terça-feira, 27 de maio de 2014

Mergulhar no Subúrbio

(...) O subúrbio é como a mãe que todos amam e deixam, quando possível. Os filhos do subúrbio estão nas filas de apostas que não cabem dentro das lotéricas e invadem as calçadas (...)


Montagem feita com recorte de imagens da internet - Bira, 27-05-2014.

Mergulhar no Subúrbio

Amigos!

Mais um dia nasceu no subúrbio! 

Quando o céu clareou, todas as velas de um despacho já estavam apagadas. Mas era cedo demais para o gari passar recolhendo a sujeira. Como os vampiros que fogem da luz natural, a névoa fria mergulhou no mato. Ela refugiou-se na sombra rasteira do capim. Sobreviveu ali, nas formas de gotas, por algumas poucas horas. Depois morreu, transformando-se em vapor, e fluiu para o céu feito alma. Urubus empoleirados nas hastes dos postes de luz, aguardavam o melhor momento para disputar o tal despacho. Enquanto isso, eles abriam suas asas embebidas de orvalho, formando poses macabras.

Carros passavam apressados para fugir do rush. Seus motoristas abaixavam o quebra-sol e olhavam somente para a estrada. Às margens do asfalto o subúrbio não era visto mas estava ali, respirando o rastro de poeira dos carros. Esse subúrbio marginal tem casas com tijolos à mostra. Tem calçadas intransitáveis, canos furados, gambiarras, lava-jatos e gatos de luz. Tem barraca de cachorro-quente na esquina e um cachorro faminto implorando por um pedaço, com os olhos. Se o vira-lata magrelo ganhou apenas um chute, aqueles urubus já desceram do poste para devorar o tal despacho.

O dia passa no subúrbio que todos amam. Os anos passam no subúrbio que todos deixam. O subúrbio é como a mãe que todos amam e deixam, quando possível. Os filhos do subúrbio estão nas filas de apostas que não cabem dentro das lotéricas e invadem as calçadas. Segurando um volante com os números da sorte, eles aspiram seus sonhos no ar, juntamente com a poeira que mais um carro espalhou.

Tateei o subúrbio com os pés. Observei-o com os olhos da alma. Senti o aroma nem sempre agradável de suas ruas. Ouvi todos os seus decibéis. Provei a fruta madura que escapou sobre um muro... Fiz tudo isso correndo por todo o subúrbio. Se eu não posso fugir de ambos, optei por mergulhar dentro dele e de mim!

Abraços!
Bira.



sábado, 24 de maio de 2014

Além do Blog VI - Sanduíche Versão II




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De que adianta um pelotão matinal de garis, armado de vassouras, enxadas, caminhões e tratores, combater o lixo no meu bairro? À noite, quando eu retorno do trabalho, sinto-me um verdadeiro rato bípede, abrindo caminho em meio ao lixo e ao caos... Foi essa triste rotina que inspirou o conto "Sanduíche de Queijo", onde todo lixo do Rio de Janeiro se transformou em dinheiro, num passe de mágica... Agora refiz o conto em formato e estilo, para postá-lo aqui na tag "Além do Blog"... Acho que ficou melhor no texto e nas imagens, confira:

Amigos!

Sanduíche de Queijo



Avenida Rio Branco, Centro do Rio - Segunda-feira, 21h.

As mulheres de salto alto redobravam a atenção para caminhar durante a noite. As pedras portuguesas das calçadas cariocas não eram seus piores obstáculos, e sim, os pedaços de isopor que escapavam dos sacos de lixo. Empilhado à beira do asfalto, o lixo aguardava a passagem do caminhão da COMLURB. Até que isso ocorresse, o Centro da Cidade seria como um museu com esculturas horríveis, feitas de plástico preto recheado de chorume, espalhadas pelas ruas e becos.

Os garimpeiros de material reciclável têm pouco tempo para catar tanto lixo. Eles também se espalhavam feito almas urbanas nas sombras noturnas de árvores e marquises. Essas criaturas são invisíveis na camuflagem da noite e no embotamento dos olhos de quem tem pressa. Por isso, ninguém percebeu quando um deles passou à margem da calçada, em disparada, carregando três sacos pretos, imensos e estufados. O homem ofegava e suava, arregalando olhos que mais pareciam faróis. Rapidamente olhava para os lados, como quem confere se não está sendo seguido. Não estava, mas a sensação de perseguição era tão forte quanto o latejar de seu coração naquele momento. Correndo em direção à Cinelândia, teve seu vulto engolido pelas sombras da noite. Percebeu-se, então, um surpreendente rastro de cédulas de R$ 50,00 por onde ele passou, imediatamente disputadas pelos transeuntes.

Rapidamente uma confusão se formou. Pessoas se abaixavam para catar dinheiro no asfalto. Carros frearam e buzinaram tentando abrir caminho. Quando um motorista percebeu o que ocorria, abandonou seu automóvel para disputar o dinheiro também. Foi imitado por outros motoristas e o trânsito travou por completo. 

Mais um catador passou, arrastando dois sacos imensos e rápidos, e sequer se ateve à disputa. Um terceiro também surgiu do mesmo jeito. Daria para ver as cédulas de R$ 50,00 escapando do plástico preto que conduzia. Debruçados no chão ninguém percebia. Com exceção de um taxista, que acabara de deixar seu carro atravessado na pista. Seus pensamentos foram rápidos e seus gestos furtivos: aproximou-se de um amontoado de lixo ensacado e confirmou sua suspeita - os sacos estavam abarrotados de dinheiro ao invés de lixo! Trêmulo, abarrotou rapidamente seu carro do quanto pôde, e só depois gritou para que todos ouvissem:

-- Os sacos de lixo estão cheios de dinheiro!!!

Seu grito ganhou eco pelas ruas do Centro. Fez passageiros e motoristas descerem dos coletivos , balconistas e porteiros abandonarem  seus postos. Um guarda de trânsito largou o apito e um usuário de crack, seu pito. Cada um tratando de carregar o que podia. Por alguns instantes tiveram medo de serem roubados, mas havia dinheiro suficiente para todos em todo canto. De repente, becos fétidos e escuros que acumulavam lixo se transformaram em tesouros. 

Seguranças particulares, armados, se organizaram para fechar um trecho da Rua Sete de Setembro, onde se apossaram das pilhas de sacos de dinheiro que antes foi lixo. Jorjão assumiu a liderança da milícia e tentava, em vão, comunicar-se pelo celular com seu vizinho Ferreira, dono de um caminhão baú que recolheria toda a grana. Ferreira não atendia de jeito nenhum, e ele ligou para a sua mulher:

-- Mulher, me localiza o Ferreira aí, é urgente! Manda ele vir para o Centro, que eu tenho uma carga preciosa!... Diz para ele me ligar, eu não consigo falar com ele! Vá logo, é urgente!...

-- Amor, eu também tava tentando falar contigo!...  - respondeu a mulher - Você não vai acreditar, mas no lixão aqui do morro, não tem mais lixo, só tem dinheiro!... Estava todo mundo pegando a grana e levando pra casa, até que os bandidos tomaram conta e cercaram tudo... Eu fui lá com os meninos e sua mãe, antes. Deu tempo de pegar muito dinheiro!... É dinheiro como eu nunca vi!... Vem pra cá! Estamos com medo... Precisamos de você aqui!...

-- Como é o negócio?... Aí também?... Mulher, mulher!... Droga, desligou!...

Nem Jorjão e sua tropa de milicianos no Centro, nem os traficantes que cercaram o lixão do morro, nem nenhum cidadão carioca poderia imaginar que, naquele momento, todo o lixo espalhado no Rio de Janeiro se transformou em dinheiro vivo!...



Depois das 22 horas...

A cada minuto que passava, mais e mais pessoas davam conta do ocorrido. Havia dinheiro por toda cidade. Quanto mais pobre o bairro, mais fortuna espalhada nos lixões. Bastaria recolher e levar para casa. A pirâmide social estava invertida. 

Naquela noite ninguém dormiu. Ninguém teve fome nem sede até que o dia amanhecer. Quando o sol chegou, toda a cidade estava limpa e bela. As ruas estavam desertas e as pessoas reclusas no lar, guardando suas fortunas. Se o lixo virou dinheiro, desapareceu das ruas. Se as pessoas tinham dinheiro, não precisariam trabalhar. Se ninguém foi trabalhar, não tinha comércio, escola, trânsito ou hospital. Cada um de olho no que recolheu e sem saber direito o que estaria funcionando além do seu muro.

Antônio foi um dos poucos que permaneceu recolhendo o resto de dinheiro em uma encosta no seu bairro. Mara, sua esposa, foi chamá-lo:

-- Vem pra casa Tonho! Já temos muito dinheiro lá! Você precisa descansar e comer alguma coisa!

-- Ainda tem dinheiro aqui também! Vou pegar o máximo que puder antes que acabe.

-- Então coma pelo menos este sanduíche de queijo que eu fiz...

E assim Antônio prosseguiu catando dinheiro com uma mão e comendo sanduíche de queijo com outra. 


Em alguma residência do subúrbio carioca... 
Terça-feira, 21 horas.

Janete não estava preocupada com a proporção do caos que tomaria a cidade. Algo lhe dizia que logo, logo, ficaria tudo bem. A água parou de chegar na bica, mas sua caixa estava cheia e tinha capacidade para 2.000 litros. Se faltasse luz, acenderia velas, mas para que antecipar os problemas? Ainda tinha luz e novela pra assistir. Então chamou o marido e acomodaram-se no sofá com o filho. Calada, diante da TV, assistiu seus próprios sonhos. O que fazer com tanto dinheiro recolhido?

Logo um mau cheiro foi tomando conta da casa. Levantou-se para verificar se o banheiro estava sujo. Não estava, mas o mau cheiro vinha dali.

-- Estranho!... Que mau cheiro é esse? - pensou.

Tudo parecia normal no banheiro, a não ser pelos sacos de dinheiro ali empilhados... A dona de casa então abriu um dos sacos e quase caiu para trás. O dinheiro voltou a ser lixo!... Apressou-se para conferir outro saco, e outro, e outro... Sua casa estava cheia de lixo e seus sonhos esvaziados! Gritou pelo marido. Ordenou que ele abrisse a porta, as janelas, o portão e pusesse o lixo para fora! Atirou-se no sofá, diante da TV, chorando mais que a mocinha da novela.

'Na história televisiva, a mocinha sofria com a indiferença do marido que só pensava em trabalhar para ganhar mais e mais dinheiro. O homem era avarento e não parava nem para almoçar. Ao invés disso, todo dia comia um sanduíche de queijo para enganar o estômago.'

Amparada pelo filho, Janete chorava de um lado e a mocinha da novela chorava de outro. Entre elas a película da tela plana de plasma. Enquanto isso, as ruas do Rio se enchiam de novo de lixo...



Rio de Janeiro - RJ - Quarta-feira, de manhã...

Supermercados, farmácias, shoppings e o bicheiro da esquina voltaram a funcionar. Camelôs, transeuntes e automóveis dividiam espaço com pilhas de sacos de lixo, até a COMLURB passar...

Um ônibus soltou um longo guincho ao parar no ponto, em frente ao Edifício Avenida Central. Veio arrastando uma lufada de vento que fez folhas de árvore ou papel alçarem voos, atirando-se sobre quem passava. Pragas e palavrões foram ouvidas naquela manhã de ressaca.

Jorjão e os demais seguranças já haviam deixado a Rua 7 de Setembro. Ele já sabia que na favela o dinheiro  também voltou a ser lixo e retornou para o despejo. O celular tocou, era o Ferreira:

-- Diz aí, Jorjão!... Vi no visor do celular que você me ligou... O que manda?

-- Nada não Ferreira... Foi apenas engano.

Ao desligar o celular, o segurança sentiu fome. Lembrou que tinha um sanduíche de queijo na mochila, preparado com carinho por sua mulher. Já fazia um bom tempo que o sanduíche estava ali, mas sequer foi tocado. Desembrulhou-o , cheirou e percebeu que ele estava estragado. Disse um palavrão e jogou o sanduíche no chão, ali mesmo, junto ao meio-fio e perto de um ralo. Cinco minutos depois, um vira-lata passou e cheirou o alimento. Faminto,o animal ainda exitou um pouco, mas não resistiu. Quando ia desferir a mordida, no entanto, se ateve: o sanduíche se transformou em uma nota de R$ 20,00!... #


Nota: "Além do Blog" é um desafio de criar novas versões para postagens antigas. Quem quiser conferir a versão original deste conto, clique a seguir em: Sanduíche de Queijo.




Abraços!
Bira.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Muito Além do Gosto e da Forma

(...) Todas as mães de Irajá, que hoje seriam bisavós ou tataravós se foram. Ficou Dona Alzira, na velha casa número 1 (...) 

Trinco caiado da caixa de luz na varanda da casa de minha mãe - um design perdido no tempo.

Muito Além do Gosto e da Forma

Amigos!

Eu não tinha previsto fazer esta postagem que está saindo por impulso. Faltam dez minutinhos para meia noite, de domingo, e eu acabei publicar algumas fotos do aniversário de minha mãe no Facebook. Ela fez 86 anos e reside na mesma casa há aproximadamente 60. Fica em Irajá, onde ela fez sua pequena festa. Sim... É aquele mesmo bairro, que possui um cemitério e uma Academia Irajaense de Letras e ainda é satirizado pelo seriado Pé Na Cova, da TV Globo. Mas eu já falei de ambos aqui: do bairro e da minha mãe. Na postagem Onde Estão as Flores eu mostrei em verso e prosa um pouquinho da história esquecida de meu bairro natal - ex-sesmaria do Rio de Janeiro. Na postagem Amor de Mãe eu falei de Dona Alzira...

Voltando ao aniversário, não havia nenhuma das antigas amigas de minha mãe ali. Dona Didi, Déa, Ondina, Helena, Isaura, Otuma, Nilva... Dentre as que eu me lembro neste momento - todas já se foram. Todas as mães de Irajá, que hoje seriam bisavós ou tataravós se foram. Ficou Dona Alzira, na velha casa número 1. Outro dia mesmo eu estava pensando nos meus planos de não morrer tão cedo e lembrei que minha longeva mãe convive com o lado ruim desta conquista: não ter amigas de mesma geração, ao lado, para estender a mão trêmula e ganhar uma fatia de bolo. Muitas já repousam no céu ou jazem a setecentos metros dali, no cemitério de Irajá. Dona Alzira, no entanto, continua firme - a ponto de eu poder ousar e soltar uma piadinha (que ela nem ouviu) logo depois dos "Parabéns pra você":

- Pronto mãe... Já cantou parabéns e agora a senhora pode partir... o bolo!

Objetos da casa de minha mãe - Bira, 13-05-2014.


Ocupei-me em tirar fotos dos presentes, mas de repente comecei a notar melhor os objetos da casa humilde da minha mãe. Porta-retratos, flores de plástico e relógio de parede... Achei que tudo merecia um registro de imagem. Quem me percebeu não entendeu minha atitude - mas aqueles objetos são como os idosos desprovidos do encanto de outrora, muitas vezes invisíveis num canto.

Passei as fotos do celular para um álbum que fiz no Facebook com a seguinte descrição:

Ninguém continua fisicamente belo aos 86 anos... A essa altura, o conceito DECORAÇÃO pode também se transformar na simples expressão: "de coração", além do gosto e da forma!... Objetos da casa de Alzira... do álbum:

https://www.facebook.com/ubiracy.rezende/media_set?set=a.10202450402244851.1073741870.1338007251&type=3&uploaded=16 

Eu não tinha previsto fazer esta postagem, ela saiu por impulso... Agora já são meia-noite e quarenta e cinco.

Abraços!
Bira.


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Além do Blog V - Multi-Gilmara

"Além do Blog" é um desafio para descobrir novas maneiras para contar as histórias deste site. Nessa brincadeira eu posso mudar o ângulo ou a interpretação de uma cena. Refaço imagens, recrio, cresço e pavimento o blog... 

A história a seguir, no entanto, eu não ouso mudar sequer uma frase. Ela foi contada na postagem Gilmara Encontra Gilmara  que me emociona sempre que leio e o mesmo se dá com muitas pessoas. Vou repeti-la na íntegra no final deste texto, mas antes quero acrescentar alguns fatos... 


Na montagem, as alegrias de Gilmara corredora e passista.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

A Corrida Gosta de Você!

(...) Certo dia ele se encontrou com a veloz Corrida. Lançou-lhe o mesmo olhar tímido, que não conseguia seduzir ninguém, e ficou surpreso com a acolhida (...)

Imagem simuladora da conversa ocorrida no chat do Facebook, em 06/05/2014.

A Corrida Gosta de Você!


Amigos!

Ontem eu estava no Facebook, fazendo malabarismos para divulgar minha última postagem, quando o meu amigo Paulo dos Santos abriu um chat no rodapé e me perguntou assim:


-- Bira, o que se faz para manter esse físico tão legal de atleta?

-- Atualmente to meio devagar, mas vai ficar legal de novo... -- respondi sabendo que ele se baseava em fotos do meu perfil, tiradas há pelo menos uns 15 meses. Depois disso eu me lesionei, fiquei meio parado na corrida e por isso também parei de malhar. Fiquei menos feliz e mais gordinho... Mas voltemos às perguntas do Paulo:

-- O que você faz?... Corre muito?... Faz dieta?

-- Correndo não precisa de dieta. -- teclei.

-- Tem algum problema tomar cerveja e beber refrigerante?

-- Até hoje continuo tomando refrigerante. Cerveja só de vez em quando.

-- É bom saber... Estou falando isso porque você é veterano no assunto... Estou com 4.1 de idade. -- justificou meu amigo.

-- Começa caminhando e depois passa a correr aos poucos. -- aconselhei.

-- Preciso muito disso... Me educar nesse sentido. -- confessou o Paulo.

-- Corrida só é ruim nos primeiros três meses. -- incentivei sem mentir.

-- Ah... sim!... Certo... Você quer dizer: tem que se acostumar.

-- Não é você que tem de se acostumar com a Corrida, é a Corrida que tem de se acostumar com você. -- finalizei com chave de ouro, mas fiquei, eu mesmo, tentando entender direito o que acabara de escrever.

Depois saí para trabalhar com esta frase na cabeça, feito aquelas músicas que grudam na ideia. Então comecei a escrever para tentar desvendar meu próprio mistério:

A Corrida precisa se acostumar comigo?... Parecia besteira, mas ao mesmo tempo parecia ter fundamento...

Para não me atrasar no trabalho e nem perder o insight, peguei caneta e caderno e saí, rumo ao metrô. Fui caminhando e escrevendo, tomando cuidado de não tropeçar nas saliências da calçada. Atravessei a rua com um olho nos carros e o outro no caderno. Achei que seria melhor começar o texto modificando o verbo da enigmática frase, e ficou assim:

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"Não é você que aprende a gostar da Corrida, é a Corrida que aprende a gostar de você."

A Corrida não quer saber se você tem dinheiro, beleza ou prestígio, mas fica caidinha diante de alguém persistente.
Conheço um cara que "não tinha um puto no bolso", era feio e ficava abandonado num canto. Ele portava apenas persistência e vontade...

Certo dia ele se encontrou com a veloz Corrida. Lançou-lhe o mesmo olhar tímido, que não conseguia seduzir ninguém, e ficou surpreso com a acolhida.
Encantou-se imediatamente com a Corrida e tentou seguir ao seu lado - como quem sobe num cavalo que passa selado...

Primeiramente correu leve, num trote, mas depois teve que acelerar para não ficar para trás. 
Despreparado, sentiu que seu coração quis sair pela boca, mas nem isso tinha condição: Sua boca era um túnel de vento sugando e expulsando o ar, cada vez mais rápido...

Seus poros eram fontes que jorravam suor. 
Ele até quis dizer algo para a Corrida, que se deslocava veloz, sorridente e tranquila ao seu lado, mas isso não foi possível...

Ela, no entanto, parecia ler seus pensamentos e percebeu nos seus olhos ardidos de sal, um encanto. Seu encanto era maior que o desespero de quem se esforça para não ficar para trás...

A Corrida notou que ele fazia um esforço supremo. Que mesmo sem preparo, ele não queria desistir: 
O moço tinha Persistência e Vontade!...

Diante disso a Corrida também se encantou por ele. 
Cuidou dele e mudou sua vida...

Deu-lhe tudo aquilo que faltava: Dinheiro, Beleza e Prestígio.
Mostrou-lhe que esses créditos eram apenas consequências do Encanto e do Amor...

O encanto e o amor pela Corrida tirou o homem do canto - colocou-o no centro da vida!
Mas antes,  foi preciso que a Corrida se encantasse pela persistência do moço, também...

É que a Corrida sabe que Persistência é uma caixa fechada, repleta de surpresas e qualidades.
É que a Corrida gosta de abri-la...

É que a Corrida gosta de você!... Persista!
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Agora sim, eu posso responder direito às perguntas do amigo Paulo dos Santos. Vou mandar essa postagem para ele.

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Abraços!
Bira.


terça-feira, 6 de maio de 2014

Mendanha: na Serra como no Céu...



Moraes posava com outros corredores imitando Usain Bolt, até que um deles percebeu: "Pô, estamos fazendo gesto a toa, não tem ninguém tirando foto agora!": A gargalhada foi geral"

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Amigos!

Pudera as torres repetidoras da Serra do Mendanha captar e transmitir os bons fluídos dos 120 corredores que ali chegaram! 
Quem dera, toda aquela alegria se espalhar sobre a cidade e recuperar o Espírito Carioca! 
Espírito que não morreu, mas que nesses tempos de vandalismo, hiberna feito corredor lesionado... 
Éramos todos cariocas no sorriso e no olhar. 
Nosso olhar atravessava as brechas da mata, captando do alto uma beleza alternativa e distante do mar... 

Sim... Éramos tão cariocas quanto a louríssima Fabiani Dutra, a gaúcha que reside em São Paulo, mas que não perde uma oportunidade de viajar 400 km para rever e correr com seus irmãos de espírito. A auto-denominada "Gaúcha-Carioca" era apenas uma das incontáveis mulheres que não paravam de sorrir e tirar fotos para o Facebook.


 Parte dos corredores na tradicional pose em frente às antenas... Foto de Sérgio Pessoa.
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Quem visse apenas a foto daquela gente, de vestimenta e alma colorida no alto da serra, poderia se enganar e achar que foi fácil chegar ali. Nada disso, partindo do Largo do Mendanha, às sete e trinta da manhã, os corredores enfrentaram os inicias dois quilômetros de asfalto, somados a outros sete de uma subida muito rigorosa e cada vez mais íngreme. Não bastasse isso, eles encararam um piso de falsa-terra-batida, onde o barro se mistura com pedras no chão acidentado. Foi quase impossível não interromper a corrida nos  trechos mais duros - hora recuperar o fôlego caminhando um pouquinho. Impossível também foi ignorar o ponto de hidratação natural, a 1.500 metros da chegada. Mendanha é exigente, tanto para os mais preparados quanto àqueles que apenas caminham. Mendanha, no entanto, é compensador: transforma seus esforços na alegria que devolve com a mesma medida...




Lindalva e Claudia Figueiredo, mãe e filha encaram juntas o duro trajeto nas vérperas do Dia das Mães... Foto de Sergio Pessoa.
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O vento da serra seca as camisas encharcadas e as faz tremular. 
Quando frescor acaricia o corpo e a alma, o ambiente é propício aos sentimentos mais puros e belos,
Expressos em sorrisos, abraços e confraternizações... 
As lembranças de um amigo corredor, que se foi, se transformam em oração coletiva.
Alianças de noivado são trocadas entre aplausos e sorrisos... São sorrisos e mais sorrisos!...
As antenas do pico isolado nunca viram, de tão perto, tanta gente!
Gente 'antenando' os bons fluídos que as próprias antenas adorariam captar e retransmitir!...

Depois que eles tiraram todas as fotos e bateram todos os papos, começaram a voltar. Parece até que todos os santos empurravam, cada um, serra abaixo. Particularmente, pensei o seguinte enquanto descia: "Sem essa de que pra-descer-todo-santo-ajuda.. Santo que ajuda a descer não é santo!...". Então foi preciso ter cuidado com os joelhos ou com um suposto tombo... Mas graças aos verdadeiros santos, todos chegaram ilesos!

Na chegada, a praça do Largo do Mendanha se fez generosa aos corredores. Ela ofereceu seus bancos, suas sombras e uma bica de água fresca. Um outro ser generoso foi ao sacolão e trouxe frutas, guaravita, bolo e pão doce... O cuidado, então, passou a ser não falar de boca cheia...

Um carro buzinou, e dentro dele três corredores acenaram se despedindo. As mulheres trocaram os últimos beijinhos e abraços do dia. Outros se despediram e o Largo do Mendanha foi ficando cada vez mais quente e menos colorido... Foi o fim de mais um treinão inesquecível!



Vídeo I - Entrevista e Concentração de Largada.



Vídeo II - Da largada à chegada nas Torres.


 Link para conferir as fotos do evento no Facebook:

https://www.facebook.com/events/606363919455744/

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Abraços!
Bira.




quinta-feira, 1 de maio de 2014

Mendanha: A Volta de um Treino Histórico!

Amigos!

"Foi o maior treinão de minha vida!..."

Esta frase, escrita por Sérgio Pessoa no Facebook, dispensaria qualquer outro relato do II Treinão Tores do Mendanha 2013. Repetida aqui, no entanto, ela nos conduz para a uma viagem no tempo, até aquela manhã ensolarada de domingo, dia 06 de janeiro de 2013:

Parte dos corredores posam pouco antes da largada... (foto de Erivaldo Zim, no Facebook).

Nem o Sérgio - o organizador do evento - nem ninguém podia imaginar o que estava acontecendo de fato naquele dia. Clareou e Largo do Mendanha ainda estava deserto. O ponto de ônibus estava vazio e o comércio fechado. Pouco barulho na praça além dos piados de pássaros. Campo Grande ainda dormia, ou não tinha coragem de levantar da cama numa manhã preguiçosa de domingo. O sol se erguia, infiltrando-se entre as árvores que ainda predominam na Zona Oeste, atirando uma luz amarela e morna na parede mal pintada da birosca. A medida que o relógio se aproxima das sete horas, tudo muda. Gente falante e colorida começa a chegar na praça. Eles se cumprimentam e são uns 20, 30, 40... Até que ultrapassam 50!

- Eles são mais de 50 e são corredores - pensou o homem ao abrir a padaria.

- Caramba!... Tem mais de 50 pessoas aqui! - pensei eu observando o movimento.

Até então, é provável que nenhum dos presentes tivesse participado de um treinão com tantas pessoas. Começava ali, na manhã de 06 de janeiro de 2013, o que eu chamo de A Explosão dos Treinões Cariocas.


Vídeo do Treinão Mendanha 2013

Da Despedida de Adriano aos Megas-Treinões

O histórico Treinão do Mendanha 2013 mostrou que já era possível juntar muitos corredores num evento feito por eles próprios. Sérgio Pessoa utilizou muito bem o Facebook e abriu caminho para outros grandes treinos que seguiram. Paradoxalmente, um fato triste acabou contribuindo para agregar pessoas e fazer crescer os treinões: O corredor Adriano Molinaro faleceu na semana seguinte, deixando todos consternados. Ainda no enterro, o corredor Flavio Loureiro reuniu os amigos de Adriano e marcou um treino em sua homenagem. O evento foi realizado na Avenida Atlântica, com mais de 100 corredores uniformizados. Depois disso, Flavio tomou gosto por realizar treinões, conseguiu patrocínios e fez sorteios. Fundou o grupo Viciados em Corrida de Rua e chegou a colocar mais 220 pessoas para correrem na Quinta da Boa Vista. Realizou vários eventos para 100, 150, 180 corredores, como descrito na postagem: O Rei dos Treinões Cariocas. E por último, surgiu uma rainha - a corredora Claudia Gama Strogoff promovendo outros megas-treinões.

Pode-se dizer hoje que o cenário da Corrida de Rua mudou graças aos treinões, a começar pelo histórico Mendanha 2013.

Corredoras se hidratam em fonte natural... (foto de Moraes Runners, no Facebook)

É Nesse Domingo!

Neste domingo, 04 de maio de 2014, é bem provável que o Largo do Mendanha esteja de novo preguiçoso e vazio até a chegada daquela gente disposta e colorida, denominada Corredores de Rua e eu quero estar ali no meio da massa - até o momento desta postagem eram 175 corredores confirmados no Facebook...

Que a frase do Sérgio Pessoa se repita em nossas bocas e Torres do Mendanha 2014 seja "O maior treinão de nossas vidas!"

Links relacionados a esta postagem:
"Primeiro do Ano" - Postagem sobre o Treinão Histórico do Mendanha de 2013;
"O Último Treino de Adriano" - Postagem abordando ter sido, esse treinão, a despedida do amigo;
"A Explosão dos Treinões" - Postagem sobre o crescimento dos treinões a partir do Mendanha;
"O Rei dos Treinões Cariocas" - Postagem sobre o crescimento dos treinões e Flavio Loureiro;
"Treinão Torres do Mendanha 2014" - Link para o evento no facebook.

(Siga o blog aee!)

Abraços!
Bira.