Eu Faço o meu Tempo!
Amigos!
Quando acordei de manhã, eu ainda tinha 54 anos e uma dor de garganta muito chatinha, que prometia se agravar durante o dia. Apliquei spray de própolis nas amídalas e decidi sair para correr. Quando calcei o tênis, a atitude fez minha idade cair de imediato para 48, a mesma do período que eu decidi voltar a correr.
Fora de casa deparei com um céu sem manchas e uma avenida engarrafada onde as pessoas não tinham escolha, a não ser me ver passar. Não dava para correr rente ao meio-fio e eu me equilibrei pela calçada irregular. Atrás dos óculos escuros escondi o orgulho de quem corre. Embriagada de suor, minha camiseta se agarrou ao corpo. Imitando o suor, minha idade também se esvaiu: decresci em minutos para uns 38 anos(!), ganhei mais disposição e segui em frente...
Manhãs comuns têm gente chegando apressada na estação do metrô, tem apito de guarda no cruzamento, avisando que o sinal mudou de cor, e têm sombras compridas bailando no chão. Volta e meia pode até passar um corredor como eu - eles não são muito frequentes no subúrbio, mas passam... Aumentei meu ritmo depois de cruzar a esquina. Na farmácia, uma moça que cheirava sabonetes interrompeu o gesto quando percebeu meu vulto do lado de fora. Apareci e sumi em frações de segundo, deixando uma imagem difusa a ser preenchida com a imaginação. E a moça imaginou que eu tivesse uns 25 anos, mas não estava de todo errada: Era assim que eu me sentia àquela altura.
Se a cada trecho eu ficava mais jovem não era o corpo que mudava. Eu possuía os mesmos parcos cabelos grisalhos e o mesmo rosto cada vez mais demarcado. A mudança era interna, instantânea e inexplicável. A mudança também era única porque dependia do contexto momentâneo: engarrafamento, apito do guarda, moça da farmácia, etc... Peças aleatórias que podem surgir enquanto se corre numa manhã comum. Não, não é contradição mostrar elementos externos para explicar "mudanças internas" ou "inexplicáveis". O fato é que não há limites para quem se movimenta.
Continuei meu trote pelo bairro até que subi uma passarela para cruzar a Avenida Brasil. Já do outro lado, vi alunos concentrados em frente ao portão de uma escola, esperando a sirene tocar. Dois deles se aproximaram para brincar de correr ao meu lado. Aceitei a proposta e, por cerca de 50 metros, brinquei de correr com a dupla que aparentava ter uns 14 anos, cada. Assumi essa mesma idade até a próxima esquina e me despedi dos garotos com tapinhas de mãos. Segui migrando no bairro e no meu próprio tempo até o treino acabar - se é que esses treinos acabam...
Fui trabalhar sem dar conta de que a garganta havia parado de doer. Perceber que eu faço meu tempo era bem mais importante que isso!
Abraços!
Bira.
Que lindo, também me sinto assim quando vou para os meus treinos.Show, adore.
ResponderExcluirVocê é um poeta Bira, parabéns pelo belo treino e por mostrar todas essas nuances que passam desapercebidas por nós corredores. Vida longa amigo!!!
ResponderExcluirDionisio Silvestre
http://correrpurapaixao.blogspot.com.br
Até eu rejuvenesci lendo seu texto! Fantástico!
ResponderExcluirBons treinos Bira!
Drica Peixoto
http://correndonaviagem.blogspot.com
uma bela história de vida e uma lição para muitas pessoas jovens. Continue assim bira.
ResponderExcluirMuito obrigado pela participação, Dionísio, Drica, José Roberto e "Anônimo"... Seus comentários são grande incentivo às minhas postagens!
ResponderExcluirEsse mundo dos corredores, o qual pertenço, hora fico a perguntar? Qual limite para tal.Em 2013 capengava em cima de uma esteira e uma bike estacionária. No ano do meu infarto 2011 que me rendeu três pontes de safena sem pedágio Kkkk e falavam vc tem que correr. Como? segura a frequência como?e hoje estou com uma sobrevida de 10anos, não é fácil, mas tô por aí 🏃🏿♂️🏃🏿♂️🏃🏿♂️🏃🏿♂️🏃🏿♂️
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