Dentro do Velho Caderno

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(...) Não importava se a tempestade escurecera o dia porque os olhos daqueles moleques eram como refletores iluminando a esquina (...)



Dentro do Velho Caderno

Amigos!

A seguir, mais textos do velho caderno que estavam perdidas nos arquivos do blog: agora refeitas com os recortes de imagem montadas com Gimp.

City Tour

(1999)

"Proibida a prática de surf - No Surfing"

É curioso perceber que em meio a tanta beleza que premiou a praia de Boa Viagem - Recife PE - estas frases conseguem se destacar. Elas estão pintadas em algumas placas fincadas na areia, e não nos deixam esquecer da presença de tubarões nas mornas águas daquele litoral.

- Até Hoje, eles só pegaram surfistas. É que os surfistas vão além dos arrecifes - tenta tranquilizar o taxista.

Expandindo a visão, percebemos do lado oposto, diversos novos prédios surgindo ao longo da Av. Boa Viagem.

Voltamos o foco em direção ao mar que transforma a luz de um sol intenso em intenso verde-azul, a nos convidar, no zunido de uma brisa contínua que vem do oceano. Este vento desloca, grão a grão, a fina areia da praia em direção ao calçadão.

O coco gelado custa R$0,70, a sombra é grátis. Grátis apenas para dizer que não há valor que justifique uma obra da Natureza.

À noite, pode-se conhecer o Recife Antigo. Na Rua Bom Jesus, os restaurantes perfilados por detrás das antigas fachadas, espalham mesas e cadeiras nas calçadas. Na boa conversa, a espuma do chopp não deixa a garganta secar e uma excelente canção acaricia os ouvidos. A lua, justificadamente exibicionista, não poderia deixar de surgir e isso parece inspirar o cantor, que ao ar livre prioriza a Bossa-Nova.

Mas se é quinta-feira o ambiente se agita. Todo o Recife Antigo se toma. Tem exibição de frevo, maracatu, capoeira, parece carnaval. Tem "Dançando na Rua": grupos musicais se exibem em um palanque para que todo o povo dance sobre tablados. Quem não trouxe par, é só convidar um dançarino ou dançarina, identificados no uniforme, e começar a bailar.

Olinda é tão próxima que não se percebem os limites. A visão panorâmica, as igrejas antigas, as ruas estreitas e carregadas de história do Patrimônio da Humanidade. Os olhos invadem, indecorosos, o espaço entreaberto das portas e janelas das antigas casas de Olinda. Eles querem descobrir tesouros esculpidos, pintados ou bordados. Tesouros promotores da fé em forma de venerável imagem, ou promotores da paz, em forma de branco bordado.

A essa altura a noite já caiu sobre as margens do Rio Capibaribe. Um velho catamarã já está para sair e deslizar sobre as águas em um passeio. Estamos de novo nas proximidades do Recife Antigo. O mar e a cidade nos avizinham. Mais uma vez, alguém canta uma bela melodia. É quando se constata que a incansável brisa continua presente, enquanto a embarcação começa a se deslocar. O céu agora é negro e amplo, e, sem dúvidas, pertence à lua. Esta lua parece uma bela noiva a esparramar seu véu, em forma de reflexo, sobre as águas do Capibaribe. Neste momento, se deixarmos o romantismo se apossar de nossa alma correremos dois riscos: ou nos apaixonaremos ou choraremos de saudade. ###


Sem Eira Nem Beira

(1999)




O que Deus Está Fazendo?

(18-02-2006)

Quando eu era pequeno diziam que Deus morava no céu - para onde as pessoas iam depois que morriam, embora o que eu visse nesses momentos, fosse um caixão ser engolido pela terra.

O céu de Deus, no entanto, tinha um azul fantástico que eu nunca entendi porque o mundo não parava e sentava simplesmente para admirá-lo. Nele, alguns chumaços de nuvens brancos absorviam o brilho intenso do sol. Se no fim da tarde trovejasse, dava medo: Deus estava ralhando. Se começasse a chover, meu colega dizia que São Pedro estava mijando. Mas se o azul se escondia e as nuvens, antes brancas, multiplicassem e ficassem com a cor de pano de chão, era hora de se recolher... Isso, se não tivesse uma animada pelada debaixo de chuva!

Começava a competição; um bando de moleques embebidos de suor e chuva disputava a bola e gritavam gol mais forte que qualquer trovão. Não importava se a tempestade escurecera o dia porque os olhos daqueles moleques eram como refletores iluminando a esquina - Maracanã imaginário. Um raio riscava o céu, seguido de um estrondo e grito de gol.Até que uma mãe zelosa aparecia de guarda-chuva carregando seu filho para casa e fazendo a partida parar. Aí o sangue esfriava e alguém percebia: "Ta ficando frio e eu nem lanchei." A pelada acabava uma hora antes do fim da chuva e quando o céu se abria revelava estrelas.

Uma imensa lua amarela brotava no fim da estrada. Tudo era mais quieto na noite e o céu - casa de Deus e dos que se foram - escurecia. Enquanto meu irmão mais velho esperava o rádio terminar de transmitir A Voz do Brasil para começar a transmissão do futebol, olhei pro céu e perguntei: "O que será que Deus está fazendo agora?"

Abraços!
Bira.
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