Um Km de Cada Vez na Maratona do Rio

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Na altura do KM 25, em São Conrado, eu ainda corria no ritmo de 5x1 - na foto de Gleice Medeiros (editada).

Um Km de Cada Vez na Maratona do Rio

Amigos!

De repente, a minha coxa enrijeceu e recebeu uma fisgada. Comecei a mancar e proferir palavrões, em pleno quilômetro 30 da Maratona do Rio. Nem quis saber da plateia que animava os corredores e também me aplaudia. Não tive a mesma elegância que tem o Leblon, bairro onde eu pisava. Espumei de raiva, feito as ondas do mar do Posto 12. Desferi socos de revolta no ar:

-- Isso não vai acabar assim!!... - dramatizei.

Fiquei atônito, interrompi a corrida e caminhei por poucos metros. Tentei colocar os pensamentos em ordem, quando deparei com um ponto de hidratação. Automaticamente, peguei um punhado de gelo e esfreguei na dor. Logo, percebi que aquele gesto era inócuo e, num impulso, voltei a correr. Porém corri devagar, torcendo para a coxa se estabilizar e não falir de vez (quem sabe?)... Naquele momento eu dava um passo de cada vez, e assim fui conseguindo. Depois tentei me desligar do problema. Ainda faltavam 12 quilômetros para a chegada, no Aterro, mas eu nem queria pensar nisso também...

Cinco Horas Antes...

O alarme irritante do celular anunciou que eram quatro da manhã. Despertei, e o meu frisson não deu vez à rotineira preguiça matinal. De imediato, pensei nos milhares de corredores que também acordavam, naquele momento, sentindo o mesmo frisson pré-maratona. Só que tinha um problema: eu estava em Irajá, muito longe da largada e sem nenhuma carona prevista. Tratei de me arrumar, enquanto toda família dormia na segurança do lar. Do lado de fora perdurava o medo das ruas escuras, desertas e frias, enquanto o sol não nascesse. Esperei dar cinco horas para encarar esses fantasmas até a estação do BRT.

Largada da Prova sem Ver Meus Amigos...

Cheguei no Pontal às 7:10 h e não tive tempo de encontrar meus amigos. Pouco depois, entrei no corredor de largada sem estar seguro de que eu sequer concluiria a prova. É que tive problemas e, nas últimas semanas, treinei muito pouco. Perdi confiança e condicionamento. Foi culpa da fascite plantar que me contra atacou, acompanhada de outra dor misteriosa nos pés, ainda presente. Até então, eu pensava fazer a prova em 3:30 h e treinava para isso. Depois fiquei sem planos, mas iria correr o quanto desse, do jeito que desse.

Um Km de Cada Vez...

Na largada, milhares de cabeças projetavam milhares de estratégias... Para me animar, eu recorri a um velho bordão de auto-ajuda que adaptei:

-- Vai ser um quilômetro de cada vez... - pensei.

O aglomerado de gente levou três quilômetros para começar a se dispersar. A partir dali, acelerei naturalmente, sem forçar. O aplicativo de corrida, do celular, começou a anunciar paces abaixo de 5 x 1 (cinco minutos por quilômetro). Foi assim que cheguei à metade da prova, na Praia do Pepê, com 1h 44 min. Até ali, apenas meus fones de ouvido sem fio perderam a carga, eu não. Para trás ficaram o Recreio, a Reserva e toda Barra.

Mas eu sabia que não seria tão fácil. As primeiras caretas de cansaço estamparam minha face na Praia de São Conrado. Um pedaço de rapadura que ganhei, no começo da Avenida Niemeyer, devolveu minha energia. A Perda de ritmo, naquela subida, era natural. Mas quando eu comecei a descer, segurei o ritmo para me poupar. Os quilômetros trinta se aproximavam feito um garçom trazendo a conta depois de um banquete e eu delirei:

-- Vou ter que passar o cartão de crédito... Não tenho cash para bancar essa conta!

Eu estava mais ofegante quando cheguei ao Leblon, mas ia bem. Reprogramei o ritmo, do restante da corrida, para 5:20 minutos por km. Se obtivesse sucesso eu poderia completar a prova em 3:40 h... Foi naquele momento que eu senti a fisgada.

Faltando apenas um quilômetro para a chegada, no Aterro - arquivo pessoal editado.

Corrida Bipolar...

A lembrança de um amigo corredor dizendo que "a maratona só começa depois do km 30" me fez pensar:

-- Se é assim, eu já estou começando esta prova lesionado... Será que completo??

Iniciei uma corrida bipolar: Quando a mente fraquejava eu sentia dores nos pés, quando o otimismo perdurava, eu percebia a melhora da coxa e que daria para completar. Em Ipanema, recorri ao primeiro sachê de carboidrato com cafeína. Sorvi outro sachê em Copacabana, quando tive a certeza de concluir a prova. Mantive um trote de a 6x1 para evitar surpresas desagradáveis. Cruzei os túneis e avistei o Pão de Açúcar. Imaginei o pórtico de chegada me esperando, bem como a cama do meu quarto:

-- O ideal seria que ao cruzar o pórtico eu ressurgisse na cama, de onde me levantei às quatro. Algo assim como o transporter de Jornada nas Estrelas!... - pensei isso, com a careca afeta pelo sol.

Mas quando eu cheguei no retão de chegada, esqueci do cansaço. Acelerei em meio à plateia e comecei a vibrar. Esqueci de todas as dores, de todas as dúvidas e das expectativas frustradas. Levantei os braços vibrantes e nem conferi meu tempo de prova. Fiz aviãozinho, mostrei os bíceps e ergui o punho direito. Alguém gritou meu nome e eu sorri atirando beijinhos de pop star.

Ao me aproximar do pórtico, meus olhos não definiam as formas, apenas as cores. Por fim, eles esqueceram de chorar... Desta vez, não derramei nenhuma lágrima além do suor... Cruzei a linha de chegada e, por fim, quebrei! Quebrei na hora certa!

Abraços!

Bira.
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