O Novo Monte dos Milagres, em Irajá.

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(...) Na manhã de hoje subi o "Monte" para ver de perto o que ali acontece. Às nove e trinta, o sol dava um banho de luz no relevo, acendendo o branco dos troncos das árvores e pedras caiadas (...)

Ninguém sabia dizer ao certo como a imagem surgiu em local de difícil acesso: milagre?

O Novo Monte dos Milagres, em Irajá.

Amigos!

Naquela manhã de 1971 os moradores de Irajá sequer tomaram café direito. O boato corria solto: Um raio caiu na pedreira de Vista Alegre - bairro próximo - esculpindo num flash a imagem de Cristo na parede de granito. De uma hora pra outra, pessoas brotaram afoitas de todas as esquinas, numa romaria espontânea, rumo ao local do milagre. Em meio à multidão que não parava de chegar estava eu, com 12 anos de idade, tentando entender o fenômeno. Jornais, emissoras de rádio e TV difundiram o fato para todo país.

Não durou muito tempo para alguém acender a primeira das milhares de velas, nem de fazer a primeira das incontáveis orações...
  
Além dos cariocas, vinham fiéis de vários estados tocar na pedra em busca de cura e milagres.

A cobertura do Jornal O Dia atraía cada vez mais pessoas de várias cidades.
Quarenta anos depois, pouca gente lembra daqueles fatos mas a cerca de 4 km dali, religiosos evangélicos criaram um novo templo a céu aberto, dentro da Região Administrativa, paralelo ao Metrô de Irajá.

Da plataforma elevada na estação do Metrô é possível enxergar casas mal-acabadas, amontoadas e construídas  irregularmente sobre adutoras da CEDAE - Companhia Estadual de Água e Esgoto. Mais de uma vez, o peso destas construções fez romper as tubulações. Canhonaços de água colocaram tudo abaixo e inundaram a região. Mas se o dia está ensolarado e a visibilidade é boa, pode-se observar lá longe os morros de Vicente Carvalho, Vaz Lobo ou Madureira, cuja distância até produz beleza...

Volta e meia uma usina de lixo da COMLURB espalha no ar um cheiro de embrulhar estômago. Ao lado dela tem o pequeno morro que ninguém via sob a camuflagem de um matagal. Não sei dizer como, a partir deste ano, a elevação foi ceifada do mato e ganhou um caminho com escadas cavucadas no próprio chão. Sobre a terra, então batida, caminhava um número cada vez maior de pessoas em direção ao topo, todos os dias. Isso chamava atenção de quem esperava o metrô no alto plataforma. Dali, podia-se ver mulheres e homens erguendo as mãos em gestos de súplica ou louvor.  Tal movimento se estendia mesmo no escuro da noite.

O mato deu vez à terra batida onde brotam troncos e pedras pintadas com cal...
... raios de sol se projetam sobre dois homens que oram com fervor...
... no "anfiteatro" de barro, os crentes se acomodam preparando mais uma oração...
Na manhã de hoje subi o "Monte" para ver de perto o que ali acontece. Às nove e trinta, o sol dava um banho de luz no relevo, acendendo o branco dos troncos das árvores e pedras caiadas. Alguns fiés se reuniam em pequenas rodas de oração, outros curvavam-se sobre o chão, suplicando em voz alta. Não consegui ficar por muito tempo ali.

... do topo do "Monte" é possível avistar grande parte do bairro de Irajá.

Pelo que sei, nenhum jornal esteve no local para registrar o fato. Se isso ocorrer é provável que tenhamos, 40 anos depois, um novo templo de milagres, agora na versão evangélica.

Obs.: Ainda hoje o "Monte" continua "ativo", como se fosse uma igreja a céu aberto. Recebe grande número de visitantes durante o dia. Problemas, no entanto, estão surgindo: Sabe-se no bairro que uma senhora já foi estuprada, no local, e durante a madrugada, os gritos dos frequentadores ecoam pelo bairro. (Postagem publicada em 20/08/2011, com texto revisto em 28/10/15).  

Abraços!
Bira.
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