Moraes Runners Somos Nós!

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A bela história de Moraes Runners, um dos corredores de rua mais conhecidos do Rio de Janeiro.

Moraes Runners num Mar de Medalhas, montagem Bira - 13/06/15


Amigos;


Moraes Runners Somos Nós!

Depois de cruzar toda costa brasileira, o navio de guerra G 26 aproximou-se do  mar do Caribe, rumo a Porto Rico. Era noite e a tênue linha do horizonte separava o mar rasteiro de águas escuras de um outro mar: o mar das estrelas. No convés do navio, um marinheiro solitário ergueu a cabeça e seus olhos espelharam todos os astros do céu. Foi quando surgiu um terceiro mar intangível de saudade no seu peito, querendo afogar seu coração. Naquele momento, nem todos os sois de todos os céus brilhariam mais que os olhos de uma amada distante...

Em 1975, o jovem marinheiro Moraes cuidava da casa das máquinas do navio G-26, o Duque de Caxias. Essa função o mantinha abaixo do nível do mar na maior parte do dia. Seu dormitório também estava abaixo do nível do mar, onde escutava o bater das ondas. Ao final do expediente, costumava subir ao convés para pescar, respirar e refletir. Às vezes, se dirigia à popa do navio e fixava o olhar no turbilhão das águas, que o mar dissipava. Se no começo de uma missão tudo era festa. Bastariam três meses no isolamento para fazê-lo pensar; "Não vou ficar nisso para sempre!..."

Navio de Desembarque de carros de Combate Duque de Caxias, o G 26 da Marinha de Guerra.



Corrida e Futebol

Carioca de Padre Miguel, Moraes entrou para Escola de Aprendizes da Marinha, em Santa Catarina, aos 18 anos. Ali deu sequência à prática de esporte, iniciado na infância, nas competições de corrida entre colégios da Zona Oeste. Bom de bola, logo entrou para a seleção de futebol do quartel. Manteve-se invicto por um ano e quatro meses - todo período que atuou como cabeça de área da seleção. Já formado marujo, voltou para o Rio, onde foi indicado para servir no navio G 26.

Enquanto marinheiro, aproveitava os intervalos entre as longas viagens para jogar futebol ou dar uma corridinha. Começou a namorar e casou-se em 1980, ano em que deixou a Marinha, e conta:

-- "Bati perna" um pouquinho, até que em 83 entrei para a Secretaria de Segurança Pública...

Em terra, voltou a treinar sozinho e tentar convencer os amigos a correrem também, mas era difícil. Participou de algumas corridas e maratonas dos anos oitenta, mas sua prova marcante foi a Maratona Atlântica Boa Vista de 1990, com largada na Barra da Tijuca e chegada na Quinta da Boa Vista:

-- A família foi assistir minha chegada na Quinta, e na premiação teve a presença do Zico!

Paralelo à corrida, Moraes continuou a jogar bola até 2004. Nesse ano, foi convidado pelo corredor Valdecir a entrar para a Equipe Mula-Manca. Entrou, e no mês seguinte foi para Paraty, correr a "mini-maratona" de 18 km. O ex-corredor solitário retornou à Paraty, por oito anos seguidos, junto à equipe.

A profusão das corridas de rua fez o velho marinheiro ganhar infindáveis amigos e vencer sua timidez. Mais valem, hoje, os seus inúmeros amigos táteis do que todo encanto das constelações distantes, na solidão do mar. Seu armário guarda um mar de medalhas, de tantas corridas, que já perdeu a conta. Conta que já fez uma corrida noturna, voltando para casa de madrugada, para acordar três horas depois e ir a outra corrida. Conta que correu em Niterói de manhã e depois partiu, imediatamente para o Rio, para concluir um revezamento no Aterro, uma hora depois. Conta que já correu em outros estados, até mesmo no exterior, na bela Paris. Conta que nunca se divertiu tanto, como na Corrida de Obstáculo (Rio Cross - em Búzios) feita com amigos do trabalho. Conta que adora os treinões coletivos do Jericinó, da Serra do Mendanha, que nunca esquecerá do histórico treinão organizado por Erivaldo Zim, na Ilha Grande. Contaria tantas histórias que acabariam com a bateria do meu celular. Faço de conta que eu posso vê-lo, enquanto apenas ouço. Faço de conta que posso testemunhar toda emoção que o seu olhar expressa, enquanto conta.

Moraes Runners (foi esse nome que ele escolheu no Facebook) não é um corredor de ponta, nem precisa. É um velho marujo de 60 anos e estatura baixa, que desaparece em meio ao mar de corredores. Acredito que quando Paulo Antonio Moraes escolheu o seu pseudo-sobrenome Runners (Corredores) no plural, ele quisesse dizer que Moraes Runners somos nós, não apenas ele!

É Runners quando se esconde entre os movimentos das cabeças, dos troncos e das pernas, em meio à multidão de uma corrida.

É Moraes quando abre os braços e um amplo sorriso para cruzar a linha de chegada!

Abraço!
Bira.


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