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Amigos!


Pronto!... A última curva foi feita e faltam apenas 500 metros para a linha de chegada! 500 metros traduzidos em intermináveis dois minutos! Não penso nada a não ser em chegar, aliás, nem penso apenas corro. Depois de sete meses no estaleiro, para sarar a coxa, eu estava ali de novo. Tentando vencer a falta de ritmo e o meu amigo Hélio Galhardo, que veio ofegante, lá de trás, e equiparou-se comigo no Elevado das Bandeiras, quando faltavam dois quilômetros para a chegada. Debilitado, eu já estava perdendo a esperança de completar a prova abaixo de 1h e 40m, minha meta, quando o Hélio surgiu como um sinal de que eu poderia reagir se tentasse me manter ao seu lado. Na saída do Túnel São Conrado, a descida impulsionou nossas passadas.  Alternamos de posição até desembocar ali, a 500 metros da chegada, na Praia de São Conrado. Meu corpo exausto ainda teria pela frente dois minutos, então corri com a emoção. Retirei os fones de ouvido e me atirei naquele curto tempo onde cabia toda a vida e completei a prova em 1h38m45...

Pronto!... Estou de volta!

 Metros finais da Meia Maratona Asics Golden Four - Organização nota 10!
  

 Helio Galhardo e eu, posando ao lado de Solenei Silva - campeão da maratona de São Paulo.

Abraços!
Bira.
Amigos!


Esse banho quente de inverno deveria acabar apenas no verão!

Fecho os olhos e sinto a água que cai na cabeça, aquece e relaxa os ombros e escorre até os pés. O prazer emana do corpo em forma de nuvem que embaça o blindex. Mas quando os olhos se abrem, pouco se pode ver além do vapor. A toalha acolhe e consola o corpo ressentido pelo fim do banho. Depois de seca, a pele ainda libera sinuosos filetes de vapor, feito xícara de chá...

Passo a mão no espelho para revelar meu rosto que me diz em suas marcas: "Parabéns, pelos 53 anos de vida!


É julho. O sol já não aquece como antes e me permite correr em seu momento mais intenso para  manter o bronzeado. Agora eu tenho apenas cinco anos! Comemoro cinco anos de corrida enquanto a vida já me deu 53! Quando paro sou adulto e quando corro sou criança... Ainda vibro e penso em melhorar meus tempos, enquanto faço esse longão de 31 km.

Esse ano sofri com uma contusão na coxa. Fiquei travado, até nos treinos e só participei de uma corrida de 10 km. Passei de novembro a junho contundido e vendo a Maratona do Rio virar uma vaca a caminho do brejo. Tive dúvidas se voltaria a correr como antes e, preocupado, até deixei de ser criança enquanto treinava. E se eu treinava bem menos, as minhas calças - oportunistas - começaram a apertar! Era início de junho e eu me assustei: "Não quero engordar!" Ainda sentia aquele incômodo na coxa toda vez que corria, mas pensei: "Vou assim mesmo!"

Recomecei correndo à noite, na saída do trabalho. Do Centro da Cidade até Copacabana, ida e volta somando 21 k sobre a grama do Aterro. Iluminado pelos fachos dos faróis que fazem vrum, fui esquecendo de sentir uma dor fantasma. Duas ou três vezes na semana e mais um longão aos sábado. Em 16/06 tomei coragem e saí de Irajá, mais uma vez decidido a chegar em Copa. Foram sofridas 3h02min. Cinco dias depois, durante a Rio+20, fiz em 2h55min. Mais dois dias e cheguei com 2h44min. Animado, baixei essse tempo para 2h42min, em 07/07, e no sábado passado atingi a marca de 2h37min...

Passo a mão ajeitando o cronômetro que me diz com suas marcas: "Parabéns, pelos seus cinco anos de corrida!

Recebo um telefonema do Adriano perguntando se eu vou correr a Meia Internacional do Rio, digo que sim!

Recebo um e-mail do Ozéias perguntando se vou correr a Ultra-Amigos 50km, em dezembro, digo que sim!

A contusão se foi e os planos voltaram - até quando?... Não importa!... Isso é pergunta de adulto... Agora eu tenho cinco anos e vou correr!

Abraços!
Bira.

Gilmara Encontra Gilmara

Amigos;

Montagem com recortes de fotos do perfil da Gilmara no Facebook...


A luz amarela do sol da manhã banhava de ouro as casas de Cordovil e realçava o bronze da pele daquela moça, que caminhava na calçada. Seus cabelos fartos estavam presos e  seus olhos ainda continham o brilho das estrelas que a pouco se apagaram. A moça vestida de atleta, refletia no olhar sua paixão pela corrida, horas antes de uma competição.

O movimento é sempre pouco nas primeiras horas de um domingo suburbano. O frescor se mistura ao silêncio e é possível ouvir o canto distante de um galo. Àquela hora, poucos vira-latas ainda xingam quem passa. Poucos carros soltam rosnados, babando fumaça. O tempo não quer correr para quem espera. Então a corredora consulta o relógio e, no gesto, percebe que alguém se aproxima. Era uma mulher de salto alto, vestido justo, dourado com paetês cintilantes. "Nossa!... Que show! Deve ser uma passista" - concluiu a corredora com pensamentos e sentidos tão velozes que pareciam transformar os movimentos daquela mulher em câmera lenta.

- Bom-dia, corredora! - sorriu a mulher, sem reverência - Vai correr hoje?

- Ah, se vou!... Depois de quatro meses treinando, chegou o dia da meia-maratona!

- Que inveja, amiga! - a suposta passista já falava com a intimidade de velha amiga - você saindo pra correr toda esportiva e cheia de vigor, enquanto eu estou chegando mortinha do ensaio da Escola...

- Eu é que tenho inveja! - devolveu a corredora - você toda lindona nesse salto magnífico, tenho até de olhar pra cima pra falar contigo! Logo vi que você é passista... Mas é de qual Escola?

- Da São Clemente, com muito orgulho!... O ensaio de hoje foi show!

- E agora, vai dormir o dia todo?

- Que nada! Vou dormir um pouco e depois levar minha filha para escolher o seu presente de aniversário - 16 anos!

- Você já tem filha com 16??

- Quantos anos você pensa que eu tenho, corredora?... Tenho sim, uma filha linda, muito amiga, que me ouve e me dá conselhos... Isso mesmo: ela ficou madura antes do tempo, eu acho... É muito inteligente, extrovertida e carente... assim como a mãe... - a passista respirou um pouco para não perder a cadência e continuou: - Minha filha está fazendo o 2º Grau e um curso de comércio exterior, mas ainda quer se descobrir profissionalmente. Há três meses fomos ao oftalmologista e descobrimos que ela tem uma doença degenerativa nas córneas, sem cura e progressiva, chamada ceratocone. A notícia foi como uma facada no meu peito, fiquei depressiva e me afastei das coisas que mais amo. Até que a ficha caiu e eu consegui procurar ajuda. Eu tento fazer de tudo para tornar a vida dela o mais normal possível.

- Nossa!... Que mãe maravilhosa você é!...

- Nem sei como estou falando tudo isso, mas você me inspira confiança. Mas fala de você, corredora: Como arruma tempo para treinar?

- Acordando muito cedo e me juntando aos amigos corredores... Depois vou pro trabalho - sou analista de sistemas, responsável pelas informações da empresa em que administro toda parte de TI, voz, dados e equipamentos. Dou suporte a usuários, implanto sistemas, dou manutenção no site e no sistema corporativo, compro material de informática e software, instalação e configuração de servidores, backups e upgrades... Não é uma tarefa fácil!

- E mesmo assim dá pra correr? - perguntou a passista.

- É justamente por causa disso que hoje estou correndo!... Explico: Em novembro de 2009, a rede da empresa foi invadida por hackers e começou meu pesadelo - trabalhei dia e noite para recuperar todas as informações infectadas. Perdi noites de sono e trabalhei sobre pressão. A empresa teve que parar por três dias e isso me causou um transtorno imenso... Pensei que nunca mais fosse colocar a firma em pé novamente, mas consegui! Quando tudo estava terminado, comecei a passar mal do nada, na rua. Ter medo de coisas simples e triviais... de sair à rua, de tudo. Pensava que iria morrer a toda hora - uma sensação horrível que não desejo a ninguém! Desmaiava com medo de atravessar a Av. Presidente Vargas. Barulhos e tumultos faziam minha pressão subir. Nas crises, fui internada várias vezes. Não atendia ligações de amigos, vivia deitada no escuro e sozinha. Não assistia TV, nem ouvia música. A vida não tinha graça. Os remédios receitados me deixavam sonolenta a maior parte do dia, sem sorrir ou expressar nenhuma emoção. Minha família também começou a sofrer com isso, principalmente minha filha e minha mãe. Um belo dia fiz uma pequena oração pedindo a Deus que me enviasse o profissional que me curaria e assim Ele fez. Por desistência de uma paciente, no mesmo dia, consegui consultar-me com um médico que me receitou remédios simples e baratos e afirmou que eu estaria boa em 15 dias... Eu acreditei. Demorou um pouco mais, acho que 2 meses, mas foi aí que comecei a viver. Comecei a malhar e a praticar corrida aqui no bairro com os amigos que já corriam. Gostei tanto e isso me fez tão bem que logo me inscrevi na Corrida Vênus de Mulheres. Chamei algumas amigas e minha família ficou muito contente com a mudança. Recebia apoio de todos, família e trabalho. Corri os 10 km em 47 minutos - um excelente tempo para uma iniciante, foi quando minha empresa começou a me patrocinar nas corridas. Então treinei com acompanhamento profissional e consegui vários pódios. Conheci muitos lugares e amigos. Foram mais de 90 corridas até hoje, inclusive fora do estado e do país. A corrida me inseriu em várias outras atividades. Trouxe muita alegria e amigos maravilhosos. Devo à corrida a minha nova vida de saúde e felicidade!...

Nessa hora uma van cheia de atletas parou do outro lado da rua e buzinou. A corredora se despediu da passista, que estava surpreendida com o que acabara de ouvir, e na pressa partiu:

- A gente se encontra! - disseram ambas ao mesmo tempo.

Quando se deram contas de que não anotaram os telefones ou sequer perguntaram o nome, uma da outra, o carro já havia partido.


*           *          *

Quando a passista chegou em casa, sua filha ainda dormia. Com cuidado para não acordá-la alisou seus cabelos e beijou sua testa. Desceu dos saltos para escovar os dentes e tomar um banho. Vestiu a camisolinha e foi dormir um pouco. Sonhou que a São Clemente havia sido a 1ª colocada do Carnaval Carioca e que no Desfile das Campeãs, uma platéia de corredores lotava as arquibancadas da Marquês de Sapucaí, aplaudindo esfuziantemente a sua escola.


Enquanto isso, a corredora dava largada entre outros 10 mil atletas na Praia de São Conrado. Depois de subir e descer a Av. Niemeyer e não ter certeza se seu corpo apenas suava ou também chorava de emoção, desembocou na Praia do Leblon. Em Ipanema, estabilizou as passadas. Em Copacabana, superou o cansaço. Na Enseada de  Botafogo, recebeu as bençãos do Cristo e absorveu, no Aterro, toda força oriunda da imensa pedra que forma o Pão de Açúcar. Sentiu o gosto doce da vitória, ao cruzar a linha de chegada. Conferiu no relógio que fizera seu melhor tempo em uma meia-maratona, estando entre as primeiras de sua faixa etária. Sorriu, abraçou e curtiu os amigos. Tirou fotos, fez novas amizades... viveu!

Quando voltou para Cordovil já era mais de uma da tarde. Desceu da van na mesma esquina onde cedo embarcara, e para onde o sol, longe da brisa do mar, dispara seus raios ofuscantes. Então a corredora consultou o relógio e, no gesto, percebeu que alguém se aproximava. Era uma mulher sem salto alto, sem vestido justo ou paetês cintilantes, mas com o inconfundível sorriso de passista, que falou:

- Boa-tarde, corredora!... Como foi a corrida?

- Excelente!... Mas que bom que você apareceu! Nem tinha perguntado seu nome ou dito o meu, de manhã...

- Eu sou Gilmara!

- Peraí, você tá brincando?!... Eu também sou Gilmara!... E duas Gilmaras no mesmo metro quadrado é superpopulação!


Então as duas sorriram como sorriem as Gilmaras. Tagarelaram como tagarelam as Gilmaras. Se emocionaram como se emocionam as Gilmaras e num abraço de Gilmaras se fundiram, transformando-se milagrosamente numa só pessoa - corredora, passista, trabalhadora e mãe!... Sendo apenas uma, seus diálogos se transformaram em pensamentos. Sem entender o que ocorria, Gilmara beliscou-se para ver se não estava sonhando. Não estava. A multi-Gilmara era uma só! O lado mãe, no entanto, tomou as rédeas da ação e partiu para casa, onde sua filha de 16 anos, nem fazia ideia do abraço que receberia.

Quando abraçou sua filha, Gilmara mostrou na prática a essência daquilo que quis dizer ao finalizar o último e-mail que me enviou:

"... mas somos felizes! Deus sempre conforta nossos corações e nos ensina a lidar com as dificuldades."

Imagem 1 - montagem com Gimp, utilizando fotos do perfil do Facebook de Gilmara;
Imagem 2 e 3 - fotos do perfil de Gimara no Facebook;
Filme 4 - Youtube.

Abraços!
Bira.


(...) Pensou em sair de fininho mas o garçom, do chopp bem tirado, gentilmente lhe sorriu ao colocar mais um copo espumante e suado na mesa (...)

Montagem com imagens de amigos que saem do Facebook para festas - Bira, 2012.

Um Corpo Errante

Amigos!

Quando chegou na festa, Solano recebeu as boas-vindas da bandeja do garçom que logo passou servindo um chopp geladíssimo. O apreciador da bebida, não se fez de rogado e pegou um copo. "É um chopp bem tirado" - comentou para si mesmo. Se o líquido gelado deslizava sobre a língua e escorria na a garganta, minúsculas bolhas de espuma explodiam liberando prazer.

Mas o prazer não lhe sequestrou por mais que de cinco minutos. Logo percebeu que estava em pé num vasto salão onde não conhecia ninguém - que furada! Havia mesas disponíveis, todas com quatro cadeiras. Para não evidenciar seu deslocamento, preferiu não sentar e aproximou-se do bar. Para ganhar tempo, entrou na fila dos coquetéis e, outra vez, falou consigo mesmo: "O que eu estou fazendo aqui?!"

Era culpa do Facebook, por onde a aniversariante Fernanda lhe enviou um convite para a festa. Foi lá no Face que conheceu a moça há mais de um ano. Recebeu e aceitou seu pedido de amizade, mas não sem antes consultar o perfil da gata e conferir que possuíam 40 amigos em comum. Deu início, então, a uma relação de troca de "curtições" e comentários, "memes" e mimos... Até que um dia, justamente no momento em que espiava as fotos do perfil  da Fernanda, ela surgiu no chat de bate-papo, dizendo:

- Olá!...

Levou o susto de quem é flagrado, mas logo caiu em si:

- Que coincidência!.. - confessou respondendo - Estava no seu perfil vendo as fotos de Buenos Aires... Que bacana!

- Gostou?... Foi o presente de aniversário que eu dei para mim mesma: uma viagem com as amigas!

Rápido como um raio, Solano concluiu que Fernanda não estava namorando. Além de seus pais ou seu irmão, nas fotos do perfil não aparecia mais ninguém lhe beijando ou abraçando e, como quem não quer nada, falou digitando:

- Parabéns!... Dizem que é falta de educação perguntar idade, mas não para uma gata como você...

- To com 23 - digitou Fernanda.

- E a festa do seu niver foi boa?

- Vai ser amanhã, lá no Universitário. Estou te convidando.

- Sério??

-Sério! Vou lhe mandar um e-mail de confirmação com cópia para os organizadores que anotarão seu nome. Você vai?

- Vou. - respondeu Solano, sem pensar, e logo saíram do bate-papo. Um foi tomar banho e o outro dormir para acordar cedo...

- Senhor... Senhor... É a sua vez... Qual é o coquetel da sua escolha? - Agora foi a voz do coqueteleiro da festa, que trouxe Solano de volta ao desconforto local.

- Bem... Pode ser uma caipirinha com vodca mesmo, você faz?... Mas me diz uma coisa: Onde está a aniversariante que eu nem vi? - perguntou reservadamente ao rapaz do bar.

Fernanda ainda nem tinha chegado. Então Solano correu os olhos pelo salão, a começar pelo palco onde um DJ manejava seus equipamentos. A pista de dança ainda estava vazia, bem como metade das mesas ao entorno. Algumas foram juntadas para comportarem dois grupos maiores. Um grupo no canto mais distante do palco e outro bem ao centro do salão. Contou onze cabeças no grupo do centro. Ali todos tinham percinges, tatuagens e cabelos com cortes alternativos, às vezes coloridos. Batons, esmaltes e roupas pretas eram pontos comuns entre quase todos, que bebiam cerveja e sorriam, tirando fotos com celular. Solano gostaria de saber em torno de que assunto aquela turma gravitava, mas não gostaria de se transformar num deles para receber uma chave de acesso.

Não conseguiu ver detalhes de um outro grupo mais distante. Apenas que seus membros eram menos extravagantes. Entre bebericamentos, eles tentavam desenvolver algum assunto em concorrência com a música alta. Solano apostaria que seriam amigos de trabalho da Fernanda e que o cara mais velho do grupo, seu chefe. Solano também gostaria de saber o que falavam, mas caiu em si ao perceber esse desejo, e pela terceira vez falou consigo mesmo:

- Puta que pariu!... Sou um corpo errante nesta festa!

Pensou em sair de fininho mas o garçom, do chopp bem tirado, gentilmente lhe sorriu ao colocar mais um copo espumante e suado na mesa. Relaxou para beber mais um gole e constatou que o salão já estava quase cheio, quando o pessoal da mesa ao lado pediu licença para pegar uma de suas cadeiras.

- Pois não, pode pegar! - respondeu com um sorriso falso de quem pensava: "Até as cadeiras vazias estão me abandonando!..."

Naquele momento as luzes se apagaram e um holofote foi aceso, lançando seu foco para a porta de entrada, iluminando Fernanda que ali surgiu - no melhor estilo dos lutadores de UFC. O DJ aumentou o som e tocou o refrão de "Like a Prayer", com  Madonna. A estrela da festa ergueu os braços balançando os cabelos no transe da música e invadiu a pista de dança, agora tomada por gente. Luzes coloridas tingiram a fumaça cenográfica que aspergia do palco. Fachos de laser varavam o ar, potencializando o movimento das pessoas. Estupefato, Solano observava, lá de sua mesa, a transformação do ambiente. Quase todos ao seu lado foram para a pista, mas agora ele tinha o escuro como aliado, então continuou sentado e bebericando.

Solano gostaria de dar parabéns à Fernanda, mas naquele contexto isso seria inconveniente e pensou: "Que loucura!... Estou numa festa de aniversário onde é impossível falar com a aniversariante, que aliás, nem conheço pessoalmente e onde não conheço ninguém!... Eu poderia ir embora ou me infiltrar entre a fumaça da pista que nada mudaria, a não ser pelo meu ponto de vista..." Então ergueu o copo e falou em voz alta:

 - Estou invisível!... Um brinde à minha invisibilidade!

Foi quando um facho errante de luz, num instante, atravessou e iluminou o copo erguido. Era luz refletida e partida em pedaços por um globo espelhado, pendurado no teto. Solano olhou para o globo e lembrou do baile de despedida da sua turma de ensino médio, em 2001. Tinha quinze anos e namorava a menina mais bonita da escola. Tirava as melhores notas e era um dos craques no futebol de salão. Só que seus pais mudaram de cidade e ele não se enturmou de novo. Ficou cada vez mais errante. Perdeu popularidade mas descobriu o Orkut. Hoje, ele tem o Facebook. Na rede, reencontrou seus amigos de escola e acrescentou muito mais gente. Era tantos amigos, que se tivesse de encontrá-los cara-a-cara, levaria anos fazendo isso. Descobriu que na internet os errantes se agrupam num clique e aprendeu a clicar como ninguém.

- Mais um chopp, Senhor? - era o garçom passando de novo.

Aceitou outro copo. Pensou em falar alguma coisa com o garçom mas desistiu: se aquilo ali fosse internet o status do garçom seria "ocupado". Não sei dizer se Solano já estava bêbado, mas naquela hora concluiu que na internet não existia solidão - tem sempre alguém online, no Face, trocando "memes" e mimos, como fez Fernanda na hora que lhe convidou. Se presencialmente Fernanda está offline, tem muito amigo online esperando pelos seus cliques... Era isso que Solano precisava para enfim deixar a festa.

Abraços!
Bira.


(...) A menina que veio da roça já não brincava mais com a enxada. Cedo se tornou mulher e quando lavadeira, suas mãos perderam os calos ganhando unheiros provocados pela espuma do sabão (...)

Nesta foto de 1950, à esquerda a minha Tia Nancy (muito linda!), ao centro, uma amiga não identificada e à direita a minha mãe, Alzira, com meu irmão Ubiratan no colo - local provável: Campo de Santana, no Centro do Rio.

Amor de Mãe

Amigos!

Minha mãe não lerá este blog.

Não é nada disso que vocês estão pensando... Aos 84 anos, ela está vivinha! O fato é que ela não aprendeu a ler, mesmo. Na época do Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização), lá nos idos de 70, eu era criança mas ainda me lembro dela tentando assinar o nome. Infelizmente desistiu pois lhe faltavam óculos.

Minha mãe nasceu nos extintos laranjais de Araruama. Logo cedo aprendeu a manejar a enxada. Chegou no Rio em 1942 quando tinha 14 anos. Engravidou de Oscar, seu primeiro marido. Perdeu o primeiro filho, ainda recém nascido. O segundo vingou, é o João Batista, meu irmão mais velho, hoje com 69.

Eu não conheço os detalhes pois só nasci 17 anos depois. Mas ela se separou e se casou, de fato, com meu falecido pai, Jacy que gostava de batizar seus filhos com nome de índio. Meu velho nunca ganhou muito bem, mas foi agraciado por Getúlio Vargas - O Pai dos Pobres, que construía conjuntos residenciais para o povo, em Irajá. Não eram apartamentos compactos como se vê hoje, eram casas com jardim e quintal amplo, repletas de manga, cajá, goiaba, banana, cachorro e galinha. Pouca coisa resistiu ao tempo em Irajá desde aquela época. Os portugueses que plantavam hortaliças se foram e nos vastos canteiros de couve germinaram prédios. Muitas famílias mudaram, outras creceram e os quintais que ganharam casas, perderam árvores. A Paróquia de N. Sra. da Apresentação, segunda igreja do Rio de Janeiro, continua lá. O campo de futebol dos Filhos de Irajá F.C. também, mas com tapete de grama sintética... Irajá impermeabilizou seu solo.

Quando meus pais se separaram eu tinha 6 anos. João, meu irmão mais velho já estava casado e Ubiratan, aos 15 anos já começava a trabalhar. Minha mãe recebia pensão alimentícia, mas não era suficiente. Por isso tinha de lavar e passar muita roupa para sobreviver. Mesmo assim, lembro de ela ter me matriculado num jardim de infância - Sapatinho de Cristal - cujo ônibus vinha me buscar na porta de casa. A mulher analfabeta, lavadeira e desquitada, preocupava-se com a edução de seu caçula. Acho até que nem fiquei estudando muito tempo naquele jardim. Talvez ela nem tenha conseguido pagar as mensalidades, mas me lembro dos anos que ela pagou explicadoras para mim. A intenção era boa mas eu detestava. Uma das explicadoras, simplesmente me colocava para fazer algarismos romanos todos os dias!... Eu não aguentava mais!

A menina que veio da roça já não brincava mais com a enxada. Cedo se tornou mulher e quando lavadeira, suas mãos perderam os calos ganhando unheiros provocados pela espuma do sabão. Seu esmalte vermelho não era um simples sinal de vaidade, mas o disfarce oportunista das unhas inflamadas. Passava horas debruçada sobre o tanque de roupas, promovendo um rodízio de cigarros nos lábios. Falava muito. Chorava muito. Jogava muito no bicho e quando ganhava, sorria muito! Quando eu queria comer um doce, ela fritava banana do quintal e mergulhava no açúcar ou simplesmente fazia pirulitos de açúcar derretido para me dar...

Neste Natal de 2011, no terraço lá de casa, minha mãe posa para foto comigo e seus netos.

Para mim, foi extremamente difícil deixar a casa de minha mãe onde mesmo depois de casado morei por sete anos. As coisas ali já não estavam dando certo, mas aos 30 anos, o cordão umbilical não rompido teria virado uma corrente.

Talvez fosse até legal que minha mãe pudesse ler e entender esse texto, mas um texto não é nada. A menina roceira, que se tornou uma velha senhora não precisou se instruir para saber o que é amar. Bastou-lhe ser mãe!

Desejo um feliz dia das mães para aquelas nos ensinam a amar!

Abraços!
Bira.
Amigos!

A cabeça de Pedro parecia estar mais cheia do que aquele vagão de metrô. Daí que ele nem pecebesse o quanto estava espremido no meio das pessoas. Colocou os fones de ouvido e ligou o rádio do celular, muito mais para não ter de escutar as conversas do que propriamente ouvir músicas. O bafo de muita gente respirando próximo, no entanto, era inevitável.

O sol da manhã refletia seu brilho quente na chapa de aço do trem que corre a céu aberto na linha 2. As janelas lacradas de vidro temperado são telas de TVs que todas manhãs passam o mesmo filme - de Pavuna à Central do Brasil, quando a composição submerge aos prédios da cidade. Foi no entra-e-sai dos passageiros da Estação Central que Pedro descobriu seu desconforto físico e se fez presente. Até então, seus sentimentos viajavam num outro trem, de pensamentos e planos, que há muito tenta chegar à Estação Solução. Neste outro trem, Pedro é uma laranja, espremido não por pessoas mas por dívidas. Se uma dívida desembraca na próxima estação, outras duas entram aumentando o aperto! Ufa!...

Quando Pedro retornou ao aperto físico do metrô, desligou os pensamentos e retirou os fones de ouvidos do celular-rádio que perdeu sinal quando entrou no túnel. Toda manhã era assim, pipocando entre o aperto das pessoas e dos problemas, Pedro iniciava seu o dia.

No trabalho bastava-lhe o aperto do patrão. Não dava para colocar fones, nem se refugiar entre as dolorosas dívidas. O percentual de presença de Pedro ali deveria ser total, até que soasse o apito, anunciando o fim do expediente. Então Pedro respirava pela primeira vez no dia e seus lábios secos ficavam úmidos de cio ao pensar num chopp.


A libido etílica de Pedro lhe atirava num bar, onde ele recopulava entre sonhos e amigos idelistas, saudosos e politizados. Pela primeira vez no dia podia espalhar-se, abrir o palitó e dasatar a gravata. Falar sacanagem e filosofar ao mesmo tempo - não esquecendo de molhar a garganta com mais um gole do líquido amarelo e espumante. O percentual de presença de Pedro ali era total, a ponto de esquecer do passar das horas! -  Para dizer a verdade, acho que Pedro não estava propriamente ali, senão teria percebido que o garçom já recolhia cadeiras e mesas para lavar o chão... Onde estaria Pedro, então?

Horas depois Pedro dorme e baba na cama. Deitado de bruços com uma perna dobrada e outra esticada, um pé calçado e outro descalço, às duas da magrugada. Não lhe pergunte na manhã seguinte como chegou em casa, se sonhou ou não sonhou, ele não sabe a resposta. Para dizer a verdade, acho que Pedro nem vai lhe ouvir. Pois ele estará com fones de ouvido no vagão lotado ou completamente ocupado cumprindo ordens do patrão. Pode até ser que você fale com ele lá no bar, entre as filosofias e sacanagens, junto aos amigos inteligentes e politizados, mas não espere encontrá-lo de fato:

Onde quer que esteja, acho que o percentual de presença de Pedro é quase sempre zero!

Abraços!

Bira.
(...) Se a tristeza explodia deixando rastros de fumaça branca no céu da Flórida, pipas coloridas floriam o céu fluminense (...)

Janelas de Lançamento: montagem com imagem da internet - Bira, 2012.
Amigos!


Gif animado: montagem com recortes de imagem da internet, com Gimp (Bira - 15/01/13).
O tempo passa e as imagens de um passado promissor congelam na mente - como um auditório que  continua lotado no imaginário... No entanto as pessoas envelhecem, morrem ou se deslocam constantemente: Onde Estão Todos?

Quando o alarme do celular disparou às 6h da manhã de 1º de maio de 2012, Mário já estava acordado embora continuasse deitado na cama. De um jeito automático interrompeu o irritante toque do aparelho. Era feriado e ele não tinha pressa nem compromissos. Cobriu-se totalmente com o lençol deixando apenas uma fenda onde enfiou o nariz para respirar e continuou a matutar seus planos. Sonhara com amigos de 15, 20 anos atrás e animou-se com a idéia de revê-los. Grandes amigos que lhe resgataram de um inferno emocional traduzido em depressão profunda. Anjos amigos a quem julgava dever todo o sucesso obtido na vida desde então. Fobia, pânico e idéias suicidas compunham o cardápio que sua mente nebulosa servia à própria alma naquele período sombrio. Hoje, Mário é empresário próspero, marido de Beatriz Novaes - a famosa escritora que paria lindos filhos para ele e os mais badalados Best Sellers, para o público.

Somente amigos mais velhos, hoje distantes, lembram de quando o jovem e brilhante estudante de Economia mergulhou na mais profunda depressão. Era final dos anos 80 na bela Florianópolis e tal fato foi um golpe de samurai que degolou, de vez, o casamento de seus pais. Após a separação, sua mãe decidiu retornar para o Rio, sua cidade de origem. A possibilidade de tentar uma cura geográfica fez o filho de 26 anos segui-la. Mas se  latitude e longitude não curam depressão, o convívio com novos amigos, membros de um grupo de terapia e meditação, trouxe esperança. A esperança mandou buscar o brilho que retornou ao olhar de Mário. E o sofrimento dissipou na alma como tempestade no céu. 

Numa tarde de Primavera de 1996 o sol pintou de azul toda a cúpula do céu. Por sobre os braços do Cristo Redentor flutuavam alguns chumaços de nuvens acesas. Elas tinham o mesmo branco do vestido da noiva com quem Mário estava se casando àquela hora. Os sorrisos de seus amigos se espalhavam pelos bancos da igreja lotada. Para eles, Mário era o mais belo fruto do Grupo Meditando com Cristo: um exemplo de recuperação.

Logo, o recém-casado tornou-se empresário e seu contato com o grupo escasseou, escasseou... Até que o tempo parou na sala de terapia. Pelo menos foi essa a impressão de Mário que ali não mais esteve por 15 anos. Inconscientemente ele achava que o grupo continuava lá, tendo os mesmos amigos a lhe esperar - como numa foto. Mário ainda apareceu em uma ou outra ocasião festiva, até sumir de vez e perder contato.

Casamento, filhos, sucesso (seu e da mulher escritora), negócios, viagens... E assim se foram mais de 15 anos!... Até que Mário acordou na manhã de 1º de maio de 2012 com saudade dos velhos amigos a quem devia tanto. Abriu o freezer da memória sem se dar conta que as pessoas não são congeláveis como peças de carne embalada. Procurou nas gavetas uma velha agenda com nomes e telefones, mas só conseguiu falar com o Xico Oliveira:

̶  Oliveira? É o Mário... do Grupo; tá lembrado?

̶  Mário, meu amigo!... Quanto tempo!...

̶  Pois é!... Sonhei com os amigos esta noite. Deu saudade, preciso revê-los. Hoje à noite tem reunião?

̶  Creio que sim... Tenho ido raramente... A última vez foi a cerca de seis meses. Mas tá tudo mudado - outras pessoas - disse Xico.

̶  E a nossa turma?... Onde estão todos?

̶  Mário, acorda!... Lá se vão 20 anos! Ali tinha muita gente que já estava bem idosa naquela época. Alguns já devem ter morrido ou já nem saem mais de casa. Os que chegaram depois nem mesmo nos conhecem.

̶  Mas é claro... - Mário penssou mais do que falou, gestilando ao telefone como se Xico pudesse vê-lo.

̶  Na sua mente ficou a imagem de um grupo que não mais existe e sempre existirá naquilo que fez de eterno...

̶  E onde estão todos? - repetiu Mário entre lágrimas.

̶  Boa pergunta, Mário!... Ironicamente, o sucesso decorrente de nosso encontro nos conduziu para caminhos distintos, dissipando o Grupo - mas eu acho que isso é regra em tudo aquilo que é bom. Hoje ninguém seria mais o mesmo, mesmo que não envelhecessem uns ou não morressem outros.

̶  Mas se não encontramos todos, pelo menos seria possível reunir de novo alguns?

̶  Podemos tentar... Eu faço o seguinte: vou pesquisar os telefones que tenho e lhe mandar por e-mail. Então você liga para cada um e marcamos o encontro. Ok?

̶  Ok, estou no "aguardo"!

No dia seguinte, Xico mandou a relação de nomes e telefones para o e-mail de Mário. Este, ocupado com um grande negócio que sua empresa teria para fechar sequer abriu a caixa de e-mail. Atribulado, somente três dias depois lembrou do fato (enquanto abria um pequeno freezer para servir-se de água gelada) e pensou em voz alta:

̶  É, eu acho que não adianta ficar ligando para todos... Quem não morreu está velho demais para sair de casa e os demais já seguiram seu rumo ou mudaram de telefone... Paciência, o Grupo continuará eterno no coraç... (foi interrompedido pelo chamado da secretária):

̶  Dr. Mário; os gerentes das filiais da  empresa o aguardam na sala de reunião.

Então Mário tomou um rápido gole d'água e seguiu apressado para a reunião... No meio do caminho voltou: Esquecera de fechar o freezer. Fechou.

Abraços!
Bira.
Amigos;

Partindo do Leme, à tarde, a Maratona de 84 ainda teve o primor de um disparo de canhão seguido de um Bolero de Ravel, na largada (magnífico e inesquecível!) invadindo a alma e ativando ainda mais as emoções: foi suor e lágrimas.
  
 camiseta furadinha, faixa na cabeça e os canhotos que os corredores destacavam dos números de corridas e entregavam nos pontos de checagem: Geração Pré-Tech.

Quase chorei ouvindo o Bolero de Ravel. O ano era 1985, o local, Av. Atlântica, no Leme. Eu tinha apenas 25 anos, mas muita disposição e insanidade para acreditar que que poderia completar aquela maratona (42 km) sem ter feito nenhum preparo. Perdido entre as seis mil pessoas e a emoção da largada, sentia meu coração pulsar na intensidade daquela música. Naquele final de tarde, as sombras dos prédios cruzavam o asfalto em direção ao mar. Com tênis inadequados eu também pisava ali, de camiseta furadinha, como se usava naquele tempo. Durante o percurso da Maratona Atlântica Boavista - Jornal do Brasil, revezei entre correr e caminhar, para concluir a prova 5h e 28min depois.

Ainda nos anos 80, corri outra Maratona do Rio e uma Maratona de São Paulo. Sem saber o que era um treinamento adequado, usei apenas o combustível da juventude naquelas provas. Então tive problemas nos joelhos e cálculos renais - não deu para continuar. No dia em que desisti de correr sentei-me no sofá para aplicar gelo no joelho e liguei a TV. O gelo derreteu e eu fiquei ali parado por mais de 20 anos.

Como não dá para descrever essas mais de duas décadas (de 1987 a 2007) de sedentarismo, eu proponho que imaginemos esse tempo passando em slides, na tela daquela TV, na seguinte sequencia:

1- o estouro de champanhe no reiveillon de 87;
2- mulher abrindo presente de aniversário;
3- vai começar o show no Teatro Rival;
4- mãe esquentando mamadeira;
5- Alemanha é campeã na Itália;
6- ônibus na Av. Brasil;
7- domingo de sol;
8- ovelha Dolly nas primeiras páginas dos jornais;
9- beijo na boca;
10- família na Festa de São João;
11- flash back na Rádio Antena 1;
12- aviões derrubam Torres Gêmeas;
13- pai com os filhos no Maraca;
14- Lula veste faixa presidencial;
15- passeio em Macaé;
16- vestindo calça apertada;
17- Feliz 2007!
18- Levanta e desliga a TV!...

Lá em casa ninguém acreditou quando desliguei a TV e falei: "Vou voltar a correr!"

Era julho de 2007 e eu falava sério. Saí para o pique e, mais uma vez, os joelhos fizeram tudo para que eu desistisse. Decidi vencê-los. Malhei para reforçar a musculatura da coxa e corri na grama do Aterro para amenizar o impacto das passadas. Deu certo.


Em 2007, o mundo das corridas estava totalmente mudado: revistas especializadas, tênis para cada tipo de pisada, camisetas que não retêm suor, e sobretudo, muita informação. Aos 48 anos, lancei mão disso tudo. Se quisesse continuar correndo teria de fazê-lo não apenas com os pés, mas também com a cabeça. Em outubro de 2007 disputei corrida rústica nas Olimpíadas de Tribunais de Contas do Mercosul e conquistei medalha de prata. Em 2008, corri as principais provas de 10k onde obtive bons resultados em minha faixa etária. Este ano (2009) parti para a meia maratona e em 2010 concluirei uma maratona em 3h e 20min - acho que é só treinar.

E O QUE SE GANHA COM ISSO?

É comum ouvir alguém dizer que a atividade física traz bem-estar, saúde e disposição - uma verdade que de tão repetida passa a ser ignorada. Da mesma forma que é possível ignorar o nascer do sol ou uma lua imensa , flutuando no céu... Afinal de contas, amanhã o sol e a lua estarão ali de novo. Desse mesmo jeito, o bem-estar do esporte, pode ser - infelizmente - adiado para amanhã. Por hoje, bastaria o conforto do sofá e da TV... mas o tempo não espera!

Meu argumento é outro: Afirmo que reservar uma pequena parte do seu dia para caminhar ou correr, um momento só seu, vai além do físico e torna-se uma necessidade mental e espiritual. Na plenitude do ser, o bem-estar, saúde e disposição são apenas adendos.

Abraços!
Bira.
Amigos;

escrito em 2009...

foto do meu amigo Murilo: Um pote de balas na mesa substituía os cigarros. 

Seria apenas mais um cigarro que Murilo consumiria, não fosse a falta de ar que sentiu logo após a costumeira tragada. Voltava do almoço para o trabalho na Assessoria de Informática, e seus gestos automáticos de pinçar o cigarro entre os dedos para pô-lo na boca, foram interrompidos pelo susto. Amparou o peito com umas das mãos, ergueu a cabeça e tentou puxar o ar pelas narinas, mas era como se seus pulmões continuassem vazios. Naquela tarde de 24 de julho de 2000, Murilo atirou o maço de cigarros na cesta de lixo e comprou uma caixa de chicletes antifumo. Não mascou nenhum chiclete, mas foi pra casa dando pinta de que seria seu último dia como fumante. Na manhã seguinte, acordou bem disposto e, como se nada tivesse acontecido, foi para a varanda fumar mais um cigarro.

Aprendendo a Fumar

Murilo detestou, na primeira vez que colocou um cigarro na boca, aos 19 anos. Mas em 1966, o hábito de fumar era charme dos ícones de sucesso, atores e até desportistas. Aparentemente, 50% de seus amigos fumavam. Então como resistir? Anos depois, fumando em média um maço e meio por dia, deparou com um pulmão enegrecido de fumante exposto dentro de um recipiente de vidro, com formol, em pleno Largo da Carioca. Levou um susto que lhe rendeu três dias de abstinência.
Os problemas de saúde surgiram na década de 90. Dificuldade de respirar, baixa resistência e problemas de estômago. Foi nessa época que sua pressão atingiu 15/8, mas ele não associou ao cigarro.

As Tentativas

Em 1983 tentou parar diminuindo, mas não durou mais de um mês. Depois, passou a colocar o dinheiro dos cigarros em um cofrinho. Deu certo até que o cofrinho foi roubado: “Fiquei com raiva e comprei logo dois pacotes de cigarros!” – lembrou.
Entre 1990 e 1991, tentou parar em conjunto com a mulher, mas sempre que um cedia à tentação derrubava o outro.
Em 1997, a esposa parou após retornar à igreja. A pressão aumentou e Murilo já não fumava mais em casa, ou na sala do trabalho. Porém, quando podia, fumava de modo a compensar.

A Parada

Quando perguntei ao Murilo o que lhe fez parar de fumar, sua resposta foi lacônica: “O medo de morrer imediatamente.” Dez dias depois, ele me trouxe o complemento da resposta no texto de Raymond Chandler, do livro “A Irmãzinha”:

“O medo de hoje sempre se sobrepõe ao medo de amanhã. É uma verdade básica da psicologia dramática que a parte é mais importante que o todo. (...) Se o suspense e a ameaça não derrotassem a razão, haveria muito pouco drama no mundo”.

Dessa forma, foi Chandler quem explicou porque, no dia 26 de julho de 2000, 48 horas após ter sofrido aquele forte sufocamento, mais uma vez no retorno do almoço, Murilo sentiu um novo sufocamento, bem mais forte, e o medo imediato de morrer. Jogou o maço de cigarros no lixo, mascou os chicletes antifumo e nunca mais pôs um cigarro na boca. 


Abraços!
Bira.
(...) Volta e meia Marcelo se escondia da crise por traz da transparência dos copos de Whisky ou de um leque de cartas, nas rodadas de pôquer (...)

Marcelo sempre buscou amparo em Marly, para se reerguer, até que um dia... imagem: frascos da Colonia Pinho Campos do Jordão - Vintage. 

(...) Na tela do computador, Aline descobriu amigos virtuais que lhe mandam orações e mensagens de auto-ajuda (...) 

Gravura simples feita com Paint - Título: "Você Não Tem Escolha!" - Bira, 05-12-2015.

Você Não Tem Escolha!

Amigos!

Quando Aline surgiu, tudo mais se apagou.
Seus longos cabelos de crina escorriam pelas curvas do corpo esguio.
Vi dois globos terrestres girando em seu olhar,
Amordacei o mundo para ouvir sua voz,
Percebi no brilho da lua a cor de seu sorriso.
Quando Aline partiu, eu já estava lhe esperando...
                                      

Cinquenta anos se passaram e a Aline continuou a mesma, apenas no poema. Hoje, seus cabelos, olhar, voz e sorriso só despertam a atenção dos médicos. Também faz cinco anos que José, seu marido e poeta se foi, deixando uma sensação de presença em cada canto da casa. Seus dois filhos trabalham demais e sequer aparecem.

Na tela do computador, Aline descobriu amigos virtuais que lhe mandam orações e mensagens de auto-ajuda. Uma delas lhe fez refletir: “Olhe em volta: Você é fruto das suas escolhas”. A frase parecia mais autodestruição, pois ao seu redor nada se mexia: móveis mudos, TV preguiçosa e um gato antigo... “Caramba! O que foi que eu escolhi para mim?” – flagelou-se com pensamento de chibata.

Foi quando Aline sofreu por mais 90 dias até que um anjo sem asas lhe disse: “Calma, você não tinha escolha!... Diante do lírico olhar de um José encantado, em frações de segundos eternos, seu destino foi selado. Não existe escolha onde as emoções imperam. Elas são como flores esplendorosas e breves. Flores da fascinação”.

Aline, José, você e eu não tivemos escolha, apenas fascínio!

Abraços!
Bira.

Amigos!

Ontem me olhei no espelho e tive a sensação de que estava demasiadamente magro. Pensei até em trocar de roupa, mas não dava tempo e aquele incômodo me acompanhou por todo o dia. Racionalmente eu sabia que não havia nada errado comigo - ninguém emagrece da noite para o dia. Então lembrei dos anoréxicos e bulímicos, que se enxergam distorcidos no espelho, e até pude entendê-los um pouco.

O que teria acontecido para distorcer minha visão?

Quando a tarde chegou eu estava num auditório onde um palestrante apresentou uma frase sem nexo ou pontuação. A frase só ganhava sentido quando acrescida de um ponto e duas vígulas... Eureca! Ali estava a resposta que queria! Eu deveria ordenar o pensamento - respirar respeitando as pausas da pontuação para resgatar a auto-imagem.


Hommer Simpson "interpreta" O Grito - pintura de Edvar Munch*

Dois dias antes, em uma outra palestra, noutro lugar, falávamos de "medo". O medo que se esconde por trás de uma reação. Quem reage por medo não tem noção do fato. Vírgulas/Pessoas fora do lugar, roubam a compreenção/direção da frase/vida.

Quando tudo em sua vida estiver em ordem haverá um medo sorrateiro feito rato no bueiro. Não adianta reagir - saiba que ele existe. Respire: os pontos e vírgulas existem para isso! Viva: você é bem maior que um rato! Argh!... Isso não é auto-ajuda é auto-realidade!

Quando o esforço conseguir desprender-se do medo, chamar-se-á Sucesso. O sucesso é doce, viciante e - pasmém! - se dissolve no melaço do medo.  Medo-mel que nos lambuzou e nem sabíamos... Então o ciclo recomeça: mais esforço pra sair do medo, mais sucesso e mais melaço que vicia provocando medo. Mas se o medo é forte, feito tormenta, Abrigue-se e deixe passar. Tormentas passam rápido para quem sobreviveu.

* obs.: A imagem acima foi copiada de um site na internet (que feio), mas isso foi feito no início deste blog, por ignorância.

Abraços!
Bira.
(...) Siga em frente, no refrigério das sombras dos prédios do Avenida Rio Branco. Aproveite isso porque a grande bola de fogo estará te esperando nos próximos 5 km de pista no Aterro (...)


Imagem composta com recortes de imagens da internet - Bira, set/11

O Melhor Sorvete do Mundo.

Amigos!

O melhor sorvete do mundo está em Copacabana. Mais precisamente na sorveteria Itália da Figueiredo Magalhães. Isso não é propaganda enganosa!... Para confirmar faça o seguinte:

1- Chegue cedinho lá em Irajá, no sábado, de tênis, short e camiseta. Dispare o cronômetro e comece a correr, rumo a Copacabana. Embrenhe-se nas ruas de Vicente de Carvalho, Penha, Olaria, Ramos e Bonsucesso até desembocar na Avenida Brasil.

2- Continue correndo naquela estrada larga e reta, sob os olhares do sol e dos ônibus. Quando as curvas surgirem, você já terá deixado para trás a Fiocruz e a Refinaria de Manguinhos. Logo, as pistas de erguerão criando elevados sombrios. Não se assuste: você está nas proximidades da Rodoviária Novo Rio.

3- Aproveite a sombra e não se impressione com a degradação que foi morar com os mendigos, sob a Perimetral. Ao invés disso, imagine-se correndo no local já transformado pelas obras das Olimpíadas. Quando a Praça Mauá surgir, você já terá feito uma meia-maratona. Siga em frente, no refrigério das sombras dos prédios do Avenida Rio Branco. Aproveite isso porque a grande bola de fogo estará te esperando nos próximos 5 km de pista no Aterro.

4- Quando o Pão-de-Açúcar se exibir à sua esquerda e os braços abertos de Cristo rasgarem o vento do lado direito do céu, você estará correndo na praia de Botafogo. Pode ser que o cansaço nem lhe deixe perceber tamanha beleza. Pode ser que seus pés estejam em brasa. Pode ser que sua postura disforme cause dores no corpo. Pode ser que os dois lados de seu cérebro entrem em conflito: um dizendo “vamos lá, falta pouco!” e o outro “ta maluco?”.

5- Se você não estiver bem condicionado, isso vai ocorrer. Aí será hora de pensar no sorvete que te espera, além do túnel, depois que você der um mergulho no mar. Uma caminhada descalça nas areias molhadas vai recuperar seus músculos...

6- No fim do treino, o relógio do calçadão alternará entre as marcações de “11:00 h” e “35º”. Você terá percorrido 31 km em aproximadamente 2 h e 40 min e vestirá uma armadura invisível de herói.

Se você fizer isso direitinho, descobrirá sabor do melhor sorvete do mundo, na Itália da Figueiredo, e vai ficar freguês de tudo! Experimenta!

Abraço!
Bira.



(...) Faz tempo que eu não vou ao cinema, teatro, estádio de futebol... Nunca mais joguei uma pelada ou uma partidinha de buraco (...)

Amigos juntos num churrasco de despedida - anos depois, a maioria deles também tomou rumo próprio; Vida.




Orgulho ou Culpa? - Pronto, Incomodei!

Amigos!

Pronto: me incomodei!...
Faz umas três semanas que eu não vejo a minha mãe e diversos meses que não reencontro alguns amigos. Faz tempo que eu não vou ao cinema, teatro, estádio de futebol... Nunca mais joguei uma pelada ou uma partidinha de buraco. Preciso terminar de arrumar o terraço para fazer aquele churrasco lá em casa. Preciso ir a Araruama para conhecer meu centenário tio - que minha mãe pensava já estar morto.

- Onde eu estava e o que fazia para acumular tanta ausência?
- E você?
- Onde esteve presente ou ausente?
- O que fez ou deixou de fazer ultimamente?

Pronto: lhe incomodei!...
Falar de ausência provoca culpa, cobrança e dor. Melhor seria falar de presença e valorizar as escolhas, sentindo orgulho. Mas não se deixe enganar: ausência e presença são a mesma coisa! Se eu estou no cinema com a mulher, no teatro com a amiga ou no estádio com o filho, estou ausente de todo o resto. Nos últimos anos optei por correr e ganhei amigos e, em conseqüência, afastei-me de outros. Voltei a estudar, o mesmo se repetiu. Continuo optando por mudanças e o tempo ou as pessoas não param.

- Onde eu estou e o que faço para nem ter tempo pra pensar?
- E você?
- Quando pensou no assunto?
- O que fez ou deixou de fazer ultimamente?

Não precisa se defender: eu sei!...
O tempo é curto, até para os depressivos que escolhem não fazer. Então “faça duas vezes antes de pensar”, mas faça! Depois colha os cacos dos jarros partidos, retire os tapetes e encere seu chão. Aplique tintura nos cabelos e Facebook nas ausências. Aplique-se no tempo. Sou aquele centro-avante que não teve tempo de escolher o canto onde chutar ou o goleiro que precisa defender por reflexo. É tudo rápido, feito rima sem nexo.

- Onde eu cheguei e o que faço para passar essa mensagem?
- E você?
- Quando questionou o que faz?
- O que fez ou deixou de fazer ultimamente?

Não precisa entender: eu sei!...

Abraços!
Bira.