu corria, o céu azul estava ali. Ele abrigava passarinhos graciosos, pipas coloridas, urubus de voo sereno, nuvens robustas e um avião que vai para New York (...)

Montagem com recorte de foto pessoal e a imagem difusa do Shopping Via Brasil (Google Maps)...

Como a Corrida Dilui os Problemas?

Amigos!

Bastou que eu voltasse a correr para o mundo se mexer à minha volta. Pessoas, carro, árvore, casa, chão... O chacoalhar do movimento mistura tudo no olhar. Enquanto se corre, não dá para detalhar as imagens. Os sentidos se voltam à preservação da integridade física: A visão percebe o chão que está próximo ou a cinco, dez, vinte metros à frente. Ela atenta aos carros que surgem na esquina, à pipa voada que arrasta uma criminosa linha com cerol... A audição de um corredor, nas bordas do trânsito, está alerta ao barulho de um caminhão que se aproxima fora do campo da visão. O tato dos pés, mesmo protegidos, percebe o piso num trecho irregular, garantindo equilíbrio.

Neste estado de alerta cruzei a esquina e deparei com o Otimismo. Ele não tinha forma nem educação. Adentrou invisível pelas minhas narinas, invadiu o meu peito e, pela milésima vez, converteu minh'alma. Era mais um daqueles momentos em que todos problemas se tornam solúveis... Tentei me portar friamente e analisar o fato, pensando comigo mesmo:

- Como pode a corrida diluir os problemas mais difíceis?...

Foi quando um caminhão betoneira, mexendo concreto, quase parou ao meu lado. Na retenção do trânsito, em frente ao Shopping Via Brasil, eu sorri - achando que o fato era uma resposta velada à pergunta que eu acabara de fazer a mim mesmo:

- A corrida dilui problemas feito betoneira misturando concreto. Enquanto se corre, o olhar confunde os objetos (pessoas, carro, árvore, casa, chão e etc.) nas ilusões de ótica; o otimismo invade a quem o percebe sem entender como isso acontece... É que tudo perde a identidade individual. Tudo se mescla e integra um só elemento. É nessa hora, aparentemente confusa, que a mente descobre as soluções mais simples para os problemas da vida. É quando os problemas e as soluções se apresentam ao mesmo tempo, e se neutralizam, no universo indistinto das imagens difusas. Enquanto se corre, o mundo é uma betoneira sem limites circundada pela ilusão azul do céu...

Enquanto eu corria, o céu azul estava ali. Ele abrigava passarinhos graciosos, pipas coloridas, urubus de voo sereno, nuvens robustas e um avião que vai para New York... Cada uma dessas coisas aparentando serem objetos distintos, mas não eram, pois eu estava em movimento, vendo tudo se mesclar no meu entorno - otimista e diluído num universo indescritível...

Voltei!

Abraços!
Bira.